Administrar a dor. Encontrar forças para encarar os dias com um vazio causado pela morte precoce se um filho. Esse é o difícil exercício que os pais de Ana Clara Benin Adami terão de executar a partir de agora. A menina foi assassinada com um tiro na quinta-feira, quando caminhava para a catequese, em Caxias do Sul. A garotinha chegou a ser encaminhada ao Hospital Geral (HG), onde passou por cirurgia, mas morreu no mesmo dia.
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Morte de menina baleada em Caxias do Sul gera comoção
Aos 53 anos, Paula Ioris sabe muito bem que dor é essa. Um dos filhos dela, Germano Ioris de Oliveira, 13, foi assassinado em 2012. O garoto foi asfixiado até a morte. O amiguinho dele, Vinicius, 14, e o pai, Gilson Hilman Fernandes, 44, também foram mortos.
- A única coisa que segura a gente é a fé em Deus. É preciso rezar muito para a família não perder a fé em Deus. Se revoltar contra Deus não é o caminho. A seguir, digo para refletir, e se dar conta que a dor é só nossa, porque cada um segue a sua vida. Todo mundo tem que trabalhar, mas não podemos achar que isso (as mortes) é normal. A sociedade precisa se mobilizar - aconselha.
Paula é vice-presidente da ONG Brasil Sem Grades, entidade onde luta contra a impunidade e também busca forças para encarar o luto. Ela ainda aconselha os pais de Ana Clara a conversar com pais que também tenham sofrido a perda de um filho:
- Cada mãe reage de uma forma, mas temos muitas dúvidas. É tudo muito difícil, mas me coloco à disposição para ajudar.
O contato com outras mães enlutadas foi a válvula de escape para Valéria Beatriz de Carvalho, 61, moradora de Porto Alegre. Em outubro de 2004, o filho dela, Rodrigo, aos 22 anos, foi morto a tiros por três homens que queriam roubar os tênis dele. Hoje Valéria é coordenadora do grupo de mães do Instituto Parrhesia Erga Omnes, na capital.
- Já passei por todas as etapas do luto. Eu fui abrindo caminhos. Mas trabalhando, tentando dar a mão para o outro, tu elabora melhor as coisas - entende.
- Eu acredito que eles não morrem nunca. Só que a gente não aguenta de saudade - finaliza Paula.