Uma técnica de reconstrução facial em imagem tridimensional (3D) será usada de forma inédita no Estado pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) na investigação das circunstâncias da morte de Odilaine Uglione, mãe do menino Bernardo.
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A partir de vestígios encontrados no crânio, peritos farão uma reprodução simulada de como foi feito o disparo. O objetivo é verificar as hipóteses de suicídio e de homicídio para atestar o que realmente ocorreu com Odilaine, em 2010.
Ela sofreu um disparo na cabeça em fevereiro daquele ano, dentro do consultório do então marido, o médico Leandro Boldrini. Morreu horas depois, no hospital de Três Passos.
O caso foi encerrado à época como suicídio. A investigação da morte da mãe de Bernardo foi reaberta em maio deste ano pela Justiça, depois de a família colocar sob suspeita a hipótese de suicídio, usando uma série de perícias particulares para afirmar que Odilaine teria sido assassinada.
Uma delas questionou a perícia oficial sobre a trajetória do disparo que a matou. Outra, apontou que a carta com tom suicida e de despedida não seria de autoria de Odilaine. Para dirimir esta e outras dúvidas, perícias estão sendo revistas e exames novos, realizados.
Desde julho, o IGP se dedicou a conhecer a técnica de reconstrução facial em 3D, ensinada pelo designer 3D Cícero Moraes. É a primeira vez que os peritos vão aplicar a sistemática em um caso no Estado.
Com a exumação dos restos mortais, o crânio de Odilaine será refeito em imagem tridimensional para que peritos possam fazer testes tentando reproduzir o momento do tiro. Com isso, outras situações poderão ser verificadas.
- Existe grande empenho. Aproveitamos a complexidade do caso para o desenvolvimento de novas tecnologias de forma a esclarecer da melhor maneira possível todo questionamento científico do ponto de vista dos vestígios apresentados para exame - explica o diretor-geral do IGP, perito criminalístico Cleber Teixeira Müller.
Outras três perícias estão sendo feitas. Uma é a que vai revelar se a carta encontrada na bolsa de Odilaine no dia em que morreu é de sua autoria. Peritos do IGP também farão testes com a arma usada no disparo que a matou.
Por fim, material genético coletado sob as unhas dela, em 2010, está sendo analisado para verificar se há o cromossomo Y, presente apenas em homens. Se for encontrado, o material deve ser comparado ao de Boldrini, que está preso sob acusação de envolvimento na morte do filho Bernardo.
O IGP espera concluir as principais perícias em 30 dias. O delegado que conduz a investigação, Marcelo Lech, pediu à Justiça semana passada nova prorrogação do prazo para concluir o trabalho. É a terceira vez que a nova apuração ganha mais prazo. Testemunhas seguem sendo ouvidas e ainda pode haver reconstituição do caso.
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Outros elementos periciais são aguardados a partir da exumação do corpo, feita há uma semana. O delegado solicitou informações sobre traumatismo no crânio. Odilaine teria dado um tiro na boca, e o projétil ficou alojado na cabeça. Também será verificado se há materiais genéticos que possam servir para outros exames.
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A terceira perícia que será solicitada pelo delegado é a reconstituição do caso. A ideia é reunir no consultório de Boldrini as pessoas que lá estavam no dia do fato, inclusive o médico e a ex-secretária.
- Mas esse pedido só farei depois de esgotar todos os depoimentos necessários a fim de reunir um bom conjunto de informações para os peritos que farão essa reprodução dos fatos - disse o delegado.
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A MORTE DE ODILAINE
- Odilaine Uglione morreu no dia 10 de fevereiro de 2010, no hospital de Três Passos, horas depois de supostamente atirar contra a própria cabeça, dentro do consultório do marido, o cirurgião Leandro Boldrini.
- Testemunhas viram Odilaine chegar nervosa e entrar na sala para esperar Boldrini.
- Conforme o relato de testemunhas à época, Boldrini saiu correndo da sala e um tiro foi ouvido.
- A investigação da morte foi arquivada com a conclusão de suicídio.
- Depois que Bernardo Uglione Boldrini, filho de Odilaine e Leandro, foi morto, em abril de 2014, e o pai e a madrasta surgiram como suspeitos do crime, a família de Odilaine passou a tentar reabrir o caso de 2010.
- A Justiça negou os pedidos até que uma perícia particular indicou que a carta de despedida, encontrada na bolsa de Odilaine, não teria sido escrita por ela, mas sim pela ex-secretária de Boldrini, Andressa Wagner.
- Assim que o resultado da perícia particular foi tornado público, Andressa registrou ocorrência por calúnia e forneceu material escrito para que a perícia oficial faça a comparação com a carta de suicídio.
*Zero Hora