O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lançou, na última quinta-feira, uma campanha nacional para estimular a participação feminina na política. Em Porto Alegre, o projeto "Mulheres, cidadãs que podem" começa oficialmente nesta sexta-feira, com um curso para capacitar mulheres a se integrarem à luta política em todas as esferas da sociedade – de partidos políticos a movimentos feministas.
Telia Negrão, coordenadora do Coletivo Feminino Plural – entidade que vai realizar a proposta no Estado – frisou a necessidade de ampliar o número de mulheres nas instâncias de poder:
– Entre 190 países, o Brasil ocupa a 158ª posição em relação à representação feminina no Legislativo. Em 1932 as mulheres não tinham nenhuma vaga em posições políticas. Hoje, quase 90 anos depois, temos apenas 10% de participação nesses cargos.
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A explicação para uma diferença tão grande entre a ocupação de cargos por homens e mulheres pode ser explicada por fatores sociais históricos.
– A participação política da mulher e a própria presença feminina reflete o mundo como ele se constituiu. As relações sociais de gênero estipularam que as mulheres foram destinadas à esfera do doméstico, da vida privada, do afeto, enquanto os homens tiveram, ao longo da historia, papéis públicos. Vivemos em um mundo patriarcal onde o espaço do saber foi relegado aos homens. Então, as mulheres sofrem de estigma de descrédito.
Telia também acredita que as próprias mulheres têm se sabotado na hora de ocupar cargos políticos:
– As mulheres integram a sociedade e, à medida que são fruto do mesmo processo de educação e aculturamento, também reproduzem, mesmo que inconscientemente, uma série de estereótipos e equívocos – explica. – A baixa auto-estima, a imagem que as mulheres têm de si mesmas, não é de pessoa destinada para a vida pública.
A boa notícia é que esse raciocínio está mudando. Pesquisas demonstram que 97% das mulheres e 78% dos homens votariam em uma mulher. A cientista política explicou que o objetivo do projeto é capacitar e incentivar cada vez mais figuras femininas ao empoderamento.
– Nossos projetos sempre foram mais voltados para lideranças comunitárias, movimentos sindicais, etc. Diante do momento atual, decidimos que esse projeto focaria especificamente no exercício da cidadania política. Embora não colocamos como exigência que as mulheres sejam candidatas a algum cargo, queremos dar ferramentas para que todas se sintam preparadas a atuar.
A metodologia adotada para as aulas será o modelo experience learning, em que há uma troca de experiências entre os participantes.
LGBT
No curso que começa nesta sexta, haverá a participação de pelo menos uma mulher transgênero, que já adota o nome social. Telia garante que as pautas do grupo LGBT serão incluídas no debate.
– Não exigimos esse tipo de identificação das inscritas, mas teremos a presença de trans. Elas vão poder trazer suas demandas para ser incluídas nos trabalhos.
Cursos
As aulas abordarão temas como cidadania, direitos humanos, políticas públicas, empoderamento feminino e liderança, comunicação política e agenda do movimento de mulheres. As participantes deverão elaborar um plano para ação política pessoal ou de seu grupo político.
O primeiro curso vai até 2 de abril, na Casa de Formação da Inspetoria Nossa Senhora Aparecida (Rua Gonçalo De Carvalho, 390, Porto Alegre – RS). Até julho, as aulas devem se estender às regiões de Lajeado, Caxias do Sul, Pelotas, Litoral Norte e Passo Fundo. Datas e locais serão divulgados através do blog do projeto.
A realização da proposta é do Coletivo Feminino Plural, com apoio da Secretaria de Políticas para as Mulheres, por intermédio do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos do Governo Federal. As entidades contam ainda com a parceria do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Mulher e Gênero da UFRGS (NIEM/UFRGS), que vai ouvir as impressões das participantes sobre a atuação feminina na política formal e informal.
PEC quer garantir participação
De acordo com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 98/2015, aprovada pelo Senado e em tramitação na Câmara dos Deputados, mulheres devem ocupar um percentual mínimo nas três próximas legislaturas na Câmara dos Deputados, assembleias legislativas e câmaras municipais: 10% das cadeiras na primeira legislatura, 12% na segunda e 16% na terceira. No caso de não haver mulheres eleitas em número suficiente para atingir esses percentuais, as vagas serão preenchidas pelas candidatas com a maior votação nominal individual entre os partidos que atingiram o quociente eleitoral.
*Zero Hora