Fundamentais no combate ao coronavírus, profissionais da saúde são também os mais expostos à covid-19. O risco permanente sugere a necessidade de se manterem afastados dos familiares, mas, por questões de espaço ou mesmo dificuldades financeiras, essa é uma opção inviável para muitos. De olho nessa demanda, um projeto criado em Portugal ajuda a viabilizar acomodações para aqueles que querem se isolar durante e após o trabalho na linha de frente. É o Rooms Against Covid (ou quartos contra a covid), iniciativa sem fins lucrativos que intermedeia reservas para esses profissionais.
— É como se fosse um Airbnb ou um Booking do bem. Em Portugal, houve subsídio do governo, então funciona mais como um gestor de reservas. Aqui estamos tendo que captar recursos para viabilizar — conta a coordenadora do Rooms Against Covid no Brasil, Nastássia Romanó Leite de Castro.
O Brasil foi o segundo país a receber o projeto, em abril — a Inglaterra também deve contar com a iniciativa. As primeiras acomodações foram em Curitiba, onde hotéis da Rede Master deram descontos em quartos destinados a esses profissionais. Atualmente, há sete profissionais distribuídos na capital paranaense, em Brasília e em São Paulo, e mais cinco em processo de acomodação. Outros 135 já manifestaram interesse em hospedagens.
Para participar, os profissionais devem acessar o site do projeto e preencher um formulário, onde precisam descrever sua atividade, informar seu local de trabalho e dizer que valor teriam condições de pagar por uma diária — que pode ser nada. O Rooms Against Covid mapeia esses profissionais para buscar acomodações que fiquem próximas de seus locais de trabalho e, ao mesmo tempo, dentro do orçamento possível — o valor pode ser complementado ou totalmente subsidiado pelos apoiadores do projeto. Ganham preferência profissionais com maior risco de exposição à doença.
O principal entrave ao avanço da iniciativa no país, o segundo com maior número de mortes por covid-19, é a falta de recursos. Sem apoio estatal, os cerca de 80 voluntários precisam buscar apoio financeiro junto a empresas e pessoas físicas para viabilizar as hospedagens.
A estimativa é de que sejam necessários, em média, R$ 2,4 mil por profissional para custear uma estadia de 30 dias — tempo médio das acomodações. Além de facilitar o isolamento, o Rooms Against Covid tem como objetivo contribuir para a manutenção de hotéis e flats, uma vez que o setor hoteleiro está entre os mais afetados pela pandemia.
No Rio Grande do Sul, pelo menos 15 pessoas já se cadastraram na plataforma, nove delas solicitando hospedagem em Porto Alegre. Segundo Nastássia, ao que tudo indica, a Capital deve ser a próxima a receber o projeto — que ainda depende de dinheiro para conseguir acomodar os profissionais.
Dois hotéis da Rede Master se preparam para receber as beneficiados. O primeiro, na Avenida Alberto Bins, deve ter um andar inteiro destinado ao projeto. Outro, perto do Hospital Conceição, ainda passa por adaptações.
Segundo o gerente comercial da rede, Felipe Apolonio, as acomodações destinadas aos profissionais da saúde terão protocolos mais rigorosos de higienização. Antes da limpeza, os cômodos receberão uma névoa seca de quaternário de amônia para desinfecção. Todos os resíduos dessas acomodações serão destinados a uma empresa que trabalha com lixo contaminado.
— Sempre fomos muito simpáticos ao projeto. E, em toda a rede, fizemos revisão dos nossos protocolos. Foram modificados para receber os hóspedes em segurança, sejam profissionais de saúde ou não — diz Apolonio.
Os processos de reserva e check in deverão ser feitos através do celular, e todas as refeições são levadas no quarto — as áreas comuns estão fechadas em razão do distanciamento social. A tarifa cobrada para as hospedagens do Rooms Against Covid na Capital são cerca de 60% mais baratas do que o valor pago pelos outros hóspedes.
Quem quiser contribuir pode acessar o site do projeto e clicar na aba “Como ajudar". Além das doações de pessoas jurídicas, há um crowdfunding que permite contribuições de pessoas físicas a partir de R$ 10. Todo o valor arrecadado é revertido para as acomodações.