As lousas digitais foram entregues pelo Ministério da Educação (MEC) a 1,6 mil escolas estaduais do Rio Grande do Sul, ao longo dos últimos dois anos, como estímulo ao avanço tecnológico no ensino. O objetivo era fomentar o uso de tecnologias e a modernização das escolas públicas para facilitar a aprendizagem dos alunos.
Em Santa Maria, 30 escolas de Ensino Médio e Fundamental receberam a lousa em 2013. Mas, na maioria das instituições, ou elas não são utilizadas ou são pouco aproveitadas. Em algumas, ainda hoje, os aparelhos permanecem encaixotados.
O Diário visitou 10 escolas da cidade (as cinco maiores em número de alunos e cinco medianas e pequenas). Do total, cinco não usa, de fato, a lousa. Em três dessas, o equipamento está na caixa em que chegou ao colégio. Nas outras duas, o aparelho foi instalado, mas não é utilizado. Das outras cinco escolas, em duas, a lousa é pouco utilizada e em apenas duas, é usada com frequência por pelo menos parte dos professores. Uma das instituições visitadas, a Escola Estadual de Ensino Médio Professora Maria Rocha, não recebeu a lousa digital (confira abaixo onde e como os equipamentos estão em funcionamento).
O uso de tecnologia na educação e a modernização das escolas foi um dos assuntos abordados pelo Diário no levamentamento feito nas 10 escolas sobre os desafios que as novas gestões terão a partir do ano que vem. As eleições para diretores e vice-diretores estão marcadas para 15 de dezembro.
Os assuntos abordados no diagnóstico serão apresentados na série Os desafios na educação pública estadual, que começa neste sábado com a reportagem Lousa Digital: com pouco ou nenhum uso, na Revista Mix do "Diário".
Aula de interatividade
No sistema de lousa digital são interligados um datashow ou projetor, um computador e a lousa propriamente, que consiste em um receptor e um transmissor bluetooth. É preciso ainda um quadro ou tela branca. Por meio do datashow, os conteúdos são projetados do computador para a tela. A lousa, associada a estes equipamentos, permite que os elementos _ texto, imagens, gráficos _, sejam manipulados (movimentados, cortados, costurados) por professores e alunos, com o uso de uma caneta interativa ao simples toque da caneta na superfície.
O prejuízo é no aprendizado
Cada lousa custou R$ 1,8 mil. O dinheiro é do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Considerando as cinco escolas visitadas que não utilizam o equipamento o montante é de R$ 9 mil. Com o subaproveitamento nas outras duas instituições que pouco utilizam a tecnologia, são mais R$ 3,6 mil, num total de R$ 12,6 mil.
Mas, o prejuízo maior é no aprendizado. Nas cinco escolas que sequer instalaram a lousa nos últimos dois anos em Santa Maria, são mais de 7,2 mil alunos (3,6 mil em 2014 e 3,6 mil em 2015) que não tiveram acesso ao recurso multimídia. Nas escolas em que a lousa é usada, professores e alunos garantem que ela facilita o entendimento dos conteúdos didáticos.
- Os recursos tecnológicos contribuem para a motivação dos alunos e a atualização do fazer em sala de aula - diz Ana Marli Bulegon, doutora em Informática na Educação pela UFRGS e professora do Colégio Manoel Ribas e do curso de doutorado em Ciências e Matemática da Unifra.
Além disso, em escolas da periferia que implementaram o recurso, a lousa proporciona a inclusão digital de crianças e adolescentes.
Sobra resistência e falta espaço físico
Se a lousa digital é um recurso tão bacana, motiva, ajuda no aprendizado e ainda promove a inclusão, por que ela não é utilizada na maioria das escolas visitadas pelo "Diário"?
Em geral, os atuais diretores dizem que isso se deve à resistência dos professores em utilizar um recurso que eles não dominam ou à opção dos docentes pela metodologia tradicional de ensino.