O dólar passou, nesta semana, de R$ 4 pela primeira vez na história. Quando atingiu a marca R$ 4,24, na quinta-feira, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, insinuou a possibilidade de adotar uma medida pouco utilizada no mercado brasileiro: a venda de dólares das reservas internacionais no mercado à vista.
Bastou ameaçar - porque até agora não foi feito - para que a moeda americana caísse para R$ 3,99 quase que imediatamente. Mas o que significaria usar as reservas internacionais?
- É como se tivesse um cofre lá em Brasília com US$ 370,5 bilhões. O Banco Central pode pegar parte desse valor e vender no mercado. Como a causa de o dólar estar alto é a sua falta no mercado, com o aumento da oferta, o preço cai. É como se fosse qualquer produto regido pela lei da oferta e da procura - compara o professor de Economia da UFRGS, Marcelo Portugal.
A comparação com o cofre só não é literal porque o dinheiro das reservas não está realmente guardado.
- Ninguém guarda dinheiro num cofre ou embaixo do colchão, porque isso não dá dinheiro. Por isso, o Banco Central investe esse dinheiro em bancos do Exterior, compra títulos do Tesouro americano entre outras aplicações, para que renda juros - explica Portugal.
A principal vantagem de manter as reservas internacionais é o recado que elas passam: "este país é capaz de suportar turbulências econômicas". Um nível baixo ou em queda pode ser um indicativo de que uma corrida bancária contra a moeda local é iminente ou de que um "calote" é provável, configurando uma crise monetária, por isso é evitada.
A última vez que o BC realizou vendas diretas de dólares ao mercado foi no dia 3 fevereiro de 2009, durante a crise financeira internacional iniciada em setembro do ano anterior. Naquele momento, assim como agora, havia uma pressão maior sobre o dólar, então o BC usou desse recurso para "controlar" a oferta da moeda americana.
A venda direta de dólares ao mercado foi muito utilizada no primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a 1998, logo após o lançamento do Plano Real. O governo da época instituiu a chamada "âncora cambial", determinando que o dólar não poderia passar de R$ 1,32 - justamente pelo medo de que a alta do dólar repercutisse nos preços finais, já que o país tinha acabado de conter a hiperinflação.
O BC vendeu divisas até janeiro de 1999, quando o Banco Central abandonou o sistema de bandas cambiais, passando a operar em regime de câmbio flutuante, que deixa o dólar variar conforme as condições de mercado. Nessa época, as reservas estavam em torno de US$ 25 bilhões. Atualmente, estão em US$ 370,58 bilhões.