Familiares dos dois funcionários de um frigorífico mortos após a explosão de uma caldeira em Taquara, no Vale do Paranhana, acompanharam o trabalho da perícia no final da manhã desta segunda-feira (16). Alberto Strauss, 52 anos, e Roberto de Oliveira, 37 anos, abasteciam o equipamento com lenha quando a sala de 20 metros quadrados foi pelos ares, arremessando os dois a até 50 metros de distância.
Roberto de Oliveira trabalhava há cerca de meio ano no frigorífico Marinês Borges e era o responsável por monitorar a caldeira. Segundo o irmão da vítima, o industriário Itamar de Oliveira, 31 anos, até então Roberto nunca tinha trabalhado com isso.
— Ele nunca fez curso, nem nada. É como trabalhar de motorista e não ter carteira — reclama Itamar.
O industriário, que mora a cerca de dois quilômetros do frigorífico, relata que catava gravetos para o fogão a lenha, como faz toda manhã, quando ouviu a explosão.
— Me deu uma coisa ruim. Na hora pensei: foi meu irmão — lembra Itamar. Em seguida, um vizinho que também trabalhava no local bateria à sua porta para confirmar o pressentimento.
Além dos pais e dos três irmãos, Roberto deixa duas filhas, uma de oito e outra de 18 anos. Quase todos estavam reunidos no dia anterior para o tradicional churrasco de domingo e para assistir à final da Copa do Mundo na TV.
Alberto Strauss, conhecido somente como Pit em toda a região, era casado com uma tia de Itamar. Ainda conforme ele, a separação havia ocorrido há poucos dias. De outro casamento, ele deixa uma filha.
Pit trabalhava há mais de 30 anos no frigorífico. Segundo o sobrinho, os planos do tio eram de se aposentar em outubro deste ano.
— Ontem de noite (domingo) ele ainda foi na igreja. Eu estava com meu irmão, feliz da vida. E hoje a gente acorda com uma notícia dessas. Sem palavras — concluiu o industriário.
Explosão em frigorífico
O frigorífico Marinês Borges funcionava há cerca de 10 anos — antes pertencera à Embutidos Smaniotto, cuja sede fica próxima ao local. Segundo o advogado da proprietária, Jair Caletti, o estabelecimento tinha capacidade para 80 abates de bovinos por dia e abastecia o mercado regional.
Caletti foi ao local nesta manhã e disse que esperaria o resultado da perícia para dar mais detalhes. No entanto, adiantou que acredita que a causa da explosão foi externa, pois a documentação — como plano de prevenção e proteção contra incêndio (PPCI), alvará da prefeitura e licença concedida pelo Ministério da Agricultura — estava em dia.
— Pessoas que estavam aqui disseram ter ouvido dois estrondos, e estava caindo muito raio na hora. Imaginamos que isso possa ter provocado a explosão — afirmou o advogado.
Questionado sobre a data de fabricação da caldeira, após relatos de funcionários de que o equipamento era antigo, Caletti disse não saber, mas ressaltou que esse tipo de equipamento "não tem prazo de validade" e que todas as inspeções e manutenções exigidas foram feitas.
O delegado titular de Taquara, Ivair Matos Santos, já requisitou a documentação do frigorífico para checar se estava tudo dentro da lei. Instaurado o inquérito, o investigador vai apurar se houve algum tipo de negligência por parte da proprietária, se foi alguma causa externa ou, ainda, falha humana.
— Não tinha nenhuma denúncia contra o frigorífico e acredito que foi um acidente. A proprietária nos garantiu que foi feita inspeção há seis meses, que estava toda documentação em dia. Vamos analisar o que for entregue e apurar as causas com base no resultado da perícia — afirmou o delegado.
Requisitados por volta das 8h30min, os peritos do Instituto-Geral de Perícias (IGP) chegaram ao local às 11h40min. Somente após o fim do trabalho é que os corpos seriam removidos e levados para necropsia.