Os passos rápidos, acompanhados de um olhar atento e de mãos prontas para acariciar a primeira criança que cruzar o caminho se tornaram marcas próprias da irmã Maria José dos Reis, 79 anos, pertencente à Fraternidade Palavra e Missão e fundadora do Centro Comunitário de Educação Infantil CCEI Talitha Kum, no Bairro Feitoria, em São Leopoldo. Ativa nas ações e nas palavras, a missionária tem planos para além das oito décadas de vida que completará em dezembro. Sonha em ampliar ainda mais o trabalho que completará 30 anos em outubro e atende 143 crianças e adolescentes.
Mineira de Bocaiúva, Maria José deixou a terra natal aos 21 anos para viver num convento no Rio de Janeiro. Depois da formação, se dedicou a missões pelo Brasil. Destinada a ajudar o próximo, nunca mais voltou a morar em Minas Gerais. Numa passagem pelo Rio Grande do Sul, encontrou o lugar que a acolheria até hoje: o Bairro Feitoria. Com a ajuda da irmã Bernadete Nosso, do Espírito Santo, fundou a Casa do Menor São Geraldo, que acolhia crianças em situação de rua e dependia de doações para sobreviver na garagem da casa das irmãs. Ao longo dos anos, a casa ganhou em tamanho e em responsabilidade, se tornando um centro comunitário que hoje conta com convênio da prefeitura de São Leopoldo.
Mesmo sem jamais ter filhos biológicos, Maria José garante se sentir parte da família daqueles que passaram pelas mãos dela. Tanto que, carinhosamente, é chamada de vó pelos pequenos da instituição. Nos corredores do prédio, percorridos por ela de segunda a sexta-feira das 8h às 17h, a irmã abre um sorriso ao ser chamada pelas crianças, vai em direção a cada uma e as abraça com zelo, como uma verdadeira avó.
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Missão
"Comigo sempre foi assim: a vida foi me levando até que parei aqui. Eu queria ajudar as pessoas, mas não imaginava como seria. Abracei este trabalho com amor e fiz dele a minha missão."
História
"Na década de 1980 esta região tinha uma realidade gritante, com muitas famílias pobres e sofredoras. Muitas crianças morriam de desnutrição. Formamos um grupo de mulheres da própria comunidade e começamos a trabalhar pelo bairro. Fazíamos sopões e prestávamos assistência social às famílias."
Ocupação
"Quando já tínhamos começado a obra do centro comunitário, tivemos que ir para o Nordeste em missão. Ficamos cinco anos fora de São Leopoldo e, neste período, houve uma tentativa de ocupação do terreno da Fraternidade. Foi muito triste. Mas a comunidade nos ajudou e conseguimos retomar o espaço e a construção do prédio. A união fortaleceu o trabalho."
Vó
"Posso não ter sido mãe, mas tenho filhos espalhados por todas as partes deste Estado. São crianças que passaram pelas minhas mãos no trabalho social. Hoje, me chamam de vó e tenho muito orgulho. No projeto, oferecemos oficinas de dança, culinária, judô, informática e artesanato. Quero prepará-los para a vida, para que façam o mesmo pelo próximo."
Meta
"Enquanto eu viver, quero ir para a frente. Enquanto eu puder, estarei me movimentando, pensando em novas ideias para melhorar o Centro. Ainda tenho metas a alcançar e quero trabalhar para as famílias até o fim."