A desaceleração das obras da segunda Ponte do Guaíba assusta centenas de famílias, tanto de moradores que não sabem quando serão realocados, quanto de trabalhadores que correm o risco de demissão. A falta de informações concretas sobre o andamento das obras e o repasse das verbas federais aumenta o clima de incerteza.
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e Ministério dos Transportes atribuem um ao outro a gestão sobre o dinheiro que é repassado à Queiroz Galvão - empreiteira responsável pela obra que, por sua vez, não se manifesta sobre o assunto.
VÍDEO: guindaste cai em meio às obras da nova ponte do Guaíba
Na Ilha Grande dos Marinheiros, cerca de 400 famílias convivem com a angústia. Elas terão que deixar suas moradias, já que a construção deve ocupar grande espaço do terreno, e serão realocadas em novas residências. O problema é que a remoção deveria ter começado até o final de 2015. Porém, até agora, apenas as novas áreas das moradias foram definidas. O projeto de infraestrutura foi elaborado pelo Dnit, mas ainda não saiu do papel e não tem prazo para se concretizar.
Em um ano, desemprego no RS sobe quase 4 pontos percentuais
Enquanto isso, as famílias esperam. Uma delas é a de Maria Rosane Gonçalves Machado, 50 anos, dona de casa. Ela morava em uma casinha de madeira no Beco 18, em um terreno onde ficavam também as casas de duas filhas. Depois da enchente de outubro, a casa da filha Naira Franciele Machado de Oliveira, 26 anos, desempregada, veio abaixo, e a própria residência de Maria ficou com o assoalho comprometido.
- Passamos por duas enchentes só em 2015, tudo ficou podre até cair - conta Maria.
Com o risco de a casa desabar, a mãe, filha e dois netos foram morar de favor na casa dos fundos de uma vizinha. A família não quer reconstruir a casa em vão, já que está prometida a nova residência pelo Dnit.
Leia mais notícias sobre a nova ponte do Guaíba
- Eu sinto muita raiva. Estamos em uma situação em que parece que gritamos bem alto, mas ninguém ouve. Precisamos urgente de uma casa, não só nós, mas centenas de moradores aqui que tiveram suas casas danificadas e estão sem saber o que fazer. O pessoal está todo revoltado, porque essas casas não saem nunca - desabafa Maria.
Reunião adiada
A líder comunitária local Nazaret da Silveira Nunes aguarda notícias sobre a remoção. Uma reunião entre a comunidade e a Queiroz Galvão estava marcada para o dia 24 de novembro para definir novos prazos, já que a obra está atrasada, mas o encontro foi adiado para este mês.
- Nos falaram que falta dinheiro para fazer a obra, mas como que falta dinheiro se, no início de 2015, falaram que "dinheiro era o de menos"? Como o discurso se inverteu? - questiona.
Buracos desafiam motoristas na RSC-101, entre Capivari do Sul e Tavares
Ao todo, 998 famílias, incluindo, além da Ilha Grande dos Marinheiros, moradores das vilas Tio Zeca e Areia, terão de sair de suas casas devido às obras da ponte.
Futuro incerto
Medo do desemprego e da falta de moradia: os dilemas que envolvem a construção da nova ponte do Guaíba
Moradores da Ilha dos Marinheiros vivem dilema sobre novas casas prometidas, enquanto trabalhadores temem novas demissões na obra
GZH faz parte do The Trust Project