Diretor de fotografia e cinegrafista responsável pela identidade visual de grandes clássicos do cinema brasileiro, Dib Lutfi morreu na quarta-feira, aos 80 anos, no Rio de Janeiro. Ele havia sido hospitalizado no sábado em decorrência de uma pneumonia. Seu irmão, o músico Sérgio Ricardo, informou no Facebook: "Comunico com muito pesar o falecimento de meu irmão Dib Lutfi, considerado o grande poeta das imagens do Cinema Novo". A referência diz respeito ao trabalho que Lutfi consagrou ao lado de, entre outros cineastas, Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha, Arnaldo Jabor, Ruy Guerra e Cacá Diegues.
Nascido na cidade paulista de Marília, Lutfi mudou-se na adolescência com a família para o Rio de Janeiro. Trabalhava como câmera na TV Rio quando estreou no cinema empunhando a câmera em dois filmes de seu irmão Sérgio Ricardo – nome artístico de João Lutfi, que ficaria mais conhecido por sua carreira musical: o curta Menino da calça branca (1961) e o longa Esse mundo é meu (1963).
Primeiro como operador de câmera e depois como diretor de fotografia, Lutfi combinava a agilidade do cinejornalismo proporcionada pela câmeras portáteis , característica absorvida pela estética renovadora da nouvelle vague francesa, com a criatividade para buscar enquadramentos menos acadêmicos. Incorporou de pronto o conceito cinemanovista glauberiano "uma câmera na mão e uma ideia na cabeça" – mas só trabalhou com o diretor ícone do movimento no clássico Terra em transe (1967), com Luiz Carlos Barreto assinando a direção de fotografia.
O nome de Lutfi está presente em obras referenciais do cinema brasileiro, como A falecida (1965), de Leon Hirszman, Edu, coração de ouro (1968), de Domingos Oliveira, Os deuses e os mortos (1970), de Ruy Guerra, A lira do delírio (1978), de Walter Lima Jr. e Pra frente, brasil (1982), de Roberto Farias. Foi companheiro recorrente de Arnaldo Jabor – em filmes como Opinião pública (1967), O casamento (1976) e Tudo bem (1978) –, Nelson Pereira dos Santos – Fome de amor (1968), Azyllo muito louco, e Como era gostoso o meu francês (1971) – e Cacá Diegues – Os herdeiros (1970), Quando o Carnaval chegar (1972), Joanna francesa (1973).
Dib Lutfi filmou no Rio Grande do Sul Motorista sem limites (1970), de Milton Barrragan, grande sucesso de bilheteria estrelado pelo ídolo da música regionalista Teixeirinha, com fotografia de Antônio Gonçalves. Voltou a trabalhar com Domingos Oliveira, em Juventude (2008), já adaptado ao suporte digital. Deixou como último trabalho o drama fantástico Profana (2011), de João Rocha, sobrinho de Glauber.
Eryk Rocha, filho de Glauber, destaca a importância de Lutfi no documentário Cinema Novo, premiado no Festival de Cannes, filme que é uma das atrações do festival Cine Esquema Novo, que será realizado em Porto Alegre a partir de 3 de novembro .