A estudante Marcelli Cipriani, 25 anos, ainda está nervosa com o que aconteceu. Disparos feitos por desconhecidos contra seu carro, quando ela passava pela Vila Cruzeiro na madrugada de sábado, desmantelaram parte do veículo e atingiram sua amiga Isadhora Bolônia de Oliveira.
Marcelli levou a amiga até o Hospital de Pronto-Socorro (HPS), onde Isadhora está internada, na UTI.
Marcelli estuda a criminalidade em Porto Alegre e inclusive iria defender trabalho de conclusão do curso de Direito esta semana. Jamais tinha sido vítima da violência que analisa. Em relato a Zero Hora, ela descreve o desespero que vivenciou ao ter de socorrer a amiga baleada, na madrugada de sábado. Veja abaixo:
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"Ela estava caída no meu colo, sangrando"
"Na madrugada de sábado eu e a Isadhora (Bolônia de Oliveira) saímos da Cidade Baixa e íamos para minha casa, na Vila Nova. Fiz o de sempre: cortei caminho pela Vila Cruzeiro, em direção à Faixa Preta. Estava no alto do morro, perto da Rua Cruzeiro do Sul, quando ouvi um barulho e senti algo no pneu dianteiro, do meu lado. Senti também cheiro de queimado. Eram os dois pneus do lado esquerdo, furados...Na dúvida, resolvi só parar quando conseguisse ajuda, num posto de gasolina, algo assim. Aí a Isadhora passou a mão na cabeça, viu que estava sangrando e disse:
– Acho que tomei um tiro.
Aí me desesperei. Eu gritava para a Isadhora: 'acorda, acorda', mas ela estava caída no meu colo, sangrando. Não lembro como, mas dirigi até a Avenida Osvaldo Aranha, correndo. Só lembro de chegar lá, buzinando, no HPS. O meu carro estava destroçado. Não sobrou nada dos pneus esquerdos, dirigi com o metal encostando no chão. Os vidros da frente e de trás estavam furados por tiros, a lataria traseira também, um para-choque caiu."
"Um absurdo não poder circular à noite"
"Concordei em falar com a imprensa porque é um absurdo não poder circular à noite em Porto Alegre. A violência está realmente crítica aqui, estamos beirando os 40 homicídios por 100 mil habitantes. Sei que isso ocorre em inúmeros pontos da cidade, mas não em avenidas principais com grande fluxo. Estudo isso, as facções organizadas do crime. É uma situação de violência endêmica, difícil de lidar. Até ia apresentar meu trabalho numa banca nesta quarta-feira, foi transferido em função do ocorrido."
"Acho que fomos confundidas com alguém"
"Creio que atiraram porque fomos confundidas com alguém. Meu carro é preto, com vidros escuros, podem ter pensado que era alguém indesejado. Estudo isso, agora vi de perto como é. Ainda bem que a Isadhora está se recuperando, o edema diminuiu, talvez nem seja preciso fazer cirurgia nela."