Mesmo que o nível do Rio Ibirapuitã tenha baixado apenas dois metros em três dias e continue 11,6 metros acima do normal, alguns corajosos decidiram voltar para casa em Alegrete, na Fronteira Oeste. É o caso de Guilherme Grierson, cozinheiro industrial que saiu há cinco dias da residência, ante o avanço rápido das águas ribeirinhas. Ele trabalha com vianda e a primeira coisa que retirou foi o fogão industrial e as panelas. Entre as coisas que deixou para trás estão sofás, uma cozinha nova e mesas.
— Na terceira viagem para levar mobília eu já não consegui mais entrar na casa, a água subiu um metro — recorda.
Nesta segunda-feira (14), ainda havia um palmo de água na casa, no Centro, mas ele e a família voltaram. Confiam na baixa do rio. Ainda não sabem, porém, quando voltarão a trabalhar.
A água encontra o barco
Paulo Bica, o dono do restaurante Rei do Pastel, mal acreditou quando viu a foto do seu prédio, em formato de navio, na capa de Zero Hora desta segunda-feira (14). A escolha pela fotografia se deu porque o edifício, em Alegrete, ficou isolado e inundado pelas águas do rio Ibirapuitã — uma amarga ironia em relação à enchente que desabrigou quase 5 mil habitantes da cidade.
Um deles foi o próprio Bica, que reside no prédio e teve de empilhar tudo no andar de cima, inclusive camas e roupas, para fugir do rio, embora ficasse à mercê da chuva. Ex-vendedor de lanches, ele agora emprega seis pessoas no negócio, aberto há três anos. A ideia do navio é prosaica: é que o terreno que encontrou tinha formato de navio.
— Como fica no bairro dos Aguateiros, um antigo porto de canoas, ficou ainda mais apropriado. Enchente ocorre seguido, mas essa é a primeira vez que tive de fechar o estabelecimento — relata.