Um médico foi afastado pela Secretaria Municipal de Saúde de Caxias do Sul após denúncias de que ele teria abusado sexualmente de suas pacientes em uma UBS. A ouvidoria da secretaria recebeu pelo menos quatro reclamações contra o profissional nas duas últimas semanas. Uma das vítimas procurou a Delegacia da Mulher e formalizou a queixa na quinta-feira passada.
A polícia enquadrou a denúncia contra o profissional como crime de violação sexual mediante fraude, que é "ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima". O inquérito policial tem prazo de conclusão de 30 dias. A identidade do suspeito não é divulgada porque a investigação é inicial, ainda não houve indiciamento da polícia e não há mandados de prisão contra ele.
O profissional trabalha desde 2014 no município, mas os primeiros relatos de abusos surgiram há menos de oito meses. No início, segundo as denúncias, o médico fazia comentários com conotação sexual ou exagerava na maneira como tocava as pacientes. As mulheres não sabiam como reagir e evitaram denunciá-lo.
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– Eu tive cinco cinco consultas com ele. No início (estes abusos), eram mais leves e eu não encarava como um assédio. Só que foi piorando. É complicado. Fiquei com vergonha, quase como se eu fosse a errada na história. É um sentimento muito ruim e eu não queria contar para ninguém. Só que foram aparecendo novos relatos e decidimos denunciar para a ouvidoria – relata uma paciente de 38 anos.
As quatro mulheres decidiram fazer a denúncia de forma anônima. O órgão informou que teria um prazo de 10 dias para a resposta. Nesta segunda-feira, a assessoria de comunicação emitiu uma nota afirmando que a secretaria "tomou todas as medidas legais e cabíveis por meio da abertura de um Processo Administrativo (Sindicância)" e que "o profissional está afastado e que um novo médico será designado àquela comunidade".
A delegada Carla Zanetti confirma que foi feito um boletim de ocorrência e o caso está em investigação. Porém, a titular da Delegacia da Mulher não tinha conhecimento de outros relatos. Contudo, o prazo de 30 dias para concluir a investigação pode ser prejudicado, pois a delegacia enfrenta dificuldades por falta de agentes e parcelamento de salários:
– Eu não posso falar de um caso específico porque é um processo que corre em sigilo. Até o momento, temos um caso só. Reforço a orientação que, qualquer vítima de abuso, procure a Polícia Civil. Precisamos entender e analisar o que está acontecendo.
Constrangimento em consultas
Num dos casos que não foi comunicado à polícia, só à ouvidoria da prefeitura, uma paciente disse ao Pioneiro que poderia ganhar atestados médicos para faltar ao trabalho desde que fizesse sexo oral no médico.
Em outra ocasião, a mesma mulher procurou atendimento devido a uma infecção urinária. Durante o exame da bexiga, conta que o médico abaixou demais as calças da vítima e comentou sobre a depilação da paciente.
– Parecia que eu estava em um exame ginecológico. Não faz parte da consulta (a depilação) e é algo que ele não deveria se intrometer.
Também em outra consulta, ela buscou atendimento em razão de uma dor de garganta. A paciente conta que o médico pediu que ela ficasse apenas de sutiã. A paciente conta que obedeceu e que o médico apertou os seios e fez menção à beleza de suas mamas:
– Eu respondi que era só para fazer a consulta que estaria tudo certo. Nessas horas, ele tentava sair pelas beiradas.
Preocupada com os abusos que ficavam cada dia pior, a paciente levou o marido na UBS. Ele ficou na sala de espera enquanto ela e a filha consultavam em razão de uma virose. O médico atendeu primeiro a criança e disse para ela ir esperar com o pai.
– Então ele trancou a porta e veio ouvir minha respiração. Só que colocou a mão por baixo da minha camisa e pegou no meu seio. Quando fui sair, o meu marido entrou e acompanhou o resto da consulta. Assim, o médico não fez mais nenhuma gracinha.