O aguaceiro que atingiu o Rio Grande do Sul nas últimas semanas causou mortes, estragos em estruturas, tirou pessoas de casa e deve causar prejuízo na agricultura. A estimativa de perdas causadas por alagamentos em plantações é de pelo menos R$ 651 milhões, conforme levantamento da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater).
Esse montante é o resultado da previsão de danos em 50,3 mil hectares de arroz (R$ 341 milhões) e em 240 mil hectares de soja (R$ 310 milhões). O prejuízo no Estado tende a aumentar somando esse montante a danos casados em infraestrutura urbana, por exemplo. A Defesa Civil segue levantando esses dados junto aos municípios.
A Fronteira Oeste, que abriga boa parte dos municípios produtores de arroz do Estado, é a região mais afetada por perdas nessa cultura. O relatório aponta que 32.443 hectares foram alagados nessa área.
Os dados foram levantados até o dia 19 de janeiro. O secretário estadual da Agricultura, Covatti Filho, destacou que essa estimativa pode sofrer alterações com o recuo da água nas plantações.
— Vou dar um exemplo. A água levantou. Se ela não estiver corrente, quando ela baixar, se a planta do arroz estiver de pé ainda, ele pode ser colhido. Então, pode aumentar ou diminuir essa estimativa.
A falta de luminosidade em lavouras que não aparentam perdas atualmente em razão do alagamento também podem influenciar no aumento da perda, segundo o relatório da Emater. No caso da soja, o solo encharcado em razão do grande volume de chuva em pequeno espaço de tempo também pode engrossar o prejuízo.
O secretário informou que pediu para a Emater um maior detalhamento desses dados para ver o impacto do volume excessivo de chuva em outras culturas, como a fruticultura. Covatti Filho afirmou que, nesse primeiro momento, a Secretaria da Agricultura presta auxílio aos municípios, como o envio de maquinário pesado para ajudar nos trabalhos de desobstrução, mas que a ajuda maior tem de vir de Brasília. No entendimento dele, a visita da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, ao Estado nessa semana pode auxiliar no pleito por ajuda da União.
— Você olhando com seus olhos acaba tendo mais uma defesa. Ela vai ver in loco o desespero. Nós estamos amarrando com os produtores para demonstrar e falar dessa perda em números reais. Por isso, estou pedindo esse estudo mais criterioso para a Emater. A ministra já está consciente, porque os prefeitos foram lá pedir auxílio.
913 pessoas seguem fora de casa
Mesmo com a estiagem dos últimos dois dias, pelo menos 913 pessoas seguiam fora de casa até as 17h desta terça-feira (22) — 402 desabrigadas (transferidos para abrigos públicos) e 511 desalojados (estão em casa de amigos ou parentes). No Estado, 27 municípios foram afetados pela chuvarada.
Dezoito municípios decretaram situação de emergência no Estado. Desses, sete tiveram o pedido homologado pelo Piratini — Alegrete, São Gabriel, Uruguaiana, Quaraí, Rosário do Sul, na Fronteira Oeste, São Francisco de Assis, na Serra, e Dom Pedrito, na Campanha.
Essa é uma primeira etapa vencida na busca por recursos, garantindo repasse de auxílio por parte do governo do Estado. As prefeituras precisam levantar documentos e laudos para garantir reconhecimento por parte do governo federal. O aval da União garante apoio mais robusto, como compras com dispensa de licitação, acesso dos moradores aos valores do FGTS e recursos para obras.
O coordenador da Defesa Civil no Estado, coronel Julio Cesar Rocha Lopes, disse que a Defesa Civil continua trabalhando nas regiões afetadas. O coronel destacou que o órgão concentra seus esforços em uma segunda etapa, onde a Defesa Civil atua como um intermediador junto à União na obtenção de recursos.
— O nosso papel agora é de ser um facilitador, um fomentador desse processo. Do que os municípios vão precisar para relatórios, nós vamos ajudar na revisão, na construção desses relatórios, desses projetos e desses laudos.
Corpo a corpo em Brasília
Prefeitos de municípios afetados pelo mau tempo foram até Brasília nesta terça-feira intensificar o corpo a corpo junto ao Executivo nacional na busca por apoio no combate aos estragos. O governo federal prometeu o repasse de R$ 24 milhões para obras em infraestrutura, como a recuperação de estradas e pontes. O valor final será definido na reunião desta quarta-feira (23), quando o ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, discutirá o tema e decidirá de qual área sairá os recursos. O valor será dividido proporcionalmente aos danos de cada cidade.
O prefeito de Alegrete, Márcio Amaral (MDB), um dos munícios mais afetados pelo mau tempo, esteve presente no encontro com os ministros em Brasília. Nesse primeiro momento, os chefes dos Executivos dos municípios e os ministros acertaram detalhes para tentar maior rapidez no processo de ajuda.
Amaral disse que a reunião foi importante e que a União mostrou disposição para ajudar o Rio Grande do Sul na reconstrução.
— Amanhã (quarta-feira), o ministro da Saúde também prometeu adiantar os repasses por três meses na área da saúde para auxiliar os municípios. Amanhã (quarta), às 9h, terá uma reunião de todos esses seis ministros para que eles possam bater o martelo no que eles podem ajudar os municípios — relatou.
O coordenador estadual da Defesa Civil também classificou o encontro com integrantes do primeiro escalão do governo de Jair Bolsonaro como positivo.
— Foram acertadas uma série de medidas, de relatórios que serão mandados. O governo federal vai agilizar de uma maneira ou outra para que os recursos possam chegar mais rápidos e de maneira pontual aos municípios que foram atingidos — disse Rocha Lopes.
Buscando recursos para enfrentar o rastro de destruição causado pela instabilidade, os municípios gaúchos também seguem monitorando a possibilidade da volta da chuva nesta quarta-feira. Conforme a Somar, na data, existe a possibilidade de pancadas de chuva rápidas e isoladas. A chance de grandes acumulados é pequena, mas por ser chuva de verão, existe potencial para temporal com ventania e até granizo no Noroeste e na Fronteira Oeste.