O potencial de transmissão entre espécies diferentes ainda é desconhecido, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Ou seja, ainda que os casos de animais contagiados por humanos sejam muito raros (leia mais logo abaixo), vale seguir algumas regrinhas de proteção.
— Assim como os humanos infectados devem ficar em isolamento de pessoas, também devem manter uma certa distância de suas companhias caninas e felinas. Evitar contatos mais próximos, como beijá-lo, dormir com o animal e mantê-lo no colo. Com uma exposição frequente, o vírus pode ir se adaptando ao organismo e, aí sim, afetar outras espécies. Só que isso não significa que a pessoa deva deixar de conviver com o animal — afirma Lisandra Dornelles, presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul.
Reduzir o contato não significa tirar os animais de casa ou se afastar das funções de dono. A rotina de cuidados precisa ser mantida, como a oferta de alimentação e água fresca, cuidados com a saúde e a higiene, garantia de acesso a locais em que possam fazer suas necessidades básicas.
Entre os fatores que mais estressam os cães, está a restrição passeios, pois é o momento em que o pet pode gastar energia. Para animais mais ativos, é necessário criar um roteiro de atividades e brincadeiras dentro de casa, para que eles possam se distrair e, assim, controlar a ansiedade.
Alimentação
- Não é recomendável a alteração na alimentação do pet. Mesmo que ele ganhe uns quilos, por sair menos de casa, não é hora de se preocupar.
- Mas é bom cuidar dos animais que têm tendência a engordar. É preciso adequar a quantidade de comida e evitar dar petiscos extras o tempo todo.
Passeio só para as necessidades
- Se o pet não consegue fazer xixi ou cocô dentro de casa, o passeio precisa ser o mais rápido possível, apenas para essa função.
- Se o pet está acostumado a fazer sobre um tapete higiênico ou numa caixa, o ideal é não sair de casa em hipótese alguma, segundo as informações dos gestores públicos.
- Há cães que sentem muita falta dos passeios. Se for o caso, procure diminuir a frequência e escolha melhor os horários. Por exemplo, dia sim, dia não, bem cedo da manhã ou à noite, evitando parques e praças.
- Evite que outras pessoas passem a mão no cachorro. Por mais que ele não se infecte, ele pode levar o vírus para dentro de casa.
- No retorno, é importante que se higienize as patas do pet com álcool gel, álcool 70%, água e sabão ou o próprio shampoo do banho dele. Faça a higienização logo na entrada da casa.
A hora do banho
- O banho do pet em casa é fundamental, sempre com água morna. Se possível, leve o animal para o box do banheiro.
- Depois do banho, é preciso secá-lo e escová-lo. O banho é recomendado com a mesma periodicidade que ele tomava antes da quarentena. Deve-se manter a regularidade.
- Deve-se utilizar apenas os produtos recomendados para a espécie. Se não for possível usar o mesmo produto usado na pet, focar em produtos neutros (sem cheiro) para evitar alergias.
Como ajudar a minimizar o estresse
- Se achar que o pet está agindo de uma forma diferente, o ideal é falar com um veterinário, de preferência que já conheça o animal, ou, em alguns casos, ligar para alguma clínica e levá-lo em uma emergência.
- Para minimizar o estresse, um dos truques é a escovação, que pode agradar e acalmar tanto gatos quanto cachorros.
- Também é importante manter o animal ativo e estimular brincadeiras, mesmo que dentro de casa.
- A interação mais intensa entre o dono e o animal, durante a quarentena, ajuda a reduzir a possibilidade de ansiedade de ambos.
- Para animar as atividades dentro de casa, além de utilizar os brinquedos que os pets estão acostumados, é possível usar garrafas de plástico vazias ou com algo dentro para eles morderem ou ficarem balançando. Podem ser usados ainda petiscos indicados para o tamanho e a espécie.
- Brincar de pedir para sentar ou deitar ou de se esconder também podem ser feitas dentro de casa. É para entreter o animal e deixá-lo mais ativo.
Sinais de mudança de comportamento
- Lamber excessivamente as patas ou o corpo.
- Latir ou miar muito.
- Recusar comida.
- Orelhas baixas.
- Ficar em um canto e recusar interação.
- Não sair de perto do tutor de jeito nenhum.
- Perda de pelo.
- Em alguns casos, vômitos.
Gatos também sofrem
- Mesmo que os gatos tenham um comportamento mais individual, não estão imunes ao estresse. Gatos têm um comportamento noturno, normalmente dormem de dia e ficam acordados à noite. Ter o tutor em casa o dia inteiro pode afetar o comportamento do animal, pois esse não é o hábito dele.
- Gatos gostam muito de brincar com bolinha e de brincadeiras com a luz, que o tutor pode fazer com a lanterna do celular no escuro.
- Quando o isolamento acabar, alguns animais podem ficar deprimidos com a normalização da rotina do tutor e decorrente afastamento.
Veterinários e pet shops
- A recomendação atual do Conselho Federal de Medicina Veterinária é levar o animal ao veterinário, neste período de quarentena, só em casos de urgência. Ligue antes para a clínica.
- Devem ser evitados todos os procedimentos que são por agendamento – vacinação, consulta por problema de pele, banho e tosa ou cirurgia.
O que se sabe sobre contaminação e transmissão
Até agora, houve poucos casos de animais contaminados – mas nenhum episódio de transmissão para humanos, além do evento inicial no mercado de Wuhan, na China, em dezembro de 2019. O que se sabe, por enquanto, é que um animal de estimação só pode transmitir a doença se uma pessoa infectada acariciá-lo e, depois, ele for afagado por outro indivíduo. Animais não são vetores da epidemia.
Se você estiver doente ou com sintomas, deve higienizar as mãos antes e depois de acariciar o animal e evitar esfregar nariz e boca. Limpar o cão ou gato também é recomendado, mas apenas com produtos próprios para animais. Não use desinfetantes ou álcool.
Os cachorros de Hong Kong
A cidade chinesa comunicou em março dois casos caninos positivos – um pastor alemão e um lulu-da-pomerânia –, após analisar 17 cachorros e oito gatos em lares vinculados a pessoas com a doença. Em 31 de março, Hong Kong anunciou que um gato tinha dado positivo.
O gato belga
Um gato na Bélgica tornou-se, no final de março, o primeiro felino a testar positivo para o Sars-CoV-2, o coronavírus responsável pela covid-19. Segundo a Agência Federal para a Segurança da Cadeia Alimentar, responsável pela saúde animal no país, o vírus foi detectado nas fezes e no vômito do gato, provavelmente infectado pelo seu proprietário, que testou positivo para a doença após uma temporada na Itália. O felino teve diarreia, vômito e dificuldades para respirar – o que aconteceu com o animal não foi divulgado à imprensa.
A tigresa de Nova York
No começo de abril, uma tigresa do zoológico do Bronx, em Nova York, testou positivo para a covid-19. Acredita-se que o animal tenha contraído o vírus de um tratador assintomático. A tigresa-malaia Nádia, de quatro anos, e sua irmã, Azul, assim como dois tigres-siberianos e três leões africanos, tinham apresentado tosse seca e redução de apetite. Segundo o site do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, não há informes de animais de estimação ou outros que tenham adoecido com o coronavírus antes da notícia sobre a tigresa Nádia.