Dois funcionários do frigorífico Marinês Borges, de Taquara, no Vale do Paranhana, morreram após a explosão de uma caldeira na manhã desta segunda-feira (16). Conforme o Corpo de Bombeiros, a força do estouro fez com que os corpos das vítimas fossem arremessados a 25 e 50 metros da caldeira. Outros quatro funcionários ficaram com arranhões e escoriações.
O acidente ocorreu por volta das 7h30min, na sede da empresa, na Rua Armindo Eugênio Bohrer, no bairro Tucanos. As vítimas estariam colocando lenha no equipamento quando houve a explosão, em uma sala de material de aproximadamente 20 metros quadrados — que teria ficado destruída com o acidente. O Corpo de Bombeiros afirma que a caldeira era antiga e não teria suportado a pressão.
As vítimas foram identificadas como Alberto Stauss, 52 anos, e Roberto de Oliveira, 37 anos. Pouco antes das 9h, o Corpo de Bombeiros já havia deixado o local. Vizinhos do estabelecimento comercial relatam que a explosão teve grande poder de destruição.
— Me acordei com a cama tremendo. Primeiro, achei que era algum trovão, mas não teve barulho — conta Antônio Belizario, 62 anos, morador do bairro Mundo Novo, vizinho de onde fica o frigorífico.
Segundo ele, um vizinho teve uma parede rachada devido ao estremecimento da terra. Passado o susto, Belizario ficou sabendo da explosão e das mortes. Um das vítimas era conhecida sua:
— Eu via o Pit (Alberto Strauss) passando sempre de cavalo com as filhas. A gente sempre se cumprimentava, ele estava sempre alegre. Era gente fina.
A caldeira que explodiu era abastecida com lenha e usada para aquecer água utilizada no abate de gado.
— Se falta água ou manutenção, pode acontecer de explodir. Não é comum, mas é um equipamento que exige muito cuidado — afirma Valdir Paz, aposentado que trabalhou por anos com caldeira, e que compara o equipamento a uma panela de pressão.
— Uma panela de pressão de 3 litros, se explode, afunda o fogão, imagina uma caldeira que pode ter mais de 10 quilos de pressão. Destrói tudo em volta — compara Paz.
Como foi a explosão
Por volta de 7h30min, os cerca de 25 funcionários do frigorífico esperavam a fiscal responsável chegar para que pudessem entrar no local e iniciar o abate de gado. Espalhados pelo pátio, alguns estavam sentados nos canteiros enquanto outros se aproximavam do prédio.
Roberto de Oliveira, responsável pela caldeira, já estaria abastecendo o equipamento com lenha quando a estrutura de aço e ferro explodiu, arremessando longe tijolos e esquadrias de ferro que formavam a sala de proteção ao redor. Alberto Strauss estaria próximo do local e, assim como Oliveira, foi parar a cerca de 50 metros. Ambos morreram na hora.
Os demais funcionários permaneceram em frente ao frigorífico, do lado de fora do portão por força do isolamento da polícia, por horas após a explosão. Abalados e também receosos, poucos quiseram dar relatos. Um dos poucos que falou trabalha há nove anos no local e preferiu não dizer seu nome. Ele contou que estava sentado em uma mureta ao lado de um colega quando a caldeira de cerca de dois metros de diâmetro por cinco metros de altura foi aos ares:
— Foi um barulho tão alto, coisa que eu nunca tinha ouvido. Nós nos jogamos no chão na hora, apavorados, sem saber o que tinha acontecido. Ralei todo meu joelho, mas foi só isso, graças a Deus.
Outro colega também teve apenas escoriações e outros dois chegaram a ir para o hospital para fazer curativo — um foi atingido por uma pedra que voou com a explosão. Segundo os próprios funcionários, todos estão bem e já em casa.
— Não sei como vou voltar a trabalhar aqui. Dois colegas gente boa, que a gente via e conversava todo dia, morreram, simplesmente se foram bem aqui , na nossa frente — conta outro homem, que já havia trabalhado no frigorífico no passado e que, justamente nesta segunda-feira, havia ido até o local para entregar documentos para ser recontratado.
O frigorífico
O frigorífico Marinês Borges funcionava há cerca de 10 anos — antes pertencera à Embutidos Smaniotto, cuja sede fica próxima ao local. Segundo o advogado da proprietária, Jair Caletti, o estabelecimento tinha capacidade para 80 abates de bovinos por dia e abastecia o mercado regional.
Caletti foi ao local nesta manhã e disse que esperaria o resultado da perícia para dar mais detalhes. No entanto, adiantou que acredita que a causa da explosão foi externa, pois a documentação — como plano de prevenção e proteção contra incêndio (PPCI), alvará da prefeitura e licença concedida pelo Ministério da Agricultura — estava em dia.
— Pessoas que estavam aqui disseram ter ouvido dois estrondos, e estava caindo muito raio na hora. Imaginamos que isso possa ter provocado a explosão — afirmou o advogado.
Questionado sobre a data de fabricação da caldeira, após relatos de funcionários de que o equipamento era antigo, Caletti disse não saber, mas ressaltou que esse tipo de equipamento "não tem prazo de validade" e que todas as inspeções e manutenções exigidas foram feitas.
O delegado titular de Taquara, Ivair Matos Santos, já requisitou a documentação do frigorífico para checar se estava tudo dentro da lei. Instaurado o inquérito, o investigador vai apurar se houve algum tipo de negligência por parte da proprietária, se foi alguma causa externa ou, ainda, falha humana.