Faltando 364 dias para a abertura oficial dos Jogos Olímpicos de Paris, o Brasil já tem 43 atletas assegurados, em sete modalidades. Mesmo com o ciclo mais curto entre Tóquio e o evento em Paris, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) já vem se preparando há algum tempo para entregar o melhor para os atletas brasileiros que integrarem a delegação brasileira na França.
O COB escolheu ter uma base principal em Saint-Ouen, no departamento de Seine-Saint-Denis, nos arredores de Paris, cerca de um quilômetro da Vila Olímpica.
Para falar sobre a preparação brasileira, Ney Wilson, diretor de alto rendimento do comitê, concedeu entrevista aos veículos do Grupo RBS e falou sobre o ano que antecede a Olímpiada. Confira:
GZH – Faltando um ano para o começo da Olímpiada, como tem sido a preparação do COB para o evento do próximo ano?
Ney Wilson – Bem, tem alguns pontos importantes. Eu acabei de chegar de Marselha. A gente teve um evento-teste em Marselha, com a vela. Que para a gente é muito importante. É uma operação numa base fora da Vila e a gente precisa sempre ajustar com a confederação, com os atletas, entender as necessidades. Foi muito importante para esses ajustes. Não só da especificidade da modalidade, mas também o ajuste da parte de culinária. Esses detalhes fazem muita diferença nesse nível de atleta que a gente está (a nível olímpico). Em agosto, a gente também está indo para um evento de surfe, no Taiti, onde vai ocorrer a etapa da World Surf League. A gente vai usar o mesmo espaço que usaremos nos Jogos. Então essa reta final, é muito de um refino maior.
GZH – O atual ciclo foi mais curto em virtude da última Olímpiada ser adiada. Como foi para vocês trabalharem com essa diferença de um ano para Paris?
Foi bem difícil, mas penso que difícil para todos. O que a gente tem de desvantagem é que a gente está numa região que é sempre muito distante. Então operacional, para gente é sempre muito mais difícil. Em todos os sentidos. O comitê organizador cada vez oferece menos. Com isso o COB precisa suplementar. Por exemplo, todos os carros que vão ser oferecidos pelo COL não vão ter motorista. Ou a gente dirige ou vamos ter que encontrar alguém para fornecer esse serviço. Essa reunião que tivemos com os comitês locais foi muito importante para a gente ter as nossas tomadas de decisões, para poder dar todos os serviços que os atletas precisam para ter a performance que a gente espera deles.
GZH – A escolha de Saint-Ouen já foi feita há algum tempo. Como estão os ajustes desse local para entregar para os atletas o melhor possível?
A gente já fez alguns testes lá de toda operação. Toda a entrega de uniforme dos atletas vai ser feita diretamente lá em Paris, ativação de patrocinadores. Tudo. Assim como é o chateau, onde a gente vai ter os serviços que serão oferecidos aos atletas, como massoterapia, fisioterapia, atendimento psicológico, são serviços que aqui a gente acredita que são importantes. O que a gente acredito que saímos na frente é que não tem outro país com um local estratégico tão perto da Vila Olímpica. Estamos do lado de Saint-Ouen na Vila, uma distância de 600m entre a saída da Vila e o ponto mais próximo que é o chateau. Isso é uma facilitação enorme. Deve dar uns cinco minutos andando. Isso motiva os atletas. Temos uma quadra de vôlei também. Pensamos em tudo que possa facilitar ao atleta.
GZH – Quais as diferenças que vocês apontariam para preparação que foi feita em Tóquio para que essa que está sendo feita para Paris?
A de Tóquio foi exatamente o inverso, não é? Você teve uma prorrogação do segundo tempo, mais um ano. Os atletas passaram por um momento difícil, para treinarem, dificuldades de extensão do pico. Com menos um ano a corrida olímpica acaba tendo uma característica um pouco diferente. Porque, normalmente, o primeiro ano é um ano para aqueles atletas que fizeram performance, um ano meio sabático. Os atletas ficam um pouco menos focado nas competições, recuperam das suas lesões e agora não teve esse tempo. A gente já começou com o pé no acelerador. Então isso dificultou bastante e, obviamente, a parte operacional como eu falei é ruim pra todo mundo. É o que nos preocupa bastante. São muitas entregas, né? A gente tem um curto espaço de tempo de aproximadamente oito meses entre os eventos. Vamos sair dos Jogos Pan-Americano já focados nos Jogos Olímpicos.
