Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, na manhã desta segunda-feira, o ex-deputado do PDT Carlos Araújo defendeu as manifestações populares que tomaram conta das ruas em diversas cidades brasileiras no domingo. Ex-marido de Dilma Rousseff (PT), o político criticou, no entanto, os pedidos de impeachment - relacionando-os ao que chamou de "interesse específico de Aécio Neves (PDSB)", de supostamente querer derrubar a presidente e, em eleições imediatas, ter chance de se candidatar e vencer.
- Há uma insatisfação popular no Brasil contra o governo que é grande, principalmente por causa da crise econômica. Há desemprego, direitos que a pessoa conquistou e que tem medo de perder. Há motivos para protestar, para sair nas ruas, para dar contra o governo. Mas isso é uma coisa, outra é querer impor o impeachment, como quer o Aécio Neves. Isso não é regime democrático - disse Araújo.
Araújo disse ao programa que não teve contato com Dilma Rousseff nos últimos dias, mas que, conhecendo a presidente, seria possível afirmar que ela "evidentemente está preocupada em sair logo da crise":
- É óbvio que ela sabe de suas responsabilidades. Ela é uma pessoa que, pela sua experiência de vida e de luta, não irá se abalar com isso. Isso pode trazer mais preocupações, mas não insegurança. Ela sabe o que está fazendo, os passos que está dando, fazendo o esforço que pode fazer para superar essa situação.
Para o pedetista, o pedido de impeachment é um "atentado" contra a democracia e os valores básicos que uma sociedade deve ter, como o respeito aos resultados das urnas.
- Perder a eleição e querer impeachment por causa disso, como quer o Aécio Neves e a turma dele, isso não. Isso é pregar a ditadura. (...) Só que o Aécio Neves, quando vê que o candidato do partido dele para as eleições presidenciais de 2018 será o Alckmin, quer agora inventar uma coisa artificial a todo custo, para motivar a queda da presidente e ter eleições imediatas como chance de ser candidato. Isso é fora das regras do jogo, são interesses específicos que não podem ser confundidos ou superiores às questões democráticas básicas - defendeu.
O político considera a crise política brasileira "artificial". De acordo com Araújo, o que motiva a população brasileira aos protestos é uma crise econômica que tem como origem a conjuntura internacional - e que é agravada por "erros internos nossos, do nosso governo", como ponderou. Não há, no entanto, defende ele, motivos legais para ocorrer um impeachment.
- Para ocorrer um impeachment, tem que ter motivo legal. E não há motivo legal nenhum no país. As instituições do Brasil inteiro estão funcionando normalmente, não há nenhuma acusação direta à presidente da República. Pelo contrário, o que está havendo, de uma semana para cá, são manifestações das principais entidades do Brasil, de empresário, trabalhadores e organizações civis, dizendo que o Brasil precisa ter uma unidade democrática, trabalhar e superar essa crise - disse o ex-deputado.
Sobre uma recente declaração do senador Lasier Martins (PDT), em que afirmava que Dilma "não duraria meses no partido", Araújo foi breve:
- Não existe nenhuma avaliação do PDT a respeito disso. Até onde sei, essa é uma avaliação do Lasier e de outros políticos específicos do PDT. Cada um tem a sua opinião. Agora, entre a opinião de Lasier e a realidade, normalmente existe um vazio muito grande.
O ex-deputado ainda desconsiderou a possibilidade de uma reavaliação das alianças de Dilma, afastando-se do PT e se unindo a outros setores até então distantes do governo.
- Ela tem uma aliança forte, que tem dado respaldo ao governo até hoje. Em momentos de crise política e econômica, as alianças sempre ficam abaladas. Normal. Eu vejo que, em relação a presidente da República, de uma semana para cá, houve manifestações da Fiesp, da Confederação Nacional da Indústria, do capital financeiro, representado sobretudo pelo presidente do Bradesco e de entidades da organização civil. Esse é um apelo nacional para que a gente saia dessa crise logo e retome o desenvolvimento brasileiro, que é o que interessa para o nosso povo - concluiu o político.
*Zero Hora com informações da Rádio Gaúcha