Nos discursos e manifestações de combate a corrupção realizados país afora, os fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL) sempre disseram estar à frente de uma organização apartidária e sem vinculação financeira com atores políticos. Dois áudios revelados pelo portal UOL demonstram agora que o MBL recebeu dinheiro e apoio logístico de partidos interessados no impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. De acordo com as gravações, pelo menos PMDB e PSDB teriam contribuído financeiramente com atos coordenados pelo MBL. Ao PMDB coube financiar a impressão de 20 mil panfletos com os dizeres "Esse impeachment é meu", distribuídos nos protestos de 13 de março. O próprio presidente da Juventude do PMDB, Bruno Júlio, confirmou ter pedido ao presidente da Fundação Ulysses Guimarães e atual assessor especial da Presidência da República, Moreira Franco, que custeasse a produção dos panfletos.
– O MBL auxiliou na logística, distribuindo os panfletos e colando cartazes, mas a Fundação Ulysses Guimarães pagou porque se tratava de uma campanha nossa, da Juventude do PMDB, que nós encampamos - disse Júlio ao UOL.
Leia mais
Como grupos pró e contra Dilma devem se mobilizar após a votação no Senado
Integrantes do MBL foram convidados pela mesa, diz Cunha
Procurada, a assessoria de Moreira Franco disse que ele não se recordava se teria pago ou não pela impressão. Mais tarde, negou o pagamento e afirmou que nem Moreira Franco nem o PMDB nunca atuaram em parceria com o MBL. Em gravação feita no dia 5 de maio e a que o UOL teve acesso, o secretário de Mobilização da Juventude do PSDB do Rio de Janeiro, Ygor Oliveira, comunica a correligionários como o partido estaria ajudando o MBL a arcar com os custos de uma manifestação realizada seis dias depois, em Brasília.
O protesto foi realizado no dia em que a abertura do processo de impeachment de Dilma foi votada no Senado. No áudio, segundo o UOL, Oliveira conta como foi captado dinheiro para arcar com as despesas de hospedagem e alimentação de manifestantes que iriam a Brasília. O presidente da JPSDB admitiu que era sua a voz na gravação, disse que se tratava do primeiro projeto feito em conjunto com o MBL, que acabou não se concretizando.
– Isso foi um rascunho de uma parceria, que acabou não dando certo - afirmou.
O segundo áudio obtido pelo UOL contém a voz de um dos principais coordenadores do MBL, Renan Antônio Ferreira dos Santos. Na gravação, de fevereiro deste ano, Renan comemora a costura de um acordo com PSDB, DEM, PMDB e a Força Sindical para divulgar os protestos de 13 de março usando as "máquinas deles também" para "usar agora uma força que a gente nunca teve". Em nota enviada ao UOL, Renan confirmou a autenticidade do áudio e informou que o comitê do impeachment contava com lideranças de vários partidos, entre eles, DEM, PSDB, SD e PMDB. "As manifestações não são do MBL. 13 de Março pertence a todos os brasileiros, e nada mais natural que os partidos de oposição fossem convidados a usar suas redes de divulgação e militância para divulgar a data. Não houve nenhuma ajuda direcionada ao MBL" informa o texto da entidade.
A assessoria de imprensa do Solidariedade confirmou a parceria, afirmando que o partido convocou militantes e e forneceu carros de som para os eventos. Já o DEM informou que atuou em conjunto com o MBL, mas negou qualquer tipo de ajuda financeira ou apoio material ao movimento. Criado em 2014 com um forte discurso liberal, de combate à corrupção e apoio ao impeachment de Dilma, o MBL ganhou protagonismo político ao liderar os protestos contra o governo do PT. Em seu site, a organização convoca os simpatizantes a se filiarem, pagando uma contribuição mensal de vai de R$ 30 a R$ 250. Ao comentar as gravações, Renan Santos diz que o MBL não criminaliza a política nem os políticos.
– A aproximação com as lideranças (políticas) foi fundamental para pavimentar o caminho do impeachment - argumenta.