A CPI da Petrobras dá continuidade, nesta terça-feira, a uma maratona para ouvir os 13 investigados pela Operação Lava-Jato que estão presos em Curitiba. Serão ouvidos os doleiros Nelma Kodama e Carlos Habib Chater, o operador René Luiz Pereira, e os ex-deputados Luiz Argôlo (SD-BA), André Vargas (sem partido-PR) e Pedro Corrêa (PP-PE).
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Em depoimento desde pouco antes das 10h até o começo da tarde desta terça-feira, a doleira Nelma Kodama roubou a cena com declarações polêmicas e chegou a arrancar risos dos deputados na comissão.
Na primeira parte de seu depoimento, a doleira disse que não foi pega com dinheiro na calcinha, como divulgado quando da sua prisão, em março do ano passado, mas na calça. Ela levantou para mostrar aos deputados onde teria colocado os 200 mil euros, na parte de trás da roupa.
Após, ao ser questionada sobre sua relação com o doleiro Alberto Youssef, com quem teve um relacionamento amoroso entre 2000 e 2009, ela provocou risos ao cantar a música "Amada, Amante", de Roberto Carlos, e foi repreendida pelo presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB).
O depoimento seguiu com algumas negativas da doleira, especialmente em perguntas relacionadas a sua relação profissional com Youssef. Condenada a 18 anos de prisão por evasão de divisas em 91 contratos, Nelma Kodama sinalizou, ainda, que estaria discutindo um acordo de delação premiada.
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A doleira disse que todo o dinheiro em espécie utilizado nas transações era obtido em instituições financeiras, como o Banco do Brasil, e criticou o atual sistema financeiro, por favorecer a corrupção. Segundo ela, os doleiros poderiam, inclusive, auxiliar o governo a reformular o sistema, uma vez que conhecem as brechas na legislação.
- O Brasil é movido pela corrupção. Uma vez que parou a corrupção, o Brasil parou. É o que chamamos, no meu mercado, de bike, ou bicicleta. Sempre tem um santo encobrindo o outro - disse.
Após o depoimento da doleira, o operador René Luiz Pereira compareceu à CPI. Ao contrário de Nelma Kodama, no entanto, ele optou por permanecer calado e não respondeu a nenhuma das perguntas dos deputados.
O ex-deputado Luiz Argôlo também afirmou que ficaria em silêncio. Mesmo assim, fez um breve comentário sobre sua relação com Youssef:
- Eu conheci o doleiro Alberto Youssef como um empresário que tinha investimentos no estado da Bahia. Se ele é um criminoso, não coube a mim entrar no Google e fazer uma consulta ao seu CPF.
Outro ex-deputado ouvido pela CPI, André Vargas, contou aos parlamentares como conheceu o doleiro:
- Eu conheço Alberto Youssef há mais de 30 anos. O conheci vendendo coxinha no aeroclube de Londrina.
Outras perguntas não foram respondidas.
O também ex-deputado Pedro Corrêa avisou que permaneceria calado, mas acabou respondendo a maioria das perguntas. Ele afirmou que nunca recebeu dinheiro de Youssef, mas afirmou que se encontrava com o doleiro com frequência:
- Youssef frequentemente ia a Brasília e, como eu morava no mesmo prédio que Janene, eu o via na casa do deputado. Era comum sairmos da Câmara e jantarmos juntos na casa do Janene.
Durante sua fala, Corrêa também fez comentários sobre Lula como figura popular no país:
- Ninguém tem coragem de colocar o Lula na cadeia. Se tentarem, vai acontecer como quando o Getúlio se suicidou: o povo saiu pra rua - disse o ex-deputado.
Neste momento, o alvo das interrogações é o doleiro Carlos Habib Chater. Ele disse que não irá responder aos deputados.
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Na segunda-feira, sete investigados prestam esclarecimentos sobre o esquema de corrupção na estatal: Alberto Youssef, Mário Góes, Nestor Cerveró, Fernando Soares, Guilherme Esteves, Adir Assad e Iara Galdino. Destes, apenas os doleiros Alberto Youssef e Iara Galdino responderam às perguntas dos deputados.
Os fatos que marcaram a operação:
Abaixo, veja o que já ocorreu durante as investigações: