Durante uma entrevista na tarde desta segunda-feira, a delegada Cristiana Bento, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítima (DCAV), responsável por conduzir as investigações do estupro coletivo de uma jovem de 16 anos no Rio de Janeiro, afirmou estar convicta de que o crime ocorreu e destacou que a investigação está focada em identificar quantas pessoas estão envolvidas no fato.
– A minha convicção é de que houve estupro, tanto é que estava lá no vídeo o homem manipulando a menina – disse. – A gente quer verificar quantas pessoas praticaram esse crime. Mas que houve crime, houve.
– Se tem duas pessoas, uma abusa, e a outra está olhando, ela é partícipe e vai responder pelo mesmo crime – emendou.
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Questionada sobre o laudo do exame de corpo de delito, que não comprovou lesões na vítima, a perita do IML Adriane Rego explicou que o exame foi prejudicado em razão da demora entre a ocorrência do fato e o momento da análise.
– O prazo de cinco dias dificulta muita coisa. Quanto mais próximo da violência for o exame, mais fácil é a gente detectar qualquer vestígio. O corpo tem reações que são muito fugazes, desaparecem rapidamente. Então, quanto mais próximo da lesão for o exame, maiores as chances de produzir provas técnicas – disse Adriane.
A delegada, porém, diz que o crime está provado de outras formas, incluindo o vídeo e o depoimento da vítima.
– Se ela estava desacordada enquanto era manipulada, vai ter lesão. Então, pra mim (o laudo) é importante, mas não determinante.
O chefe da Polícia Civil do Rio, Fernando Veloso, também frisou a demora na realização do exame como um fator prejudicial para a constatação do crime:
– Considerando o prejuízo em razão do tempo do fato até o exame, essa perícia ficou prejudicada. Não foram colhidos indícios de lesão. Isso não quer dizer que não houve violência. Os indícios se perderam com o tempo.
Até o momento, seis pessoas foram identificadas e qualificadas como suspeitas, através do depoimento da vítima, dos indiciados e do vídeo. Dois foram presos nesta segunda-feira.
Entre os identificados estão, segundo a delegada, Lucas Perdomo Duarte Santos, que era namorado ("tenho pra mim que ele está participando"), e Marcelo Miranda Correa, "que publicou o vídeo nas redes sociais". Cristiana afirma que a mãe de Marcelo foi intimada a prestar depoimento.
– (Também está entre os suspeitos) Sérgio Luis da Silva Junior, conhecido como "Da Russa", que é chefe do tráfico no local, porque ele sabe de tudo que acontece no Morro (do Barão). "Ah, porque os traficantes não admitem que isso ocorra na área deles" (conjecturou a delegada). Os traficantes entram nas casas, pegam as meninas e estupram. Ele não admite que outro faça, mas ele faz. E as meninas não falam. Elas são abusadas sexualmente nessas comunidades e não falam.
A delegada disse que a vítima está "coagida, com medo de falar", que ela "não está colaborando", e acrescentou que a menina só falou com a polícia porque as imagens vieram à tona.
Sobre o estupro coletivo relatado durante o vídeo, o chefe de Polícia Civil afirmou que não existem imagens, mas que o desenvolvimento das investigações pode dar mais provas para que seja comprovado.
– Existem indícios fortes, e a narrativa das pessoas no vídeo também constitui indício, mas a polícia tecnicamente tem uma prova cabal. Nós não duvidamos que tenha havido estupro anterior, mas não temos imagens. O que pode acontecer é que, à medida que a investigação vai acontecendo, vamos juntando outras provas que se juntam às iniciais.
Fernando Veloso falou ainda que a troca de delegados foi feita para "preservar" Alessandro Thiers, que estava antes com o caso, elogiou seu desempenho profissional e disse que a delegada Cristiana Bento é "a pessoa certa no lugar certo".
*Zero Hora