Em resposta à angústia de grande parte da opinião pública polonesa, Varsóvia anunciou que fará tudo a seu alcance para localizar o trem. Não, não se trata de uma composição repleta de refugiados perdida em algum entroncamento da Europa Central. O comboio que tira o sono dos poloneses é o mítico "trem nazista", supostamente carregado de ouro e enterrado na região da Baixa Silésia (sudoeste) ao final da II Guerra Mundial.
A Baixa Silésia, hoje situada na Polônia, foi território alemão de 1871 a 1945. Ao final da guerra, as terras a leste do Rio Neisse passaram a fazer parte da Polônia por decisão dos Aliados, como punição contra Berlim. A maioria da população local era constituída de alemães e checos, que foram expulsos para trás das recém-demarcadas fronteiras pós-guerra do que são hoje a Alemanha e a República Tcheca.
Setenta anos depois da erradicação de seus habitantes germânicos, porém, a região continua assombrada por lendas a respeito de tesouros nazistas enterrados. A mais recente versão sobre o "trem nazista" recebeu um parecer favorável de peso: o curador-geral de Monumentos da Polônia, Piotr Zuchowski, declarou-se "99% convencido" da existência do comboio.
O veículo, blindado, teria mais de cem metros e estaria enterrado no subsolo, segundo indicariam imagens de radar vistas pelo curador. A área em que o trem foi localizado, na região de Walbrzych, estende-se por cerca de três hectares de terra e será monitorada pela polícia ferroviária. Na terça-feira, o Ministério da Defesa anunciou o envio de técnicos, entre eles militares especialistas em minas terrestres, para verificar a existência do objeto misterioso "a pedido do governador da região".
O mais surpreendente, na lenda do trem enterrado, é que em nenhum momento as autoridades polonesas tenham se preocupado em fazer uma advertência simples: se a composição existisse (ou mesmo se se tratasse de um reles vagão), e fosse verdadeira a suposição de que contivesse valores, seriam seguramente objetos de roubo e pilhagem efetuados durante a guerra pelo regime de Hitler.
Afinal, os nazistas não passavam de bandidos uniformizados. Em vez de transformar o "trem nazista" no alvo de uma infantil e descabida caça ao tesouro, a Polônia (cujos cidadãos estiveram entre as maiores vítimas do nazismo) faria melhor se alertasse para os perigos do ódio e do exclusivismo racial.
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