Em respeitoso silêncio, muitas pessoas que saíam do velório do surfista Ricardo dos Santos na madrugada desta quarta-feira seguiam até a área central da Guarda do Embaú para prestar mais uma homenagem ao atleta. Foi ali que uma rótula de trânsito se transformou em tributo a Ricardinho, que morreu na tarde de terça-feira após ser baleado por um policial militar de férias.
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Faixas, cartazes, fotos e velas depositadas no local ao longo do dia foram contempladas por olhos tristes em busca de um conforto quase impossível. Nas lojas, bares e restaurantes no centrinho da Guarda, o sinal de luto era estampado em panos pretos e nos avisos de que o atendimento só voltaria ao normal nesta quinta-feira - seja lá o quão normal ele possa voltar a ser depois da perda de um nativo tão querido.
Nos pouquíssimos estabelecimentos comerciais abertos no início da madrugada, raras palavras e muitas expressões duras, tensas, num misto de profunda tristeza com revolta pela forma como tudo aconteceu. As vielas do paraíso de Palhoça, sempre tão cheias de vida, anoiteceram e amanheceram cinzentas e frias.
Para esta quinta-feira, uma última homenagem a Ricardinho está prevista para as 18h, conforme divulgado nas redes sociais nesta quarta. Neste horário diversos surfistas da região devem se encontrar no Rio da Madre e depois seguir até a praia da Guarda do Embaú, onde as pranchas serão posicionadas formando um círculo. O sepultamento do atleta ocorre mais cedo, às 10h, no cemitério de Paulo Lopes.
Velório lotou Salão Paroquial em Palhoça
O corpo de Ricardinho chegou ao salão da Paróquia Santa Terezinha por volta das 23h de terça-feira, sob um céu sem estrelas que parecia compreender a dor que a Guarda do Embaú sentia. Desde o fim da tarde, dezenas de pessoas já esperavam o cortejo.
Com o branco dividindo espaço com as cores escuras do luto, muitos amigos, familiares e conhecidos seguravam velas e rezavam baixinho, com os olhos marejados e o semblante entristecido.
Os choros contidos e as frases doloridas de quem custava a acreditar na morte do surfista deram lugar ao silêncio absoluto quando o carro da funerária se aproximou da igreja. Passados alguns minutos, o caixão entrou no salão sob emocionados aplausos e gritos de "Ricardinho". O irmão e a mãe do surfista, visivelmente a mais abalada com a perda do esportista, passaram mal por diversas vezes durante o velório, sendo amparados por parentes e acompanhados por uma equipe do Samu que esteve no local.
Dentro do salão havia tanta gente buscando um último momento com Ricardinho que foi necessário organizar uma fila. Um a um, todos puderam se despedir passando ao lado do caixão, que permaneceu fechado em razão das hemorragias que o atleta sofreu. Coroas de flores oferecidas por amigos, familiares, entidades do surfe e até pela prefeitura de Palhoça também homenagearam o surfista.
Para completar as lembranças, aquilo que Ricardinho mais amava fez parte do adeus. Pranchas e um mural com fotos do atleta, a maioria dele surfando ou curtindo uma praia com a família e a namorada, estavam perto do caixão. A porta do salão também trazia uma imagem de Ricardo, em uma das muitas ondas que ele tão habilmente surfou ao longo dos 24 anos de vida.
Em meio a lágrimas, orações e cantos religiosos, o velório seguiu madrugada adentro com movimento constante no salão paroquial. E já com algumas estrelas no céu.
Crime em Palhoça
Ricardinho foi baleado na segunda-feira, depois de uma discussão com um policial. Levado ao Hospital Regional de São José, depois de 30 horas e quatro cirurgias não resistiu e morreu no início da tarde desta terça-feira. O policial e a testemunha que estava com o surfista contam diferentes versões para o motivo dos três disparos. O primeiro alega legítima defesa e a segunda diz que a ação foi sem justificativa. A Polícia Civil investiga o caso.
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A morte do surfista causou grande comoção na Guarda do Embaú, onde ele morava. A notícia repercutiu também no meio do surfe e uma série de profissionais do esporte como o atual campeão mundial Gabriel Medina se manifestaram sobre o caso.
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