Por volta das 16h desta quarta-feira, mais de 60 militares deram início à cerimônia de sepultamento de Casemiro Scepaniuk, com uma salva de três tiros, no Cemitério Santa Casa de Porto Alegre. Com a bandeira do Brasil estendida sobre o caixão, o paraquedista de número 44 foi conduzido até o túmulo que ele já havia deixado pronto. O militar dizia que não queria dar trabalho à mulher, Ruth Scepaniuk, 90 anos, que também teve seu lugar reservado no mesmo jazigo, junto ao marido. Ele acreditava que "iria antes dela".
Diagnosticado com câncer de estômago, Casemiro estava internado havia cerca de 20 dias no Hospital Militar de Porto Alegre. Na noite de terça-feira, ele não resistiu e morreu em decorrência de falência de múltiplos órgãos. Um dos pioneiros do paraquedismo militar brasileiro, ele tinha 94 anos.
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A construção do túmulo se iniciou havia cerca de 10 anos e, aos poucos, Casemiro foi enriquecendo a sua "futura casa" – como ele costumava dizer – com detalhes que remetessem à sua trajetória na Brigada Paraquedista, atual Brigada de Infantaria Paraquedista. À direita da estátua de bronze idêntica ao dono do túmulo, está a figura de Piloto, o primeiro cão paraquedista da América do Sul. À esquerda, Casemiro optou por colocar a imagem de uma águia, em homenagem ao primeiro curso de paraquedismo que realizou, nos Estados Unidos, na década de 1940.
A fim de deixar a casa pronta para a nova moradia, quase diariamente, o militar se dedicava aos cuidados do túmulo, no qual gastou quase o valor do apartamento de três quartos em que vivia, no bairro Partenon, na Capital.
No mesmo cemitério está a sepultura do músico Teixeirinha, motivo de "orgulho" para o militar, que tinha o bom humor como uma marca característica. "Tenho certeza que até o Teixeirinha vai tocar, é meu vizinho", brincou, em entrevista concedida à RBS TV, em 2009.
Casemiro e Ruth se conheceram no Rio de Janeiro e mantinham uma relação de mais de 60 anos. Eles não tiveram filhos.
O gaúcho nasceu em Erechim, na região norte do Estado, e, no início dos anos 1940, concluiu o serviço militar obrigatório, em Curitiba. Formou-se na Escola de Educação Física do Exército e se especializou em paraquedismo nos Estados Unidos. Era o número 44 de um total de 47 oficiais e sargentos que foram para Fort Benning, no Estado de Geórgia, tornando-se pioneiros do paraquedismo militar brasileiro. Com a perda de Scepaniuk, destes, apenas quatro ainda vivem.
O jovem então era destaque nos esportes, principalmente no futebol. Jogou no antigo Britânia Sport Clube, atual Paraná Clube, e também foi instrutor de atletismo do Núcleo da Divisão de Paraquedistas do 1º Exército, hoje Comando Militar do Leste.
Um dos primeiros instrutores da Brigada Paraquedista do Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, Casemiro também ficou conhecido por "salvar a vida" de colegas. Após ter descoberto uma falha em um gancho de paraquedas, criou uma espécie de pino de segurança, que impedia a abertura acidental do equipamento. O invento recebeu o nome de "gancho de chipanique" – referência à pronúncia do sobrenome de origem polonesa de Casemiro
Atualmente, o militar integrava, em Porto Alegre, o Grupo Grafonsos, que congrega paraquedistas de todo o Brasil.
O colega Ricardo Freire prestou uma homenagem ao comunicar a morte do amigo e colega pelo Facebook: "Temos a triste missão de nos preparar para inaugurar o mausoléu do pioneiro Pqdt 44 Casemiro Scepaniuk. Mais um bravo paraquedista militar que vai cumprir missão eterna na brigada celestial aeroterrestre", disse no post.
Os colegas que estiveram presentes no sepultamento prestaram a última homenagem a Casemiro cantando Eterno Herói, a canção do paraquedista.