Uma rixa entre jovens de São Jerônimo e Charqueadas teria motivado a briga que matou Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro Júnior, 17 anos, na saída de uma festa no dia 1º de agosto, em Charqueadas. Conforme depoimentos de testemunhas na primeira audiência sobre o caso, Ronei Jr. não era o alvo do bando que partiu para cima dele, de seu pai, Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro, e de um casal de amigos. O propósito do grupo era bater no amigo, que mora em São Jerônimo.
– Quando tem festa em Charqueadas, os jovens não aceitam a presença de pessoas de São Jerônimo e vice-versa – disse a assistente de acusação, Marcele Silva.
Segundo ela, as vítimas foram agredidas com garrafas, e o pai de Ronei Jr. teve de fugir de lá com as portas do carro abertas direto para o hospital, onde o filho acabou morrendo.
Ao todo, 19 testemunhas foram ouvidas nesta quarta-feira pela juíza Paula Fernandes Benedet no Fórum de Charqueadas. Uma nova audiência está marcada para as 13h do dia 25 deste mês. Na ocasião, duas testemunhas de acusação – que não puderam dar seus relatos nesta quarta-feira – e aproximadamente 50 testemunhas de defesa darão seus relatos.
A audiência desta quarta-feira se iniciou por volta das 9h30min. A juíza, o promotor João Cláudio Sidou e oito advogados dos nove réus acusados de homicídio triplamente qualificado do adolescente, três tentativas triplamente qualificadas (contra o pai de Ronei Jr. e o casal de amigos) e por formação de quadrilha, acompanharam os depoimentos. Dos nove réus adultos, oito estão na cadeia e um,em prisão domiciliar.
O primeiro a falar foi o pai do adolescente. Durante cerca de 1h30min, ele relembrou com detalhes a noite de 1º de agosto. Em diversos momentos se emocionou:
– No hospital, ele estava bem e falava comigo. A única coisa que ele perguntava era se eu estava bem, se eles haviam me machucado.
Ronei disse lembrar do rosto de apenas um dos jovens que participaram do ataque. Quando ficou frente a frente com os réus, Ronei identificou o agressor de seu filho.
– Foi péssimo ver os réus, pois reparei que entre eles tinha inclusive alguns jovens que moravam perto de nossa casa. É uma sensação horrível, tanto por não ter conseguido defender meu filho quanto por vê-los na minha frente.
Enquanto Ronei falava, manifestantes fizeram um abraço coletivo ao redor do fórum, pedindo paz e homenageando Ronei Júnior. Antes de finalizar o depoimento, o pai do jovem pediu licença para dar um relato:
– Recebi, através de conhecidos, um recado: de que o que estava preparado para mim, eu iria receber. Foi uma ameaça, mas nem dei queixa. O pior que poderia acontecer pra mim, já aconteceu.
Depois de Ronei, falaram o casal de amigos que estava no veículo no momento das agressões. Um deles também relatou ter sofrido ameaças nas últimas semanas.
Entre as testemunhas também estavam os quatro adolescentes acusados das agressões e que cumprem medida socioeducativa. Enquanto dois disseram não estarem junto com o grupo que agrediu as vítimas, um dos menores assumiu ter batido no amigo de Ronei Jr e outro, no pai dele. Também foi ouvido o delegado que investiga o caso, que afirmou que o crime foi planejado. Dois seguranças que viram as cenas também prestaram depoimento. Um deles, que trabalha em um supermercado, contou que alguns dos agressores comemoraram quando a confusão acabou. O segurança da festa disse que a briga começou 45 minutos depois do fim do evento e não teve como ajudar devido a quantidade de gente que agredia as vítimas.
Fique sabendo
Em setembro, quatro dos sete adolescentes que também respondiam pelo assassinato de Ronei foram condenados pelo Juizado da Infância e Juventude da Comarca de Charqueadas – o juiz Francisco Morsch aplicou a medida socioeducativa de internação pelo prazo máximo, que é de até três anos. Dois adolescentes foram absolvidos por falta de provas, e para o sétimo rapaz contra o qual o Ministério Público ofereceu representação (que equivale à denúncia de adultos) ainda não foi proferida sentença.