Passava um pouco das 10h de ontem quando José Carlos dos Santos, o Seco, entrou no Salão do Júri, no Fórum de Santa Maria. Junto com ele, sentados nos bancos reservados aos réus, estavam Edson Marcos Silva da Rosa (Tucano), Naiara Silvia Santos dos Santos, Dionatan de Aguiar Bueno (Gordo) e Ari Nunes da Costa. Todos são acusados de tráfico ilícito de drogas e associação ao tráfico.
Seco está no rol dos assaltantes de banco e de carros-fortes do Estado e, até há pouco tempo, não tinha nenhuma relação com Santa Maria. Isso mudou quando ele conheceu Tucano na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).
Investigações da Delegacia Especializada em Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec) apontaram que, a partir do encontro dos dois, Santa Maria passou ser alvo de Seco, que, no comando da facção "Bala na Cara", de Porto Alegre, viu o Coração do Rio Grande como um "mercado promissor" para o tráfico de drogas.
A investigação da Defrec começou em julho de 2015. A partir de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça, os policiais civis descobriram as conexões entre Seco, Tucano e os outros três, que atuariam em Santa Maria. Também descobriram os papéis de cada um dos cinco no grupo e efetuaram as prisões em flagrante de Naiara, Dionatan e Ari _ Seco e Tucano já estavam na cadeia.
O trio foi preso trazendo grande quantidade de crack e cocaína para a cidade. Naiara, namorada de Tucano, foi presa ao desembarcar de um ônibus na Estação Rodoviária de Santa Maria com um quilo de crack e um quilo de cocaína em uma mochila. A ela, cabia transportar e distribuir a droga para os vendedores na cidade e para outros traficantes. Os dois homens foram presos com a mesma quantidade escondida em um carro. Ari seria um transportador. A Dionatan, caberia o transporte, a distribuição e a venda direta.
Depois da passagem pela Pasc, Tucano voltou à Penitenciária Estadual de Santa Maria (Pesm) e, atualmente, está de novo na Pasc, onde cumpre pena por tráfico de drogas. Ele seria o elo de Seco com Santa Maria. Tucano, que conhecia a cidade, por ser daqui, tinhas as relações e conhecimento do mercado.
Seco seria o chefe do grupo e quem daria, de dentro da cadeia, as ordens para o tráfico e para outros crimes. Os comandos eram dados por meio de 'pipas' (espécie de bilhetes), passadas a Tucano na Pasc e, dele, entregue a Naiara durante as visitas. Seco tem condenações por assalto a bancos e a carros-fortes e homicídio. Somadas, as penas chegam a 173 anos de prisão. Ele está na Pasc desde 2006. Seco ou Magrão _ outro apelido atribuído a ele, segundo a polícia _ chegou a Santa Maria por volta das 9h.
Um forte esquema de segurança foi montado para o transporte de Seco de Charqueadas até o Coração do Rio Grande e para garantir a segurança durante a audiência no Fórum. Ao todo, foram envolvidos 26 agentes do Grupo de Ações Especiais da Susepe (Gaes) e do Grupo de Inteligência da 2ª Delegacia Penitenciária Regional (2ª DPR) da Susepe, dentro e fora do Salão do Júri. No entorno do Fórum, duas viaturas e guarnições da Brigada Militar reforçavam o policiamento.
Mas o interesse por Seco e sua quadrilha se reservou à polícia e ao Ministério Público, que buscam condená-lo por mais esse crime, ao Judiciário, em ouvi-lo, e a alguns representantes da imprensa local. Poucas pessoas (cerca de 10), possivelmente estudantes do curso de Direito, acompanharam a sessão pela manhã.