Foragido do Brasil desde 2011 para tentar se livrar de processo na justiça gaúcha, o ex-vice­-cônsul de Portugal em Porto Alegre, Adelino de Assunção Nobre de Melo Vera-Cruz Pinto, 53 anos, sentará no banco dos réus pela primeira vez na próxima quinta-feira, em Lisboa, para dar explicações sobre um desvio de R$ 2,5 milhões da Arquidiocese da Igreja Católica de Porto Alegre. Para o dia 10 de dezembro, está marcada a segunda audiência.
Trata-se do início do julgamento pela acusação de lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e burla (semelhante a estelionato), apresentada contra Adelino pelo Ministério Público português. O MP também denunciou a companheira dele, Maria Anunciação Cabral Figueiredo, e pede a devolução dos valores desviados, corrigidos (equivalente a R$ 4,2 milhões).
A denúncia aponta que Adelino transferiu 90% do dinheiro da igreja, depositado na conta dele no Brasil, para bancos portugueses. Comprou um carro modelo Opel, avaliado em R$ 91,5 mil, quitou empréstimos e os financiamentos de dois imóveis - um sitío de lazer e um apartamento. Somados, valem R$ 1,2 milhão. O ex-vice-cônsul também abasteceu contas da mulher, de dois filhos e da mãe.
O julgamento será conduzido pela juíza Hermengarda Vale­Frias, da Justiça de Lisboa. Não há estimativa de data para a sentença, pois serão ouvidas testemunhas em Lisboa e também no Rio Grande do Sul, por meio de videoconferência, ainda pendente de acordo jurídico entre Brasil e Portugal. Em caso de condenação, o ex-vice-cônsul pode ser punido em até 12 anos de prisão.
Em março, ZH localizou Adelino em Lisboa. Ele alegou que não tinha dinheiro e que "vivia de favor" em um hotel da cidade, embora fosse visto em lugares chiques e em trajes elegantes. O ex-vice-cônsul seria viciado em jogatina. Estima-se que tenha gastado significativa parcela em roletas em cassinos de Lisboa e de Estoril.
ZH apurou que Adelino declarou imposto de renda pela última vez em 2010 (referente aos ganhos do ano anterior) e tudo indica que consumiu os recursos desviados da Igreja Católica entre 2011 e 2012. Nos dois anos seguintes, movimentou apenas o equivalente a R$ 24 mil em dois bancos. A Arquidiocese contratou um advogado para acompanhar o caso em Lisboa. A expectativa é de reaver o dinheiro.
Em Porto Alegre, Adelino é réu em processo que tramita na 10ª Vara Criminal do Fórum Central. A Justiça gaúcha encaminhou cartas rogatórias para que o ex-vice-cônsul e testemunhas arroladas por ele sejam ouvidas em Portugal.
* Zero Hora