Os ataques terroristas em Paris, na noite de sexta-feira, deixaram ao menos 129 mortos na cidade. O local que concentrou o maior número de mortes foi a casa de shows Bataclan, que recebia uma apresentação da banda norte-americana Eagles of Death Metal: foram 89 vítimas fatais. E uma das sobreviventes precisou se fingir de morta para não aumentar o número.
Isobel Bowdery estava no Bataclan para assistir o show quando ouviu os primeiros tiros dos terroristas. Em estado de choque, ela ficou deitada em meio às vítimas, em "piscinas de sangue", até conseguir deixar o local.
- Não foi apenas um ataque terrorista, foi um massacre. Dezenas de pessoas foram baleadas na minha frente. Piscinas de sangue encheram o chão. Chocada e sozinha, eu fingi que estava morta por mais de uma hora. Estava segurando minha respiração, tentando não me mover e não chorar".
A jovem de 22 anos disse que teve "a incrível sorte de sobreviver" e agradeceu aos "completos estranhos" que a consolaram assim que saiu da casa para a rua.
Posted by Isobel Bowdery on Sábado, 14 de novembro de 2015
you never think it will happen to you. It was just a friday night at a rock show. the atmosphere was so happy and...
Confira a tradução do relato de Bowdery:
"Você nunca pensa que isso vai acontecer com você. Era apenas uma noite em um show de rock. A atmosfera estava tão feliz e todos estavam dançando e sorrindo. E, então, vieram os homens pela entrada principal e começaram a atirar. Nós acreditamos, inocentemente, que era tudo parte do show.
Não foi apenas um ataque terrorista, foi um massacre. Dezenas de pessoas foram baleadas na minha frente. Piscinas de sangue encheram o chão. O choro de homens crescidos sobre os corpos de suas namoradas mortas encheram a pequena casa de shows. Futuros dizimados e famílias de coração partido em um instante.
Chocada e sozinha, eu fingi que estava morta por mais de uma hora, deitada entre pessoas que podiam ver aqueles que amavam sem vida. Estava segurando minha respiração, tentando não me mover, não chorar - não dar àqueles homens o medo que eles queriam tanto ver.
Eu tive a incrível sorte de sobreviver. Mas muitos não tiveram. Pessoas que estavam ali pelas mesmas razões que eu - para se divertirem na noite de uma sexta-feira. Este mundo é cruel. Atos como esse são supostamente para realçar a depravação do ser humano e as imagens dos homens circulando entre nós como vultos vão me assombrar pelo resto da minha vida. A forma como eles meticulosamente atiraram nas pessoas ao redor da área em que estavam, bem no centro, sem nenhuma consideração pela vida humana. Não achei que fosse real. Eu esperava o momento em que alguém me diria que isso era apenas um pesadelo.
Ser uma sobrevivente desse horror me faz capaz de lançar uma luz sobre os heróis. Ao homem que me tranquilizou e colocou sua vida na linha de tiro quando tentou cobrir meu cérebro enquanto eu gemia; ao casal cujas palavras finais de amor me mantiveram acreditando no mundo; ao policial que sucessivamente resgatou centenas de pessoas; aos completos estranhos que me tiraram da rua e me consolaram pelos 45 minutos durante os quais eu achei que o homem que eu amo estava morto; ao homem machucado que eu confundi com ele e, quando eu reconheci que não era Amaury, me segurou e me disse que tudo ia ficar bem, mesmo que ele estivesse sozinho e assustado; à mulher que abriu suas portas para os sobreviventes; aos amigos que ofereceram abrigo e foram comprar novas roupas para mim para que eu pudesse tirar essa blusa suja de sangue; a todos que enviaram mensagens de carinho e apoio - vocês me fazem acreditar que o mundo ainda tem potencial para ser melhor, que nunca vão deixar isso acontecer de novo. Mas, principalmente, às 80 pessoas que foram assassinadas dentro da casa de show, que não tiveram tanta sorte, que não vão acordar hoje e toda a dor que seus amigos e família estão passando agora.
Eu peço desculpas. Não há nada que eu possa fazer para aliviar a dor. Eu me sinto privilegiada por estar lá em seus últimos suspiros. E , sinceramente, acreditando que me juntaria a eles, eu prometi em meus últimos pensamentos que nós não éramos os animais que causaram isso. Estava pensando nas pessoas que eles amavam.
Enquanto estava deitada sobre o sangue de estranhos e esperando a bala que daria fim aos meus 22 anos, eu visualizei o rosto de todos aqueles que eu amei por toda a vida e sussurrei 'eu te amo', várias e várias vezes. Refleti sobre os pontos altos da minha vida. Desejando que aqueles que eu amo soubessem o quanto, desejando que eles soubessem, independentemente do que acontecesse comigo, que deveriam continuar acreditando nas pessoas boas e não deixar esses homens vencerem. Noite passada, as vidas de muitos foram mudadas para sempre e cabe a nós ser pessoas melhores - para viver a vida que as inocentes vítimas desta tragédia sonharam, mas infelizmente são serão capazes de realizar."
Confira o mapa dos ataques:
*Zero Hora