Se o preço dos combustíveis é o principal item da pauta, isso não transparece de forma tão clara para quem passa por trechos tomados pelos caminhoneiros no Estado. Na segunda (28) e na terça-feira (29), GaúchaZH percorreu a RS-287, entre Tabaí e Santa Maria, e constatou que a maior parte das faixas e cartazes exibidos nos locais de concentração são de “malucos” que pedem intervenção militar, como já os descreveu o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas. Também há muitas faixas contra o presidente Michel Temer e ataques genéricos aos “corruptos”.
Na prática, não é só uma mobilização do setor de transporte. Em todos os pontos de concentração, rivalizam, em quantidade e destaque, tratores e colheitadeiras, em alguns casos com identificação de pertencerem a pessoas ligadas a sindicatos rurais. Nas imediações de Agudo, há uma barreira sem um único caminhão — apenas máquinas agrícolas.
Apesar de os piquetes se sucederem, não havia um único ponto de bloqueio, e o trânsito fluía com tranquilidade. Em alguns pontos, como no km 92, entre Venâncio Aires e Santa Cruz do Sul, os caminhoneiros colocaram pneus sobre a pista, mas permitiam o tráfego normal pelas laterais. Somente em Agudo a velocidade do fluxo se reduzia um pouco, nesta terça, para que manifestantes entregassem aos motoristas um folheto, com a orientação de que o divulgassem nas redes socais. O papel informava que a luta é por redução de impostos, redução de preço de combustíveis e eletricidade e melhores preços para produtos agrícolas. “Nós, produtores rurais e caminhoneiros de Agudo, agradecemos a sua compreensão”, dizia o panfleto.
Nos pontos de mobilização, caminhoneiros e produtores rurais dedicavam-se a tomar chimarrão e fazer churrascos. Algumas concentrações são bem estruturadas, até com freezer e banheiro químico. Em diferentes pontos, vê-se a presença de vários caminhões de uma mesma empresa. Em Novo Cabrais, nos dois dias, havia uma longa fila de carretas com identificação da Silvestrin. No Km 202, também era possível encontrar cinco veículos pesados da mesma companhia, mas não só. Havia também uma caminhonete com adesivo da empresa — o que indicava que a mobilização não era só dos profissionais da boleia.
Ao longo da segunda e da terça, GaúchaZH constatou presença de policiais apenas uma vez, em um dos locais de concentração. O pedido mais comum é o de intervenção militar. Em uma barreira de Agudo, onde havia forte presença de produtores rurais, um grupo abordou a equipe de GaúchaZH ansioso por informações sobre a chegada de um suposto pelotão do Exército. Eles acreditavam que a intervenção militar estava para começar.
— Só eles podem nos salvar — disse um manifestante que vestia camisa polo da grife Tommy Hilfiger e defendia que Lula é o homem mais rico do mundo, graças à "roubalheira"