O naufrágio de um barco de imigrantes ao largo da costa da Líbia deixou cerca de 700 desaparecidos neste domingo, em um acidente que surge como a pior tragédia ocorrida no Mediterrâneo, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).
Os últimos números oficiais do naufrágio apontam 24 mortos e 28 sobreviventes, informou a Guarda Costeira italiana, que coordena as operações de resgate.
Segundo um dos sobreviventes, ouvido pelas autoridades de Catânia (Sicília), o barco transportava cerca de 950 pessoas, incluindo 50 crianças e 200 mulheres.
O navio afundou a cerca de 130 quilômetros da costa líbia e, de acordo com outros sobreviventes, carregava mais de 700 pessoas, revelou Carlotta Sami, porta-voz do Acnur na Itália. Se estes números forem confirmados, será "a pior tragédia jamais vista no Mediterrâneo", afirmou a porta-voz.
Equipes de resgate italianas não confirmaram que havia 700 pessoas a bordo, mas indicaram que a embarcação, de 20 metros de comprimento, tinha "capacidade para transportar várias centenas de pessoas".
Reunião urgente
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, anunciou que planeja um encontro extraordinário para analisar a imigração clandestina.
"Falei com o primeiro-ministro (de Malta, Joseph) Muscat após estas mortes trágicas no Mediterrâneo. Vou prosseguir com as discussões com os líderes europeus, a Comissão e os serviços diplomáticos da UE sobre como enfrentar esta situação", disse Tusk no Twitter.
O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, disse que a resposta para esta situação "tem que vir da Europa" e que "já não vale a pena as palavras, temos de agir".
- Os europeus serão descreditados se não forem capazes de evitar tais situações dramáticas - disse Rajoy, durante um comício eleitoral em Alicante.
O chefe do governo italiano, Matteo Renzi, pediu uma cúpula europeia urgente após o naufrágio.
- Estamos trabalhando para nos assegurarmos de que essa reunião aconteça no final da próxima semana. Deve ser uma prioridade - afirmou Renzi durante coletiva de imprensa, qualificando a crise migratória de "flagelo" que a Europa de enfrentar.
A chefe da diplomacia da UE, Federica Mogherini, decidiu incluir o tema na agenda da reunião informal de ministros das Relações Exteriores da cúpula da UE desta segunda-feira, em Luxemburgo.
Esta nova tragédia no Mediterrâneo se soma a dois outros naufrágios na semana passada, um dos quais deixou 400 mortos e outro mais de 40, segundo relatos de sobreviventes à Organização Internacional para as Migrações (OIM) e organizações não-governamentais.
Importante dispositivo de socorro
O navio lançou um aviso no domingo de manhã que foi capturado pela guarda costeira italiana e alertou um navio cargueiro português que estava na área. Quando o cargueiro chegou, cerca de 220 km ao sul da ilha italiana de Lampedusa, a tripulação avistou o barco naufragando.
- Mas as pessoas do navio em perigo correram todas para o mesmo lado, o que pode ter causado o desastre - disse a porta-voz do Acnur.
As autoridades italianas coordenaram um grande dispositivo de resgate de 17 navios das marinhas da Itália e de Malta principalmente, relatou a guarda costeira italiana e um porta-voz da marinha de Malta entrevistado pela AFP, explicando que o alarme foi dado em torno da meia-noite local (19h de Brasília).
Diariamente, a guarda costeira italiana ou navios mercantes resgatam uma média de entre 500 e mil pessoas. Mais de 11 mil foram resgatados em uma única semana, de acordo com a Guarda Costeira.
Várias organizações humanitárias internacionais têm denunciado nos últimos dias a inação das autoridades europeias. A operação de resgate de migrantes italiana Mare Nostrum foi substituída este ano pela operação Triton, uma operação de vigilância das fronteiras muito mais modesta.
Mais de 900 migrantes morreram até agora este ano em sua jornada entre a Líbia e Itália, sem contar com esta nova tragédia, em comparação com menos de 50 que morreram no ano passado no mesmo período, quando a Mare Nostrum ainda estava em funcionamento, afirmaram esta semana organizações humanitárias.
Veja imagens do resgate:
* AFP