Subsecretário extraordinário de grandes eventos da Secretaria Estadual de Segurança do Rio, Roberto Alzir detalha os planos do governo fluminense para a área de segurança durante a Olimpíada e garante maior efetivo nas ruas do Rio de Janeiro. Leia a entrevista a ZH.
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Houve significativo crescimento de homicídios e roubos em 2016 no Rio. Quais as causas?
Houve um conjunto de fatores que levaram a esses números ruins no primeiro semestre. Sob a ótica econômica e política, tivemos degradação com a questão do desemprego. Isso traz reflexo para a área de segurança pública. Esse desequilíbrio econômico do Rio levou a uma série de questões envolvendo os profissionais de segurança. O 13º foi pago parcelado durante o ano, tivemos atrasos de salário, desde o meio do ano passado não se pagava a remuneração pelo cumprimento de metas, que era um fator motivacional muito grande para os nossos policiais. O regime adicional de serviço, que é o policial contratado no horário de folga, não fizemos mais por falta de dinheiro. Foi normalizado só agora. Isso representa menos policiais na rua, menos motivados e com problemas financeiros. Sem dúvida nenhuma, diminui a nossa capacidade de resposta.
Como o efetivo de cerca de 70 mil homens será distribuído na cidade? Qual a orientação para o policiamento ostensivo?
O aumento de tropa na rua será muito significativo. Houve um conjunto grande de capacitação na atuação para grandes eventos. Tivemos muito intercâmbio com polícias internacionais. E já há um acúmulo grande de experiência desde 2007, quando começamos a sediar no Rio os grandes eventos de forma consistente. A segurança pública foi avaliada muito positivamente. Não tivemos um evento no passado recente em que a segurança pública deixasse de ser avaliada como ponto positivo. Estamos tranquilos. Basicamente, estaremos preocupados com as instalações olímpicas, sejam elas de competição, treinamento ou suporte, na acomodação de atletas, árbitros e membros do comitê. Também a região hoteleira da cidade, seja centro, zona sul ou Barra da Tijuca. Todos os terminais de transporte, trem, metrô e rodoviários, além de portos e aeroportos. Ainda temos os pontos turísticos e locais de reuniões de público, como Pão de Açúcar e Corcovado. E os principais eixos de circulação da cidade, todos eles estarão com policiamento bem reforçado para garantir tranquilidade à realização do evento.
O principal crime a ser combatido é o roubo?
O que acontece mais durante os grandes eventos, dado o acúmulo de pessoas nas ruas, alguns ostentando valores, são furtos e pequenos roubos. Não temos nesses últimos eventos nenhum turista vitimado fatalmente. O que temos são casos de furto e roubo. O esforço é no sentido de diminuir ao máximo esses indicadores. E detectar e mitigar, se for o caso, qualquer ameaça terrorista.
Há crítica de que haverá forte repressão e até eventuais abusos nas comunidades pobres para controlar os delitos. Qual será a política de segurança nesses casos?
Nunca houve esse tipo de política no Rio de Janeiro, de exacerbamento de repressão ou retirada de pessoas da rua por parte das polícias para criar um falso ambiente de segurança. O que há são ações preventivas, com mais recursos humanos e materiais para aumentar o ambiente de segurança. Nas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), as férias estão suspensas, vai haver contratação de policiais nos horários de folga para reforçar os efetivos e melhorar o ambiente de segurança nas comunidades e entorno. Mas não há aumento de repressão ou cerceamento de circulação de pessoas, seja nas comunidades ou no asfalto. O que pode haver é ação dos órgãos de proteção social de acolhimento de menores ou de moradores de rua, com o encaminhamento devido para abrigos. Mas isso não será ação de polícia de higienização da cidade.
Depois do sucesso inicial, as UPPs enfrentam período de questionamento. O modelo precisa ser revisto?
Qualquer política pública tem diversas fases, mais ou menos positivas. Elas precisam estar constantemente sendo reavaliadas e ajustadas. Recentemente, tivemos uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais e da Fundação Getulio Vargas em que se ouviu as comunidades que têm UPPs. O índice de aprovação e o desejo de permanência das unidades foi superior a 80%. É claro que se criou uma expectativa muito grande no início por parte da imprensa e da população, como se a UPP fosse resolver todos os problemas da comunidade. E isso a gente nunca falou. Sempre fomos muito comedidos no discurso no sentido de que a UPP não vai acabar com o crime e com o tráfico. Se não houver um processo consistente de reurbanização e reorganização desses espaços públicos, os problemas continuarão, mas em patamares muito inferiores aos que existiam antes da chegada da UPP. As pessoas comparam a UPP hoje com o mundo ideal, e não com a realidade dessas comunidades antes da chegada das UPPs. Talvez por aí venha alguma frustração porque projetaram um mundo perfeito, com ausência de crime e de indicadores de criminalidade e tráfico. E isso nunca prometemos. A UPP é um passo importante, mas sozinha não resolve. Ela tem sido constantemente repensada pela nossa política de segurança no sentido de minimizar qualquer tipo de adaptação que o tráfico possa ter a essa realidade e, principalmente, o que nos preocupa mais é a vitimização dos policiais. Temos muitos policiais feridos e até vitimados letalmente nessas comunidades porque o tráfico passou a agir em emboscadas, de maneira covarde. Estamos reestudando todo o processo de proteção do policial. Longe de a UPP não ter dado certo. Ela obviamente não atingiu o ideal de resultados que a população estimou em determinado momento.
Existe preocupação e plano específico para a ação de hackers contra os jogos olímpicos, população e turistas?
Sim. Há toda uma estrutura de defesa cibernética, com participação da Polícia Federal e do Ministério da Defesa, combatendo diariamente tentativas de invasão de hackers nos nossos sistemas e estruturas. Há um conjunto de ação diuturno no sentido de proteger os órgãos oficiais. Em relação à população em geral, eu desconheço. Aí cada pessoa tem de adotar as suas medidas de segurança e os órgãos privados têm os seus sistemas de proteção. Mas, sem dúvida, é uma ameaça moderna que pode até paralisar os jogos. O trabalho é muito sério nos órgãos federais.
As ameaças cibernéticas são comuns?
Sim, isso é diário, muitas ameaças de diversas partes do mundo que tentam invadir sistemas da Rio 2016 ou dos órgãos de segurança pública. Isso é rotina, não só por causa dos jogos, já acontecia antes.
O recente ataque em Nice, o fato de a delegação francesa ser um alvo e a possível adesão de um grupo brasileiro ao Estado Islâmico aumentam o risco de ataque terrorista na Olimpíada?
Ameaça real, até o momento, não temos notícia. O que temos acompanhado são alguns alvos, tentativas de entrada no território nacional pelos meios oficiais de pessoas não recomendadas, que acabaram preteridas. Há muito trabalho de inteligência, muita troca de informação das autoridades brasileiras com as principais bases de dados da Interpol e países estrangeiros. Haverá durante os jogos um centro de cooperação de polícia internacional, com a participação de mais de 50 países. E um centro integrado antiterrorismo, especificamente para acompanhamento, prevenção ou até repressão a ameaças dessa natureza. Houve treinamentos também com a rede hoteleira, motoristas de táxi, trabalhadores de restaurantes, no sentido de a população ajudar a identificar ameaças, comportamentos estranhos ou objetos que possam representar ameaça. Como não temos histórico de terrorismo, isso tudo é muito novo e estamos aprendendo a lidar. Vamos torcer que fique apenas na probabilidade. Nunca estivemos tão bem preparados para responder a ameaças dessa natureza.