O presidente Michel Temer voltou a criticar a forma de divulgação da Operação Carne Fraca, afirmando que o "espetáculo" do anúncio da ação "gerou um problema internacional", causando prejuízos ao país. A entrevista foi ao ar na noite de quarta-feira no canal GloboNews.
De acordo com Temer, o assunto deveria ter sido apresentado "levando em conta sua proporção mais diminuta".
– Você tem 4.838 plantas frigoríficas no país, três interditadas e 19 investigadas (...). Nesses seis meses, houve 838 mil partidas de proteína animal para países, e apenas 184 foram reexaminadas, mas sob aspectos apenas burocráticos, não sanitários – afirmou.
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O presidente destacou que, dos mais de 11 mil servidores do Ministério da Agricultura, apenas um número pequeno de funcionários e de frigoríficos estão sendo investigados. Desde que foi deflagrada a operação, na última sexta-feira, pelo menos dez países impuseram restrições ou suspenderam temporariamente a importação de produtos de origem animal do Brasil.
Durante a entrevista, Temer defendeu ainda o atual ministro da Justiça, Osmar Serraglio, que apareceu em um grampo telefônico da investigação conversando com o ex-superintendente federal de Agricultura do Paraná, Daniel Gonçalves Filho. Descrito pela Polícia Federal como "líder da organização criminosa", Daniel é chamado por Serraglio de "grande chefe" durante uma ligação em que o ministro pede informações sobre a fiscalização em um frigorífico:
– Acontece uma coisa em um lugar qualquer, o sujeito liga para ele (Serraglio). Ele, como deputado, representante de uma região, liga para alguém e (diz): "Olha, o que está acontecendo aí etc?" (...). O "grande chefe", enfim, cada um usa a expressão que deve usar.
As críticas do governo à operação já haviam gerado polêmica no final da semana passada, quando o ministro da Agricultura Blairo Maggi, reforçado por entidades do agronegócio e pela bancada ruralista, acusou a polícia de exageros na ação. O ministro apontou "falta de amparo técnico" na ação, com erros de interpretação nas escutas dos diálogos dos suspeitos.
No domingo, Blairo e Temer se reuniram com o diretor-geral da PF, Leandro Daiello, que alertou que ainda há muita investigação por vir e que parte do material apurado segue em sigilo. Os investigadores afirmaram que o governo "está se precipitando" e que "as críticas em breve serão superadas" com a apresentação de novas provas.
A operação
A operação da PF apura o envolvimento de frigoríficos em um esquema criminoso que subornava fiscais federais para que fosse autorizada a comercialização de produtos que já estavam em condições impróprias para consumo. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a ação ocorria em 18 estabelecimentos do Paraná, dois de Goiás e um de Santa Catarina, pertencentes a grandes empresas como a JBS e a BRF.