Moradores estão acampados em plena rua Albino Rodrigues Severo, no bairro Promorar, em Alegrete, na Fronteira Oeste. Com a casa tomada pelas águas do rio Ibirapuitã, na maior enchente registrada pelo município desde 1959, eles até poderiam ter optado por abrigo público como refúgio. Desistiram, por medo de saqueadores. Montaram uma barraca no calçamento e ficam ali, em cadeiras de dia e deitados à noite, à espera que as águas baixem e possam rever a residência.
– Cozinhamos com vizinhos e usamos os banheiros deles – conta a dona de casa Gislaine Silveira.
O sol até voltou a brilhar durante o fim de semana em toda a Fronteira Oeste, mas ninguém se engana. A perspectiva é de retorno da chuva a qualquer momento. E assim foi: no começo da noite de domingo (13), precipitações voltaram a castigar o município.
Basta circular pelas ruas de Alegrete, a cidade mais afetada no Estado, para perceber que os alagamentos persistem. O número de pessoas fora de casa aumentou: só no município, passou de 2,4 mil no sábado para 4,3 mil neste domingo (13). Isso aconteceu embora o nível do rio Ibirapuitã tenha baixado, de 15m70cm acima do normal para 12m80cm.
Outro fator para o aumento de pessoas fora de casa é que, apesar da trégua na chuva no fim de semana, muitas vítimas da enxurrada só apareceram agora para se cadastrar no setor da prefeitura que contabiliza os prejuízos, explica o prefeito Márcio Amaral (MDB). Quando as equipes da Defesa Civil que estavam no Interior retornaram com novos dados, o número de atingidos subiu.
Amaral calcula em R$ 30 milhões as perdas na infraestrutura, sobretudo em ruas cujo calçamento levantou pela força das águas, calçadas danificadas e prédios públicos inundados.
No setor privado ainda não há estimativa prevista, mas há pessimismo quanto à pecuária, atividade principal do município. É possível que milhares de cabeças de gado tenham morrido em decorrência das cheias. Um prejuízo já constatado é com o leite, porque os criadores não conseguiram ordenhar vacas que ficaram isoladas, nem escoar a produção, pelo bloqueio de estradas.
O prefeito solicitou ao governador do Estado, Eduardo Leite, R$ 10,5 milhões, imediatos, para ajuda no setor de saúde. Leite já assegurou o repasse de R$ 500 mil em horas/máquinas para reconstrução de estradas e bueiros e, também, o envio de kits de ajuda humanitária para 500 famílias (cerca de 2 mil pessoas).