Com dois anos de atraso, a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) entregou, no fim de abril, a maior obra de sua história: o novo trevo de acesso a Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, composto por um viaduto e 4,2 quilômetros de pistas duplicadas na RS-287. Antiga reivindicação do município, a melhoria foi saudada pela comunidade, mas não aplacou as críticas à estatal.
Embora a estrutura tenha resolvido os congestionamentos diários no local, moradores e líderes empresariais reclamam da demora na conclusão dos trabalhos e das condições da via, que apresenta problemas estruturais e precisa de recuperação total. Outro ponto de divergência é a necessidade de duplicação. Como a EGR não tem recursos para tudo, parte do município defende a volta da concessão privada.
– A RS-287 é um gargalo ao desenvolvimento da região. Daqui a cinco ou dez anos, vai estar abarrotada, e sabemos que a duplicação não vai acontecer com a EGR. Defendemos a concessão, mas não como foi feita no passado. Queremos uma concessão com o compromisso de fazer as obras necessárias, a um custo compatível – diz Flávio Haas, presidente da Associação Santa Cruz Novos Rumos e vice-presidente regional da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs).
Ciente do problema, Nunes estima que seriam necessários cerca de R$ 650 milhões para duplicar e restaurar a estrada entre o entroncamento com a BR-386 e Paraíso do Sul, na Região Central. A soma supera em quase 15 vezes o valor arrecadado em 2017 nas praças instaladas no trecho, em Candelária e Venâncio Aires.
– Compreendemos os anseios da região, mas não podemos assumir obras sem recursos suficientes. Estamos fazendo o que é possível – afirma Nunes.
A par das limitações da EGR, representantes da comunidade passaram a pressionar o governo do Estado para que inserisse a RS-287 no novo plano de concessões de rodovias, em fase de elaboração. A ação deu resultado.
– Ficamos satisfeitos. Vamos acompanhar de perto para garantir que o plano seja o melhor possível. Se for para ter investimentos, acredito que as pessoas não se importam de pagar um pouco mais. O que não dá é para continuar tudo como está. A estrada está muito ruim – ressalta Lucas Rubinger, presidente da Associação Comercial e Industrial (ACI) de Santa Cruz e vice-presidente regional da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul).
Segundo o secretário estadual de Transportes, Humberto Brandão Canuso, os estudos necessários à conclusão do plano — que inclui RS-287, RS-324 e RS-020 — estão prontos. Os detalhes são mantidos em sigilo, porque ainda estão em avaliação. Não há data prevista para a conclusão do programa.
– Estamos analisando o aspecto econômico final. Além disso, tem a parte dos estudos jurídicos, que está em andamento. Acredito que o plano possa sair até o fim do ano. Não vejo outra saída para essas rodovias. Ou o governo concede ou concede – diz Canuso.
Principais obras concluídas pela EGR em cinco anos de atuação
Travessia urbana em Santa Cruz
Construção de viaduto e duplicação de 4,2 quilômetros no trevo da cidade, na RS-287, começou em 2015 e foi concluída em maio deste ano.
Custo total: R$ 27,5 milhões
Recuperação da RS-115
Dois trechos entre Gramado e Três Coroas foram reconstruídos após rompimentos causados por temporal, em 2015. A recuperação foi finalizada em maio de 2016.
Custo total: R$ 14 milhões
Restauração em ponte sobre o Rio Caí
Em Bom Princípio (RS-122), a ponte foi recuperada em 2015, após quase dois anos de interdição.
Custo total: R$ 3,5 milhões
Ponte em Candelária
Obra emergencial de construção de travessia na RS-287, entre os municípios de Candelária e Novo Cabrais, foi inaugurada no ano passado.
Custo total: R$ 706 mil
Ciclovia em Rolante
Com 3,6 quilômetros, a via para ciclistas foi construída em 2015, na RS-239, e bancada com recursos do pedágio de Campo Bom.
Custo total: R$ 1,8 milhão
Novos trevos de acesso
Entre 2014 e 2017, foram feitas obras em Boa Vista do Sul (R$ 898,6 mil), Capela de Santana (R$ 859,9 mil), Encantado (R$ 2,52 milhões), Novo Cabrais (R$ 831 mil) e Westfália (R$ 648,6 mil).
Obras licitadas, prestes a começar
Viaduto na RS-040 com RS-118
Início da obra previsto pela EGR até primeira quinzena de junho.
Custo total: R$ 16 milhões
Duplicação de 2,6 quilômetros da RS-239
Obra entre o entroncamento da RS-020 e Arroio Tucanos, em Taquara, com início previsto para os próximos dias.
Custo total: R$ 10,1 milhões
Obras reivindicadas
Duplicações
A demanda inclui rodovias como: RS-115 (Taquara-Três Coroas), RS-287 (Tabaí-Paraíso do Sul) e RS-122 (Flores da Cunha-Caxias do Sul). A EGR estima que só o trabalho na RS-287 custaria R$ 500 milhões.
Recuperação total da RS-287
Estrutura da via em trecho de 150 quilômetros entre Tabaí e Paraíso do Sul precisa ser refeita do zero para reduzir gasto de manutenção. Custaria R$ 150 milhões.
Instalação de passarelas
Municípios solicitam novas travessias em áreas urbanas, entre os quais Sapiranga (edital foi lançado em março), Campo Bom e Parobé. Custo estimado: R$ 1 milhão por passarela.
Restauração total da RS-135
A recuperação estrutural dos 78,3 quilômetros entre Passo Fundo e Erechim é considerada urgente pela EGR. Seriam necessários pelo menos R$ 55 milhões.