Depois de tomar os primeiros depoimentos de servidores e de ex-dirigentes do Badesul, a sindicância instalada para apurar irregularidades em financiamentos detectou contradições sobre os critérios adotados e identificou ausência de documentos exigidos para as liberações de crédito. A investigação, coordenada pela Procuradoria-Geral do Estado (PGE), apura responsabilidades na assinatura dos empréstimos às empresas Wind Power Energia, Iesa Óleo e Gás e D'Itália Móveis, que, juntas, legaram um calote de R$ 157 milhões ao Badesul, agência de fomento controlada pelo Estado. As três operações representavam riscos ao banco que podem ter sido tratados de forma negligente.
– Verificamos documentos que deveriam estar nos dossiês de concessão de crédito e não estavam. Existem contradições sobre como eram as liberações, os ritos, o modo de tomar as decisões e a exigência das garantias bancárias – explica a procuradora Adriana Krieger, coordenadora da sindicância.
Ex-presidente do Badesul presta depoimento em sindicância
Badesul amarga calotes com empréstimos para Wind Power e Iesa
Ela diz que cada pedido de financiamento gera um "dossiê" da empresa junto ao banco. Nesta pasta, devem constar documentos, certidões e demais itens necessários para a aprovação do empréstimo. No caso destas empresas, foi possível identificar a ausência de papéis fundamentais. Resta saber se eles foram suprimidos dos processos para tentar apagar responsabilidades ou se "sequer foram lavrados", ressalta a procuradora.
Na terça-feira, a sindicância tomou depoimentos do ex-presidente do Badesul Marcelo Lopes, do vice-presidente Pery Francisco Sperotto e do presidente do Conselho Fiscal, Luis Alberto Bairros.
Adriana explica que, na próxima semana, está previsto o interrogatório de Lindamir Verbiski, ex-diretora de Operações do Badesul, apontada como braço direito de Lopes. Também são esperadas colaborações de auditores do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Em inspeções nas contas da agência, eles identificaram afrontas às regras bancárias, aumento exponencial da carteira de risco e flexibilização da exigência de garantias.
A sindicância ainda irá ao Banco Central em busca de informações sobre as auditorias abertas pelo órgão para investigar os contratos com a Wind Power e a Iesa.
– Feito isso, vamos tomar medidas o mais breve possível – projetou a procuradora.
Poderão ser propostas ações de ressarcimento ao banco, declaração de inidoneidade e demissões de servidores públicos eventualmente envolvidos com ilícitos.
Na Assembleia, o deputado estadual Enio Bacci (PDT) recolheu 15 assinaturas – são necessárias 19 – para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Badesul. Ele pretende atingir o patamar exigido na próxima terça-feira, mas reclama que o Palácio Piratini e o PMDB estão pressionando para abafar a tentativa.
O Ministério Público Estadual (MPE) avalia a possibilidade de abrir inquérito.
Os empréstimos da Wind Power, Iesa e D'Itália foram assinados entre 2011 e 2014, no governo Tarso Genro. Naquele período, foram editadas normas internas para flexibilizar as análises de risco e a exigência de garantias. A estratégia agressiva era parte de uma política de financiar grandes empreendimentos.