Uma das cidades com maior número de moradores fora de casa, Rosário do Sul, na Fronteira Oeste, segue em alerta. Por causa das incessantes chuvas - só na madrugada desta sexta-feira (18), foram mais de 150 milímetros de precipitação - até a Praia das Areias Brancas, banhada pelo Rio Santa Maria, desapareceu embaixo d'água. Nenhuma faixa de areia é vista desde que o mau tempo começou a castigar a cidade.
O impacto dos alagamentos é sentido por moradores e por quem vive do comércio no balneário. Ao lado do calçadão – por ora tapado pela água -, o Bar da Susi não deve reabrir nos próximos meses. É do estabelecimento comercial, que Susana Borges, 58 anos, tira o sustento.
Com garrafas submersas, estantes encharcadas, sofás empilhados e o que sobrou de uma mesa de sinuca, a empresária conta que não tem condições de reformar e reabrir o bar:
— Perdi metade das coisas — lamenta.
Durante o verão, Susi costuma alugar o bar. Para o mês de janeiro, o espaço foi locado por R$ 600. Mas devido às chuvas, a cliente já devolveu as chaves. Outro contrato seria assinado para fevereiro, mas foi cancelado.
— Eu alugo (o bar) para visitar meus filhos, que moram em São Lourenço e em Pelotas (no sul do Estado). Passo o verão com eles e, no resto do ano, abro o bar para ter o meu dinheirinho – conta.
No imóvel, Susi trabalha e mora. O espaço é dividido em duas partes: a da frente é onde funciona o comércio e, nos fundos, é onde Susi vive. Moradora há mais de 40 anos da esquina das ruas Barão do Cerro Largo com a Andradas, ela afirma que nunca havia tido tanto prejuízo.
O que não está coberto pela água é protegido por uma lona, em um pedaço de terra em uma parte mais alta. Além dos dois cachorros, ela afirma que um amigo dorme no local para que nada seja furtado.
Acampamento inundado
A força com que as águas do Rio Santa Maria subiu também surpreendeu um grupo que acampava nas areias brancas. Entre brasileiros, uruguaios e argentinos, eles pretendiam – e ainda afirmam que vão ficar – deixar o local apenas em março. No entanto, quando a água invadiu a cabana e também a faixa de areia, eles entraram em uma casa de dois andares, abandonada em frente a praia.
— A gente acampou no Réveillon para passar o verão, mas quando veio a água juntamos as crianças e subimos o muro da casa — relata Júlio Pereira Santos, 20 anos.
Natural de Alegrete, ele se diz assustado com as enchentes. Segundo Santos, na quinta-feira (17), o filho do dono do prédio foi ao local e disse que o espaço estava liberado, desde que eles não causassem qualquer prejuízo na estrutura.
Janaína Pereira dos Santos, 29 anos, está com os três filhos no casarão. Ela reclama da falta de energia elétrica no espaço e também da falta de ajuda. Segundo ela, a Defesa Civil não encaminhou alimentos à região.
A prefeita Zilase Rossignollo afirma que o impacto financeiro dos prejuízos não atinge apenas a parte turística do bairro:
— Vamos ter um grande impacto na arrecadação da cidade, com certeza.
Risco de enchente
Segundo o coordenador municipal da Defesa Civil, Iran Najar, o que mais preocupa, no momento, é que, as águas da chuva, que não dá trégua, alimentam o rio Ibicuí, podendo provocar inundações.
— Toda essa água vai descer para cá e vai nos atrapalhar. O (Rio) Ibicuí e o(Rio) Santa Maria estão próximos dos sete metros. Acima de 7,5 metros, ele atinge o nível máximo de alerta, invadindo residências, e aí temos que remover mais famílias – explica.
O relatório da Defesa Civil aponta para 200 pessoas fora de casa no município, mas o coordenador municipal acredita que esse número já tenha chegado a 600 entre desalojados - que estão em residências de familiares e amigos - e desabrigados, que estão vivendo no ginásio da Escola Municipal Oliveiro Tadeu.
No interior da cidade, a ponte sobre o Rio Ibicuí, que chegou a ser interditada na última semana, corre, novamente, risco de ser invadida pelas águas. Se isso acontecer, moradores de localidades como Campo Seco e Saicã podem ficar isolados - já que a passagem é a única ligação da região com o resto da cidade.