Afagar um animal de estimação parece ser um antídoto muito eficiente para encarar os dias de distanciamento social necessários para o combate ao coronavírus. Está comprovado que esse “medicamento” peludo é capaz de elevar os níveis de hormônios e neurotransmissores responsáveis pela sensação de bem-estar e disposição.
Poucos minutos de interação já são capazes de reduzir a produção do cortisol, hormônio relacionado ao estresse, e aumentar a endorfina e a ocitocina, ligados ao prazer, apontou um estudo apresentado em 2000 pelo veterinário Johannes Odendaal, da Universidade de Tecnologia de Tshwane, na África do Sul. Foram feitas diversas revisões do trabalho de Odendaal, sustentando os resultados. Em 2015, pesquisadores japoneses mostraram que o simples contato visual entre o cão e seu dono é suficiente para a liberação de vários desses hormônios.
Não é à toa que, segundo entidades de proteção animal, a busca por adoções de pets aumentou durante o distanciamento social. A assistente financeira Simone Jablonski, uma das voluntárias da ONG Patas Dadas, estima que a procura cresceu de 20% a 30%. Ela destaca que os interessados têm de pensar bem antes de dar continuidade ao processo, avaliando se têm condições de manter o pet, especialmente depois que voltarem a suas atividades.
Coordenadora do Me Adota?, da prefeitura de Porto Alegre, a médica veterinária Juliana Herpich acredita que esse seja um bom período para a adoção, porque a pessoa está mais em casa e consegue dar mais atenção ao animal durante a adaptação.
Por que são recomendados para...
...quem mora sozinho
Um animal de estimação significa companhia para qualquer momento do dia. A veterinária Brunna Barni, coordenadora de Saúde Animal da Unidade de Saúde Animal Victória (Usav), sugere os cães para quem fica mais tempo em casa porque eles demandam atenção redobrada. Já os gatos se adaptam com mais facilidade a horas solitárias e são independentes. É preciso avaliar o quanto a pessoa está disposta a gastar o seu tempo livre com o animal adotado. A veterinária Ana Luisa Tartarotti, da Vigilância Ambiental do Centro Estadual de Vigilância em Saúde, lembra que um gato pode viver 20 anos, por exemplo, exigindo cuidados desde a fase arteira, da infância, até a sua velhice, quando pode desenvolver uma doença crônico-degenerativa.
...crianças
Brunna Barni diz que os cães são os animais mais indicados por serem ativos e com facilidade para acompanhar o ritmo. O gato, por sua vez, dorme mais horas durante o dia.
A psicóloga Karina Schutz, diretora da Pet Terapeuta, afirma que o pet faz a criança se sentir importante e útil. Segundo a veterinária Ana Luisa, as crianças se tornam mais afetivas, solidárias, com maior senso de responsabilidade, aprendem sobre o ciclo da vida (nascer, crescer, envelhecer, morrer), saúde e doença. A convivência também é positiva para quem tem down ou autismo, pois eles estimulam o desenvolvimento e servem como terapia.
...idosos
Cães ajudam a suprir as carências da idade e, até, a ausência de filhos distantes, aponta Karina. A veterinária Brunna indica a adoção de animais adultos, porque os filhotes precisarão de mais tempo de passeio, brincadeiras e treinos.
Bom para o coração
Em 2013, em artigo para a Associação Americana do Coração, o professor Glenn Levine, do Baylor College of Medicine, afirmou: “Ter um pet, em especial cães, está provavelmente associado a uma redução no risco de doenças cardíacas”. Tutores de cachorros são mais propensos a atividades físicas (um mero passeio é melhor do que o sofá), e pets contribuem para a redução do estresse. Mas não há evidências de que adotar um cão diminui o risco em casos de doença pré-existente.
Contraindicações
Segundo as veterinária Brunna Barni e Ana Luiza Tartarotti, geralmente os médicos contraindicam a presença de cães e gatos para quem tem problema respiratório – principalmente asma e rinite, por causa dos pelos dos animais. Gestantes podem ter gatos, desde que o manejo das fezes seja feito corretamente. Não se esqueça de fazer as vacinas e evitar o aparecimento de pulgas, piolhos e carrapatos.
Três formas de adotar
Me Adota?
Durante o combate ao coronavírus, interessados devem fazer agendamento pelo telefone (51) 3289-8920. Os animais são disponibilizados na Unidade de Saúde Animal Victória (Usav), que funciona das 9h às 12h, de segunda a sexta-feira, na Estrada Bérico José Bernardes, 3.489, no bairro Lomba do Pinheiro.
Patas Dadas
Contatos podem ser feitos pelo e-mail adocoes@patasdadas.com.br. Os animais para adoção e informações sobre como ajudar a entidade podem ser conferidos no site patasdadas.com.br/adotaveis.
Anjos de Patas
Contatos via projeto.anjosdepatas@hotmail.com. Os animais disponíveis para adoção e informações sobre como ajudar podem ser conferidos nas redes sociais da entidade (Facebook e Instagram).
Além de miados e latidos
Confira as características de outros animais de estimação:
Peixes
O conceito de interação com peixes é relativo. Veterinários garantem que eles reconhecem quem os alimenta e mudam de comportamento quando a pessoa se aproxima. É preciso ficar atento à temperatura da água e aos parâmetros dela como PH, nível de amônia e de nitrito. A limpeza do aquário deve ser feita, em média, duas vezes por mês. Beta, carpas, kinguios, oscar e palhaço são os mais procurados. Geralmente, é preciso dar comida duas vezes por dia, mas existem rações especiais de fim de semana e de férias, que duram dias na água sem estragar.
Aves
Como são acostumadas a viver em bando, o ideal é ter mais de uma em casa. Acordam e dormem cedo. Precisam de gaiolas amplas e confortáveis e exposição solar durante 15 minutos, duas vezes por semana. Não são recomendadas para quem tem cães ou gatos. A alimentação depende de cada espécie e pode ser baseada em grãos, frutas e vegetais. Aves silvestres como arara e papagaio exigem anilha no pé, registro e nota de origem. As mais comuns são canário, calopsita e papagaio.
Coelhos
São dóceis, mas precisam ser castrados na puberdade, pois tendem a ficar arredios, especialmente as fêmeas. Também se reproduzem rapidamente. O ideal é que sejam criados em um espaço cercado do quintal, e não em gaiolas. Em bando, brigam muito. Como a alimentação é baseada em vegetais frescos, não é indicado deixá-los sozinhos por muito tempo. Os mais peludos devem ser escovados diariamente para evitar que comam os pelos, o que pode ser fatal.
Roedores
Os mais comuns são hamsters, chinchilas, porquinhos da índia e ratos twister. Precisam de gaiolas amplas e com áreas para que possam brincar. Não é recomendado mantê-los soltos dentro de casa sem supervisão, pois roem de tudo. Devem ser manipulados com frequência e com gentileza para evitar que fiquem arredios. Cada espécie come uma ração própria, além de legumes e vegetais. Podem ficar no máximo dois dias sem alguém por perto.