Desde março deste ano, quando descobriu que foi selecionado para ganhar uma bolsa de estudos na Universidade do Algarve, em Portugal, Tales Cauim de Oliveira Aires, 22 anos, morador do Bairro Glória, em Porto Alegre, está correndo atrás do dinheiro necessário para a viagem.
Desempregado há pouco mais de duas semanas – era atendente de uma cafeteria –, o estudante tem feito café e sanduíches para vender e garantir parte das despesas que terá na Europa.
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Graças à nota obtida no Enem, Tales conseguiu uma bolsa para cursar Serviço Social na Uniasselvi, na Capital, onde está no terceiro semestre. Também por conta do desempenho no exame, ele concorreu a uma vaga na universidade portuguesa – ao todo, são oito universidades de Portugal que aceitam a nota do Enem como forma de ingresso.
O semestre letivo começa em setembro na Universidade do Algarve. Além do dinheiro necessário para o visto e a passagem aérea, ele terá de pagar as despesas como morador da universidade, a alimentação e também 50% da anuidade do curso (que lá chama-se Educação Social), com duração de três anos. Assim que chegar, ele pretende trabalhar, mas precisa juntar R$ 8 mil para essas primeiras despesas.
– Comecei a vender sanduíche natural e café na universidade. É pouquinho, mas está dando para pagar as contas. Enquanto isso, estou correndo atrás de emprego. Trabalhei como garçom, atendente, segurança, em portaria, me dou bem com o público. E tenho curso de marceneiro. O que eu aprendi foi a trabalhar, mas meu foco sempre foram os estudos – conta Tales.
A proximidade do mês de setembro é motivo de preocupação para o estudante. A família não tem condições, por exemplo, de pedir um empréstimo para custear a viagem.
– Estou com a corda no pescoço, mas não considero desistir. Desde sempre quis crescer para que os meus cresçam – conclui o estudante.
Ele quer mudar a vida dos outros
A intenção de estudar na Europa vem junto com a vontade de seguir a carreira de um tipo de profissional que fez a diferença na história de Tales. O dinheiro fácil do tráfico, do crime, conduziram amigos que cresceram com ele para a morte, ou a prisão.
– Se não fosse o acompanhamento do serviço social, meu destino seria outro, eu estaria nas drogas ou no crime. Tive muitos exemplos do que não fazer. Desde o fim da minha infância, fui encaminhado para vários cursos. Assim como mudou a minha vida, quero mudar a vida de outras pessoas – afirma Tales.
A mãe, a dona de casa Carmen Lúcia Marinho de Oliveira, 44 anos, está esperançosa de que o filho consiga o dinheiro necessário para viagem. Quando olha para atrás, Carmen recorda as dificuldades pelas quais passou para criar os três filhos, pela falta de condições financeiras e pelo histórico de violência doméstica.
– Para mim, é muito orgulho chegar onde ele chegou. Passei muito trabalho, até fome passei para dar as coisas para os meus filhos. E ele tem muita sabedoria, não tem quem não goste dele – revela a mãe.
Para ajudar
Interessados em ajudar podem entrar em contato pelo telefone (51) 9737-2953, pelo e-mail talesaires@gmail.com ou ainda fazer doação de qualquer valor por meio do site de arrecadação virtual Vakinha.