GZH – Como vocês veem esses atletas que não competiram muito nesses últimos meses do ciclo, caso da Ana Marcela, do Alison dos Santos e do Bruno Fratus? Todos foram medalhistas em Tóquio.
A gente está bem próximo dos atletas, dos treinadores e dos seus planejamentos para poder dar o suporte necessário aos atletas nesse sentido. A Ana Marcela nos procurou e a gente teve que tomar decisões rápidas e muito assertivas. A gente tem trabalhado essa proximidade e isso acaba facilitando muito. De a gente poder oferecer aquele pequeno detalhe que possa estar faltando. Dentro do COB, temos o programa de preparação olímpica, que é um recurso de investimento estratégico do COB para dar assistência às modalidades ou aos atletas que mostram potencial de chegar à medalha. A gente tem feito várias reuniões, para discutir planejamento, entender as dificuldades, enfim, onde a gente pode estar contribuindo. Isso tem facilitado para a confederação, para o COB e a parceria tem sido entendida entre todas as partes. As coisas estão se ajustando, fiquei bastante contente com o resultado da Ana Marcela (medalha no Mundial) e pelo Piu (Alisson dos Santos). Obviamente, esse ano é um ano de avaliação. O ano que passou a gente teve uma evolução em termos de resultados. Estamos em busca de entregar melhor, mas não só em 2024, mas também 2028 e 2032.
GZH – Muito se fala da possibilidade de o Brasil superar o número de pódios de Tóquio. Como é que o COB vem trabalhando com essa ideia de bater o recorde de medalhas?
Acho que isso é consequência do trabalho feito pelas confederações em conjunto com o COB. Como eu tenho falado, a gente tem buscado esse relacionamento com as confederações. Eu acho que quanto maior o leque de número de atletas que a gente tem ou de modalidade que possam chegar a medalha, melhor. Não adianta a gente fazer conta para ganhar 23 medalhas e a gente ter só 23 tiros para dar, porque é difícil acertar os 23 tiros. Quando a gente está falando de superar 23 medalhas, conquistar 24, você tem que multiplicar isso pelo menos por três e a gente está falando de 72 possibilidades de chegar à medalha para que a gente possa conquistar as 24 que a gente deseja. Eu acredito que temos potencial de evolução. Os resultados do final desse ano e do começo do ano serão extremamente importantes para esse processo de autoconfiança.
GZH - Qual o número de medalhas que o COB projeta para Paris?
É, na verdade, a gente não trabalha exatamente com números. Eu acho que, para isso, precisaria ter uma bola de cristal. A gente ainda está num processo de classificação, né? Não sabemos ainda quem estará em Paris. Então hoje seria muito prematuro você falar em número de medalhas. A gente ainda não tem nem a nossa equipe. Então é difícil. A gente precisa ainda entender um pouquinho melhor o contexto, mas a nossa projeção é de evolução, é de melhora.
GZH - Faltando menos de 100 dias para o Pan-Americano, como é que está a expectativa para esse evento lá em Santiago?
É um processo importante para os Jogos Olímpicos, para os atletas mais jovens mais ainda. Para alguns deles pode ser a primeira experiência em eventos multiesportivos e que pode dar uma bagagem que eles precisam para os Jogos Olímpicos. Acho que é extremamente importante. Ainda que tenha uma distância técnica para a Olímpiada, contagia. O bom resultado sempre contribui para a confiança das delegações. Além disso, o Pan tem o maior número de modalidades com disputa por vaga para Paris. Esses esportes são prioritários para a gente. São 21 vagas diretas e 12 indiretas.