Terceira Via foi a grife política típica dos anos 1990, como "perestroika" havia sido a dos anos 1980. Seu garoto-propaganda, o trabalhista britânico Tony Blair, sintetizou nela a noção de que existiria um caminho do meio entre o neoliberalismo thatcherista e o credo socialista fabiano de Bernard Shaw e H. G. Wells. O mundo se apaixonou pela ideia de Terceira Via (no Brasil, até hoje muitos sonham com ela) para, afinal, vê-la soterrada, em 2003, nos escombros da invasão do Iraque, da qual Blair foi entusiasta.
Hoje, os trabalhistas britânicos devem enviar a última peça do legado de Blair - o chamado Novo Trabalhismo - para a feira de outlet da história. Esse termo designou a conversão do velho partido à economia de mercado e ao antiestatismo. Numa guinada histórica, a eleição da nova direção trabalhista deve ser vencida hoje pelo mais anti-Blair entre os quatro candidatos: o veterano Jeremy Corbyn, 66 anos.
Corbyn rejeitou a Guerra do Iraque e descarta aventuras militares na Síria. Defende reestatização de ferrovias, investimentos em infraestrutura capitaneados pelo Banco da Inglaterra e ensino superior gratuito custeado por impostos sobre as grandes corporações. Foi próximo do Sinn Fein irlandês e do Congresso Nacional Africano de Nelson Mandela na época em que ambos eram tidos como terroristas.
Apressados podem encarar a eleição de Corbyn como uma modalidade de suicídio assistido. Na realidade, trata-se de um giro comum nesse partido centenário que ainda seduz jovens. Sem Blair, não haveria Corbyn. E, sem Corbyn, ninguém ligaria para a sucessão trabalhista. Como disse o insuspeito magnata Rupert Murdoch, ele é o único candidato "que parece acreditar em algo".