Militância high-tech
Indeciso no começo, o deputado Luiz Carlos Busato (PTB-RS) assumiu posição clara em favor do afastamento de Dilma Rousseff. Na sessão desta segunda-feira da comissão do impeachment, enquanto os deputados erguiam cartazes em papel com manifestações críticas e de apoio ao processo, o petebista inovava: instalou sobre a mesa um tablet, com tela negra ao fundo, que ininterruptamente transmitia em letras azuis e garrafais a expressão "Impeachment já!!!".
No começo do processo, Busato foi interpelado por pessoas ligadas ao governo. Chegou a receber ligação de Giles Azevedo, assessor da confiança de Dilma.
– Não me procuraram mais, me largaram – brincou o parlamentar do PTB.
Uma indicação do deputado perdeu cargo no Inmetro na última semana, e outra, na Superintendência do Ministério da Agricultura no RS, está em vias de sair.
– Me sinto premiado. É uma prova de que não fui comprado – disse Busato.
Previsão de chuva (de atestados)
A partir desta terça-feira, a estratégia dos blocos favoráveis ao impeachment incluirá sucessivos discursos na tribuna da Câmara para pressionar deputados que cogitam faltar à sessão de plenário, provavelmente no domingo, em que será votado o processo contra a presidente Dilma Rousseff.
As ausências favorecem o governo, que tem de somar 172 apoios, entre votos e faltas, para barrar o impeachment.
O Planalto pressiona – e negocia – para que parlamentares indecisos ou que não querem votar contra o afastamento, ao menos deixem de comparecer. São frequentes os comentários sobre a possibilidade de uma chuva de atestados médicos para justificar as ausências.
Leia mais da cobertura do impeachment
Comissão aprova parecer favorável à abertura de impeachment de Dilma
Temer discursa como se Câmara já tivesse aprovado impeachment: ouça
Advogado pede ao STF que impeachment de Temer seja aberto em 24 horas
Caminho das urnas
Diante das dificuldades para manutenção do governo, alas do PT passaram a considerar a hipótese de apoio ao chamamento de eleições gerais para todos os cargos. O crescimento da tese entre os petistas já é de conhecimento de parlamentares de outros partidos.
– Até o PT já está discutindo novas eleições gerais. Estão fazendo isso no sapatinho, como dizemos lá no Rio. Viriam, quem sabe, com o Lula (como candidato) – avaliou o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).
O PT se animou com a colocação de Lula em primeiro lugar na pesquisa Datafolha para a Presidência, na qual obteve 21%, seguido por Marina Silva (Rede), com 19%, e Aécio Neves (PSDB-SP), com 17%.
Cara, crachá
O reforço na segurança para a votação do parecer do impeachment restringiu o acesso à Câmara dos Deputados. No corredor das comissões, só passavam parlamentares, servidores e pessoas credenciadas. Bolsas e mochilas têm de passar por máquinas de raio X, a revista com detector de metais é obrigatória.
Cada crachá era fiscalizado pela polícia legislativa (foto), que portava armas de choque e coletes à prova de balas. Mas alguns servidores da Casa não pareciam estar em sintonia com o momento histórico. Houve caso de funcionário que se negava até mesmo a prestar informações antes do início do expediente, marcado para as 9h. Nem mesmo telefonemas eram respondidos.
– Quem ligar, avisa que o expediente só começa às 9h – orientava o servidor de uma das secretarias da Câmara aos colegas, todos devidamente instalados em suas estações de trabalho, mas ainda de braços cruzados.
Paulo Germano mostra, em vídeo, o aperto na segurança:
Vai ter churras
Um dos expoentes da oposição, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) estava nervoso ao chegar a Brasília no domingo, véspera da votação do parecer contra a presidente Dilma Rousseff na comissão do impeachment.
No aeroporto, não tirava os olhos da esteira de bagagem. O motivo de tanta ansiedade não era algum documento importante, mas sim carne trazida de Porto Alegre para um churrasco no Cerrado.
– O pessoal não aguenta mais carne do Centro-Oeste. Trouxe um vazio maravilhoso – comentou Onyx.
Quartéis-generais
A semana é de cafés da manhã e jantares nos apartamentos funcionais dos deputados em Brasília. Um dos quartéis-generais do PT é o apartamento do catarinense Décio Lima, ponto de encontro tradicional da bancada, que sempre encontra a mesa posta com canapés, suco, água e café – por vezes, há vinho. Já parte da oposição costuma se reunir no endereço de Mendonça Filho (DEM-PE). Outra parcela senta para jantar e articular com Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na residência oficial da presidência da Câmara.
Em família
Nas projeções do grupo do vice-presidente Michel Temer, dos seis ministros do PMDB, apenas Helder Barbalho (Portos) entrega com certeza votos ao Planalto contra o impeachment. Com influência do pai, o senador Jader Barbalho, o ministro garante três votos de deputados do Pará, dois em família: um da mãe, Elcione Barbalho, e outro da madrasta, Simone Morgado. O grupo pró-impeachment pressiona Elcione para mudar de posição.
Alô
Jerônimo Goergen (PP-RS) recebeu telefonema de felicitações dias atrás. Do outro lado da linha estava Michel Temer. O vice-presidente parabenizou o deputado gaúcho pela articulação para garantir maioria do PP a favor do impeachment.