O restaurante Copacabana viveu um instante absolutamente mágico no início desta tarde de sábado, 8 de abril de 2017: grande parte dos jornalistas que construíram a imprensa gaúcha se reuniram para um almoço e para muitas conversas e reminiscências. Organizado por Carlos Bastos e Ibsen Pinheiro, já aí uma dupla plural com seus gremismo e coloradismo, o repasto trouxe à tona as redações de décadas atrás e o charme de um jornalismo diferente, em que a internet ainda não havia surgido para mudar o ambiente das comunicações.
Foi um encontro em que as dezenas de participantes não usavam celulares. Já imaginou?! Apenas conversavam, se olhavam nos olhos, riam e, claramente, emocionavam-se. Também pôde ser constatado, por exemplo, o baixo quórum de mulheres. Claro, o avanço feminino no mercado de trabalho é fenômeno que vem com a evolução das últimas décadas. O retrato de décadas atrás mostra redações predominantemente masculinas. Outro ponto curioso: Ibsen conta que ele e Bastos fizeram uma lista inicial de 40 nomes.
Do momento em que foi feita a lista até hoje, houve três baixas. Adroaldo Streck, Jayme Copstein e Sampaio faleceram.
Algo como 80 pessoas estavam convidadas. A maioria compareceu ao movimentado Copa. Entre eles, Ib Kern, 98 anos; Hugo Hammes, 91; Lucídio Castelo Branco e Ary dos Santos, ambos com mais de 90.
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Acostumada a comandar redações, Núbia Silveira foi convidada por Bastos e Ibsen para operacionalizar a organização.
– Eles ligaram para algumas pessoas, os amigos deles, e eu foi convocada, como diz o Flávio Tavares, para ser o "comitê central" – diz Núbia, dando risada enquanto cumprimenta os velhos amigos que vão chegando.
Ibsen conta como surgiu a ideia.
– Queríamos ver e rever amigos. Hoje, para ver os amigos, é importante se organizar – diz. – Antigamente, a gente não precisava combinar para se encontrar.
Bastos também falava sobre a emoção do encontro.
O repórter de Zero Hora constatou que estavam ali ele, Flávio Tavares, Carlos Alberto Kolecza e, ainda, Ricardo Chaves, filho de Hamilton Chaves. Brincou que ali estava uma bancada coesa.
– De gremistas! – atalhou Bastos.
Sim, de gremistas. Todos são. Mas também de jornalistas que tiveram forte relação com a profissão e com um ícone da resistência democrática brasileira, talvez o maior de todos: Leonel de Moura Brizola.
Ibsen subiu em uma cadeira e falou com sua tradicional verve para a emoção geral. Flávio fez o mesmo. Olhou para a mesa onde estava Ib Kern e disse:
– Devemos muito a Ib Kern. Foi ele quem me levou para o jornalismo.
Ib Kern era chefe na seção de política da Última Hora. E sua equipe era formada por Bastos, Flávio e, ainda, Carlos Fehlberg, que vive em Santa Catarina e acabou não indo ao evento.
Ao ser avisado de que estava sendo citado, Ib Kern, com vivacidade e senso de humor, brincou:
– Mas estou senso aplaudido ou vaiado?
Todos aplaudiram ainda mais e riram muito do quase centenário jornalista que faz troça com seu problema de audição.
Flávio, então, emendou:
– O que conheço há mais tempo aqui é o Hugo Hammes.
A fala teve um elemento a mais de emoção. Além de ele ser jornalista que fez história, "seu Hugo" é pai de Maria Isabel Hammes, colunista de economia em ZH, daqueles profissionais e seres humanos que passam pela vida de amigos e colegas com afeto unânime e falecida recentemente em razão de um câncer.
Quando Flávio parou de falar, o chargista Marco Aurélio pediu a palavra.
– Vamos formar um exército e tomar as redações para reaver nossos lugares – bradou.
Riso geral. Aliás, como de costume quando se trata do impagável Marco.
Heron Lorenzi, 87 anos, puxou o repórter de ZH para um papo e disse:
– Olha, eu sou o único fundador vivo da Acepa (Associação dos Cronistas Esportivos de Porto Alegre), atual Aceg (Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos).
Registro relevantíssimo. A história estava sendo vivida ali.
Falando em crônica esportiva, os amigos Lauro Quadros e Ruy Carlos Ostermann, algo como o Maradona e o Pelé, do jornalismo esportivo gaúcho, trocaram um afetuoso abraço.
– É uma nostalgia boa, belíssima. Dá saudade – disse o professor Ruy.
– Estou encontrando pessoas que tinham 30 anos quando vi pela última vez e que hoje têm 80. É uma alegria indescritível.
Podem crer, queridos Lauro e Ruy, "nostalgia boa" e "indescritível".
Ibsen já adiantou: pretende, de alguma forma, repetir o evento.