A presidente Dilma Rousseff participou, no início da noite desta segunda-feira, da inauguração do anexo do Aeroporto de Santa Genoveva, em Goiânia. Na cerimônia, ela evitou comentar as decisões que tumultuaram o cenário político do país durante o dia. Primeiro, o presidente interino da Câmara, deputado Waldir Maranhão (PP), anunciou a anulação das sessões do impeachment na Casa. À tarde, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB) optou por ignorar a decisão e dar andamento ao processo.
Em sua fala, a presidente voltou a afirmar que o impeachment é "golpe", criticou o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), e disse estar preparada para "lutar".
– Assim como eu lutei para fazer este aeroporto, vou lutar com todos os instrumentos que tenho, democráticos e legais, para impedir a interrupção ilegal usurpadora do meu mandato por traidores, por pessoas que não têm condições de se apresentar ao Brasil e se eleger. Vou lutar porque o povo brasileiro merece respeito, consideração e, sobretudo, a democracia que conquistamos com tanto esforço. A democracia sem dúvida é o lado certo da história. E a história também julgará os golpistas e usurpadores.
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A presidente também destacou em sua fala o desempenho da economia, que, segundo ela, voltou a "se mexer". Dilma afirmou que o problema do país agora diz respeito à política.
– É verdade, a gente enfrenta desafios na economia, mas vejam vocês: a inflação está caindo e chegará, sem sombra de dúvida, até o final do ano muito próxima da meta, abaixo de 7%. Estamos tendo os maiores saldos comerciais dos últimos anos. A economia começou a se mexer. O problema do pais é a instabilidade política, daqueles que torcem pelo quanto pior, melhor.
Quanto a Eduardo Cunha, Dilma ressaltou que nos últimos cinco meses ele, enquanto presidente da Câmara, não nomeou as comissões, o que teria deixado o "legislativo parado". Ela também alfinetou os autores do pedido de impeachment.
– Aí, em dezembro do ano passado, quando nós não lhe demos três votos para impedir o que ele queria impedir, que a Comissão de Ética da Câmara o julgasse, ele aceitou um processo de impeachment. E de quem era? Assinado pelo ex-ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso e por uma senhora advogada, que segundo a imprensa noticiou tinha sido paga com R$ 45 mil para fazer o referido processo.
A presidente argumentou também que não cometeu crime de responsabilidade.
– Aí é que está o problema: não tenho conta no exterior, não tem como me acusar de corrupção, não recebi propina, não desviei dinheiro público. Aí acharam esses seis decretos – disse. – Mas vamos só lembrar uma coisa: eu fiz seis decretos. Antes de mim, os outros presidentes fizeram decretos iguais. Do tipo dos que fiz, FHC fez 30, Lula fez quatro. Sobraria alguém neste país se aplicassem as regras que estão aplicando para mim a todos os gestores públicos? Não sobraria ninguém.
Dilma falou ainda que o processo de impeachment é um "golpe" que serve como "disfarce para eleição indireta".
– E por que isso? Porque ninguém aqui votaria para reduzir direitos.
Na manhã desta segunda-feira, a presidente Dilma participou de outro evento, em Brasília. A informação da decisão de Waldir Maranhão chegou para ela durante a cerimônia. Em seu discurso, Dilma afirmou que recebeu a notícia pelo celular:
– Eu soube agora, da mesma forma que vocês souberam, que um recurso foi aceito e que o processo está suspenso – comentou a presidente, que, no entanto, pediu calma ao público:
– Não tenho essa informação oficial. Não sei as consequências. Por favor, tenham cautela – ponderou.