Pedaços inteiros de concreto da igreja da comunidade de Linha Macali I, em Ronda Alta, vieram abaixo na noite de segunda-feira (11) durante a tempestade que atingiu o Rio Grande do Sul. Intacto na parede, restou somente o quadro da Santa Ceia, como se Jesus e seus apóstolos mirassem incrédulos para o rastro de destruição diante dos olhos.
O cenário devastado da casa sacra reflete os efeitos do temporal em municípios do norte gaúcho. Devido à violência do vento, caminhões foram arremessados, animais acabaram mortos e silos ficaram destruídos. Além de Ronda Alta, Água Santa, Ciríaco e Coxilha também estão entre as cidades mais atingidas.
Moradores acreditam que um tornado tenha levado à devastação que varreu especialmente as áreas rurais das cidades. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), porém, ainda não há confirmação de que o fenômeno tenha sido registrado na região.
O prefeito de Coxilha, Ildo Orth (PP), diz que os prejuízos são incalculáveis.
— É um cenário de guerra — afirma Orth.
No município, o corredor de vento arrasou sobretudo a comunidade do Rio do Peixe, na área rural. Três caminhões que transitavam na RS-463 foram arremessados e tombaram na rodovia — um dos veículos chegou a ser arrastado cerca de 40 metros para dentro de uma lavoura, segundo o prefeito. O motorista precisou ser hospitalizado.
Às margens da estrada, o produtor rural Delcio Baseggio mantém duas propriedades. Depois do alerta de funcionários, encontrou os terrenos esfacelados.
— O cenário é de destruição. Não existe mais nada, está tudo no chão — lamenta Baseggio.
O vento ameaçou silos da propriedade e chegou a arrancar parte das superfícies. Galpões e armazéns também despedaçaram-se. Sob os destroços, restaram as colheitas de soja, trigo e feijão. A família do produtor administra as propriedades há 65 anos. Conforme Baseggio, nunca viu-se nada igual.
A sua vizinha, Marisete Artuso, concorda com o ineditismo do fenômeno. À produtora, funcionários descreveram que os golpes de vento chegaram de todos os lados, formaram um redemoinho e rapidamente levantaram as construções.
— Foi uma catástrofe da natureza — resume Marisete.
Em Água Santa, ao menos 10 aviários foram destruídos, causando a morte de 220 mil frangos. O prefeito da cidade, Jacir Miorando (MDB), ouviu relatos de galinhas vistas a 500 metros dos viveiros e terneiros "rodopiando" no céu. Árvores de grande porte também acabaram decepadas.
Já Ciríaco registrou uma das duas mortes causadas pela tempestade. De acordo com familiares, o vento forte derrubou a casa de madeira em que José Alves Nunes, conhecido como José de Arquiles, morava. O homem de 54 anos foi levado por parentes até o Hospital São José, em David Canabarro, mas não resistiu aos ferimentos.
— Ainda não temos a dimensão total do prejuízo, mas, com certeza, foi grande — resume o vice-prefeito de Ciríaco, Odacir Mello (PT).