Com prazo de três meses para sair da Casa de Passagem, na Zona Norte da Capital, as 80 famílias moradoras do local enfrentam uma dificuldade: única alternativa disponível, o aluguel social oferecido pela prefeitura, de R$ 450, não é suficiente para cobrir as despesas de suas novas moradias.
Desde 2007, 80 famílias vivem em vila que seria provisória. Agora, têm três meses para sair
Ex-moradora da Vila Tio Zeca, Celsa Estelita Ew, 52 anos, aceitou o aluguel social. Há duas semanas, Celsa, a filha, o genro e dois netos mudaram-se da Casa de Passagem para uma casa alugada no Bairro Humaitá. A família precisou pagar dois meses adiantados - dinheiro que não será reembolsado pela prefeitura. Do Demhab, receberão R$ 450 mensais. Porém, o aluguel do imóvel de cinco peças sairá R$ 600.
Sofrimento
No total, Celsa calcula que desembolsará o dobro do valor pago pelo poder público, pois ainda precisará pagar água e energia elétrica.
A decisão de alugar uma nova moradia surgiu quando a água começou a entrar pelo telhado quebrado pela demolição da casa vizinha.
- É coisa triste aqui o sofrimento que eu já tive. É muito barro, a gente não consegue caminhar direito. É só dentro dágua. Para onde eu vou, pelo menos, é um lugar seco - contou Celsa, enquanto arrumava os sacos com roupas e utensílios da família.
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Moradora de 90 anos não quer sair
Olívia dos Santos, 90 anos, insiste em permanecer no casebre escuro e úmido que recebeu da prefeitura depois de morar por 28 anos na Tio Zeca. A dona de casa treme quando fala da mudança forçada.
Mesmo com a insistência de vizinhos para aceitar a quantia oferecida pela prefeitura, Olívia diz que não tem condições de pagar a mais para morar em outro lugar. Ela ainda sonha com a promessa feita pelo Demhab quando deixou a Tio Zeca:
- Quero o meu cantinho, porque eles me tiraram da Tio Zeca, onde eu estava dentro da minha casinha. Para casa social, eu não vou. Prefiro ir para a beirada da rua.
Câmara fará reunião para debater o assunto
Ao saber da situação das famílias da Casa de Passagem, a presidente da Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (Cedecondh) da Câmara Municipal de Porto Alegre, vereadora Fernanda Melchionna (Psol), decidiu organizar uma reunião extraordinária na Câmara para discutir o assunto. O tema deve voltar à mesa na próxima terça-feira, com a presença dos moradores da Casa de Passagem.
- Aquele lugar é insalubre. Foi o próprio Estado quem os obrigou a viver naquelas condições precaríssimas, e agora quer forçar a saída. O caso é grave e vamos exigir da prefeitura a apresentação de projeto de realocação destas famílias - garante a vereadora.