Oitenta e oito estudantes do Ensino Fundamental de Rosário do Sul, na Fronteira Oeste, vão atrasar a conclusão do ano letivo de 2018. Isso porque o acesso à escola Alice Pando, na localidade de Caverazinho, distante cerca de 60 quilômetros da área urbana, está sem estrada de acesso devido à enchente que assola a região.
Segundo a secretária municipal de educação, Liege Goreti de Mattos Palma, as pontes que permitem que os veículos do transporte público cheguem ao distrito estão intransitáveis:
— A professora foi dar aula, mas nenhum aluno que dependia do transporte conseguiu chegar.
A saída foi delegar atividades à distância referentes ao cinco dias restantes para concluir o cronograma. Antes de iniciar o ano letivo de 2019, serão feitas ainda atividades complementares, segundo a docente. Há o temor, inclusive, de atrasar o calendário escolar deste ano, caso as estradas não sejam recuperadas a tempo.
Mais de 400 desalojados
Além de afetar o calendário escolar, as cheias que afetam o município também comprometem a economia. Enquanto os rios Ibicuí e Santa Maria não retornam aos seus níveis normais, os agricultores seguem com a angústia de não saber o que poderá ser colhido. Laudo emitido pela Emater e apresentado à prefeitura de Rosário do Sul na sexta-feira aponta que 25% da produção de arroz está comprometida. Na soja, o descarte pode alcançar 45%, alcançando prejuízo de R$ 86 milhões.
Dados da Defesa Civil, atualizados no final da tarde de sexta-feira, revelam que há 479 desalojados (em casas de amigos e parentes) e 168 desabrigados (levados a ginásios e abrigos públicos) no município.
Essas famílias estão alojadas no ginásio da Escola Municipal de Ensino Fundamental Oliveiro Thaddeo. A maioria mora no bairro Carmelo, um dos mais próximos do rio Santa Maria.
A prefeita de Rosário do Sul, Zilase Rossignollo, afirma que parte dos moradores não querem deixar a vila porque dependem da exploração da areia, predominante no entorno das casas.
— A gente já tentou tirá-los de lá, mas é o sustento deles. Não tem o que fazer. Perdem tudo, mas voltam, até porque isso é herança de seus avôs — relata a prefeita.
É o caso de Jéssica Guedes Teixeira. Com 26 anos e quatro filhos, relata que cresceu no Carmelo e não pensa em ir para a área urbana:
— Lá é mais seguro, as crianças podem ficar na rua até tarde. Na cidade, é mais perigoso, e a gente não tem estudo, não tem trabalho aqui (na área urbana).
A dona de casa conta que não conseguiu ainda ver a condição da casa, e apenas o marido tem ido frequentemente, atravessando de barco, para cuidar dos pertences que não foram descartados.
No ginásio da escola, mantido por doações e por voluntários, trabalham mais de 40 pessoas. São merendeiras, seguranças, assistentes sociais e servidores da saúde.
— Vim para cá com meu marido e meus oito filhos. Uma das minhas gurias tem outros quatro. A outra, grávida do terceiro, ficou cuidando da casa — conta a aposentada Eva Maria Teixeira de Oliveira, 52 anos.
No bairro Progresso, outro local ribeirinho, moradores precisam buscar abrigo em parentes. Caso de William Dorneles, 24 anos, que teve de abandonar a residência e pedir ajuda para a sogra, deixando praticamente todos os móveis para trás. Ele está fora de casa há uma semana. Segundo ele, que mora no local há sete anos, o drama se repete todos os verões.
— Quero vender, não sabia o que era alagamento antes de vir morar aqui. Acho que só vou conseguir voltar no domingo — planeja, desolado.
Previsão de mais chuva na Fronteira Oeste
Assim como em Rosário do Sul, outros moradores tiveram de deixar suas casas no Estado. O número segue subindo e chegou a 7.379 — na parte da manhã, era de 6.717 —, conforme o balanço divulgado pela Defesa Civil estadual no final da tarde desta sexta-feira. São 1.633 desabrigados e outros 5.746 desalojados. Além disso, há o registro de outras 1.883 pessoas que tiveram algum tipo de dano nas residências por causa do mau tempo.
A situação mais problemática continua sendo em Alegrete, onde 6.094 pessoas estão fora de casa por causa do transbordamento do rio Ibirapuitã, cujo nível está em 11m50cm _ o limite é de 10m80cm.
Conforme a Defesa Civil estadual, o nível dos rios na Fronteira Oeste segue subindo, e a previsão do tempo indica a continuidade da chuva na região, embora mais fraca, ao longo do final de semana. Desde 9 de janeiro, quando a chuva começou a atingir o Estado com mais intensidade, 16 municípios já decretaram situação de emergência.
Nível dos rios
Números referentes à ultima medição de sexta-feira
Rio Ibirapuitã (Alegrete)
- 11m50cm acima do nível normal
- Cota de inundação: 8m54cm
Rio Vacacaí (São Gabriel)
- 3m75cm acima do nível normal
- Cota de inundação: 5m25cm
Rio Santa Maria (Dom Pedrito)
- 5m25cm acima do nível normal
- Nível de inundação: 5m20cm
Fonte: Defesa Civil dos municípios