Prestes a completar a primeira semana de aula em uma nova escola, Mariana Coutinho Raggio, 11 anos, desabafa:
- Está sendo um pouco difícil me acostumar com um colégio gigante, mas está legal. Sentei sozinha nos primeiros dias, mas uma colega perguntou se eu queria sentar com ela. Agora já somos amigas.
No caminho do Colégio Rosário para o primeiro dia de aula, ela confessou ao pai, o professor universitário Juan Pablo Raggio, 49 anos, que sentia um misto de nervosismo e expectativa. Acostumada a estudar em uma instituição de ensino pequena, com poucos professores, Mariana demorou a aceitar a ideia.
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Além da nova escola, ela agora ingressa no 6º ano do Ensino Fundamental, o primeiro em que as disciplinas são separadas, e os professores, diferentes para cada conteúdo.
Fora a ansiedade e a expectativa comuns a cada retomada das aulas, crianças e adolescentes que trocam de colégio têm um desafio a mais no início do ano letivo. Novos horários, colegas e regras exigem uma adaptação que nem sempre é fácil - muito menos rápida. Para que essa mudança ocorra com tranquilidade, é essencial que os pais e a escola deem atenção especial ao aluno e acompanhem o processo de perto.
- A primeira situação é expor ao filho quais são os motivos para a troca de escola, pois é ele quem vivenciará essa mudança - explica a professora do Curso de Graduação em Pedagogia/Parfor da Unisinos, Rejane Klein.
Além do estranhamento pela mudança física, a troca impacta porque o ambiente escolar é o primeiro, depois do familiar, onde normalmente se estabelecem laços afetivos e relacionamentos pessoais.
Conforme a psicanalista Ana Cristina Pandolfo, da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA), ajudar o estudante a compreender as sensações decorrentes das novas experiências, como perdas, tristezas e ganhos, pode facilitar a criação do vínculo com a nova escola.
- Vivemos em uma época em que não se lida bem com expressões de tristeza. Por isso, tendemos a atropelar processos naturais. A ansiedade não deve ser controlada, mas considerada como expressão de vivências excessivas para a criança. É preciso ajudá-la a compreender o processo e a viver as perdas e desafios inerentes a qualquer troca da melhor maneira possível.
Principalmente durante os primeiros meses de adaptação, a confiança dos familiares na nova escola deve ficar evidente, alerta a psicopedagoga Gilca Kortmann, vice-presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp/RS). Se, mesmo assim, a criança oferecer resistência e quiser voltar para o colégio antigo, é preciso ficar claro que o poder de decisão, neste caso, é dos pais.
- O novo assusta a qualquer um, adulto ou criança. Compreender que este desejo é natural ajuda os pais a manterem-se em seus lugares de responsáveis adultos por seus filhos - conclui a especialista.
Tristeza no período que antecedeu troca
No caso de Mariana, os meses que antecederam a mudança foram de tristeza para a menina. E de pulso firme e muita conversa para os pais.
- Ela ficou bem chateada porque ia perder os colegas e por não saber muito bem o que estava por vir. Na última semana de aulas do ano passado, entrou em um período mais entristecido, mais reflexiva. Tivemos de nos manter firmes e, com muitas conversas, conseguimos mostrar que esta era a melhor decisão - lembra a mãe, a enfermeira Kátia Coutinho, de 47 anos.
Para dar tempo à menina entender as mudanças, as conversas começarem outubro.
- Depois de algum tempo, a Mariana já estava explicando para as amigas que a mudança era para o interesse dela, para que ela tivesse uma melhoria no ensino e melhores perspectivas de futuro - conta Kátia.
Hoje, com uma grade escolar já organizada, Mariana se mostra motivada e faz questão de separar os cadernos e livros - o material escolar foi todo personalizado por mãe e filha - na noite anterior à cada novo dia de aula.
- Agora já estou me acostumando, já parei de ficar nervosa. Acho que vai ser legal, e vou até falar para as minhas amigas que a mudança não é tão sofrida assim - conclui a menina.
Atenção aos mais novos
Ainda que cause diferentes reações conforme a personalidade da criança ou do adolescente, a mudança pode ter um impacto maior nos mais novos, pois estas estão em fases iniciais de desenvolvimento .
Conforme a pedagoga Rejane Klein, tanto nas etapas finais da Educação Infantil quanto nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a presença dos pais na escola é eficaz no processo de adaptação. A especialista recomenda visitar a instituição com o filho antes do início das aulas para conhecer os funcionários, estar sempre presente nas reuniões e eventos e ajudar a criança nas tarefas escolares.
Neste período, o envolvimento dos educadores é muito importante, e os pais devem estar cientes de que elegeram novos parceiros para o desenvolvimento do aluno.
- À medida que a criança cresce, a sensação de perda e mudança vai sendo redimensionada e, cada vez mais, com o fortalecimento dos recursos e capacidades da criança, ela vai se vendo mais apta de lidar melhor com as perdas e ligar-se melhor ao novo contexto - indica a psicanalista Ana Cristina Pandolfo.
Conflitos da adolescência
Adolescentes e pré-adolescentes, em geral, tem mais capacidade para compreender as implicações de uma mudança de escola. Mas isso não significa que o processo seja fácil. É nessa fase que acontece o fortalecimento dos laços com os amigos e, consequentemente, o rompimento de relações com os pais, aspectos fundamentais na construção da identidade e da autonomia.
Uma quebra neste processo pode gerar tristeza e ansiedade, deixando os jovens mais rebeldes e desmotivando a irem à escola. Respeitar o espaço do jovem, colocando-se à disposição para ajudá-lo não é uma equação simples, mas importante.
- Estresse, insegurança, diminuição de autoestima e autoimagem são fatores aos quais os pais têm de ficar atentos - alerta a psicopedagoga Gilca Kortmann.
A especialista destaca que escolher um ambiente muito distante do perfil do adolescente pode trazer prejuízos:
- A disponibilidade do adolescente para esse tipo de situação depende de como ele vai entender e vivenciar esta mudança. Se for incluída na categoria "deixar a infância e crescer", pode ser tranquilo. Se for entendida como um local onde o jovem manifesta oposição aos pais, buscando diferenciar-se, pode ser manejada e transitória - explica a psicanalista Ana Cristina Pandolfo.
Veja dicas para ajudar o aluno a se adaptar em uma nova escola: