Laboratórios clandestinos gaúchos assumiram o mercado de anabolizantes no país após o fechamento do maior deles, no Rio de Janeiro, em março, segundo reportagem apresentada neste domingo, no programa Fantástico, da Rede Globo. A partir do desmonte feito pela Polícia Federal (PF), parte da produção em larga escala continuou em solo gaúcho.
Entre julho e agosto, o Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc) desmontou dois laboratórios caseiros em Porto Alegre, no bairro Santo Antônio e no Centro Histórico. Ambos funcionavam dentro de residências, onde a Polícia Civil encontrou equipamentos, óleos e pó para a fabricação do produto.
- Eles assumiram o mercado e passaram a vender, por site e redes sociais, para todo o país. Existe um mercado consumidor muito grande e a venda desse produto gera muito lucro, por isso há continuidade - explica delegado da 1ª Delegacia de Investigações do Narcotráfico do Denarc, Mário Souza.
Quatorze pessoas ligadas a esse crime foram presas no RS e vão responder por tráfico e posse de objetos para fabricação da droga. De acordo com a PF e o Denarc, traficantes importam matérias-primas (sais do hormônio masculino e testosterona sintetizados) da China e da Índia e finalizam as misturar com óleos por aqui.
- Na academia é fácil de conseguir anabolizante. Sempre tem um entendido que mistura substâncias e te fornece. Mesmo sabendo do efeito negativo no organismo, gosto da aparência em frente ao espelho e o resultado que traz - admite uma usuária.
Dano à saúde leva polícia a intensificar ações
Além do risco do anabolizante, o usuário está exposto a contaminantes biológicos e químicos, como resíduos de solventes, de metais e provenientes da falta de controle na fabricação ou da compra da matéria-prima, alerta Flavia Thiesen, toxicologista Pontifícia Universidade Católica (PUCRS).
- A lógica da venda, se compararmos com maconha, cocaína e crack, é bastante diferente. Em vez do usuário buscar a droga em pontos determinados, a droga vai até o usuário e está nos ambientes onde ele convive - diz o diretor operacional Denarc, Leonel Carivali.
- O Denarc tem tratado da mesma forma o tráfico de drogas, seja maconha, cocaína, crack ou anabolizantes. O dano à saúde humana é o mesmo, por isso a ofensiva do Denarc no combate a esse tipo de tráfico - ressalta o diretor-geral do Denarc, Emerson Wendt.
Repórteres vão ao encontro de traficantes no Paraguai
Para mostrar a facilidade com que substâncias proibidas entram no Brasil, a equipe de reportagem da RBS TV foi ao Paraguai, onde localizou vendedores de químicos para produção de anabolizantes importados da China e da Índia, entre outros. Leia trechos da conversa:
Repórter - Preciso de sal para fabricação de anabolizante. Não pronto, para fabricação.
Traficante - Chega aí. Aqui a gente vende de tambor, 25 (quilos).
Repórter - Quanto?
Traficante - Tenho galão de 25 quilos. Quantos quilos vai querer? Quarta-feira o caminhão vai levar trigo até Taquari. E você tem que pegar a mercadoria ali. Mas você tem que falar pra mim com certeza, porque eu tenho que falar com o caminhoneiro hoje à noite.