A chuva que atingiu o Estado nos últimos dias provocou a maior enchente dos últimos 60 anos na região de Alegrete, na Fronteira Oeste. Dados do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) confirmam o caráter histórico da inundação que tirou mais de 7 mil pessoas de casa, provocou perdas em lavouras e prejuízos de infraestrutura na Metade Sul: desde 1959 o Rio Ibirapuitã não alcançava um nível tão elevado como agora. A cheia é a segunda mais intensa já registrada desde que teve início o monitoramento no local, na década de 1940.
O Ibirapuitã chegou a 14m2cm em 12 de janeiro. Conforme levantamento do CPRM, a pedido de ZH, somente em 11 de abril de 1959 o rio atingiu a marca superior, com 14m45cm. Os números demonstram ainda que as inundações deste ano foram fortes, mas concentradas. Outros rios da Fronteira não apresentaram variação equivalente de volume.
– A enchente atingiu com mais força afluentes, mas não propriamente o Uruguai – observa o engenheiro hidrólogo do CPRM Adriano Schorr.
Esse rio alcançou 9m15cm na sexta-feira passada – número distante do recorde de 13m58cm anotado em julho de 1983. A marca não ficou nem entre as 10 mais altas já ocorridas no município de Uruguaiana. A extensão das inundações, embora seja significativa, também não figura entre as maiores vistas na história recente do Estado: em outubro de 2015, por exemplo, mais de cem municípios decretaram situação de emergência, e cerca de 147 mil pessoas foram afetadas de alguma forma pelas cheias – sofreram prejuízos ou precisaram sair de casa.
Isso não significa que os estragos provocados pelo mau tempo neste começo de ano sejam modestos. Os danos à agricultura e à infraestrutura já se aproximavam de R$ 400 milhões enquanto ainda começavam a ser contabilizados pelas prefeituras.
O Rio Ibicuí, em Manoel Viana, também apresentou aumento de volume significativo. Os registros do CPRM mostram que os 11m35cm verificados na sexta passada ficaram na 10ª colocação no ranking das enchentes na região. O recorde de 13m25cm foi contabilizado em 1992. O órgão, responsável pela instalação de um sistema de monitoramento na bacia do Rio Uruguai, além de outras por todo o país, informa que ainda não dispõe de dados enviados automaticamente referentes ao Rio Vacacaí, na região de São Gabriel – outra localidade atingida pelo aguaceiro. Assim, ainda não é possível enquadrar a cheia sofrida pelo município na escala histórica.
– Em Alegrete e São Gabriel, os relatos são de que a enchente foi a maior em muito tempo – afirma o coordenador da Defesa Civil na seção regional de Uruguaiana, major Rinaldo da Silva Castro.
A vice-prefeita de São Gabriel, Karen Lannes, estima que não houve inundação maior em pelo menos duas décadas. Ao menos mil pessoas foram atingidas.
– Recebemos 76 pedidos de geladeiras e 125 de armários de cozinha de famílias que tiveram suas casas alagadas. A água chegou a pontos onde normalmente não chegava – lamenta a vice-prefeita.