Daqui 366 dias, o mundo estará pronto para ver a abertura oficial dos Jogos Olímpicos — as competições começam dois dias antes. Entre esta quarta e o dia 26 de julho de 2024, Paris terá uma sequência de desafios para entregar a Olimpíada prometida assim que foi anunciada como sede do maior evento multiesportivo do mundo.
Em meio a um país em ebulição, com diferentes versões sobre a presença de atletas russos, uma ameaça judicial, ameaças terroristas e protestos espalhados pelo país, os franceses garantem que estão preparados para sediarem os Jogos.
Faltando um ano para o evento, GZH mostra como estão os preparativos da capital francesa para as Olimpíadas.
Que Paris traga o verdadeiro sentimento olímpico ao mundo
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Cerimônia de Abertura
Será a primeira vez que uma cerimônia de abertura olímpica ocorrerá ao ar livre, no Rio Sena, um dos maiores ícones da Europa e o principal de Paris.
A rota começará em Pont d'Austerlitz e irá até Pont d'Iéna, passando ao lado de pontos turísticos como a Catedral de Notre-Dame, o Museu do Louvre e a Place de la Concorde. Ao longo da rota haverá intervenções artísticas.
Estima-se que 600 mil pessoas assistirão pessoalmente à cerimônia, praticamente 10 vezes mais do que seria possível em um evento tradicional em estádio. Cerca de 10 mil conseguirão assistir pagando ingressos nas margens inferiores do Sena e outras centenas de milhares poderão acompanhá-la das margens superiores de forma gratuita.
A missão de garantir a segurança nesta gigantesca festa sobre um rio e na presença de atletas e chefes de Estado de todo o mundo, é um verdadeiro quebra-cabeças para a organização. O desfile das delegações será feito em mais de 160 barcos por um percurso de seis quilômetros até os jardins do Trocaderó, que receberá a parte final da festa. Segundo os organizadores, a velocidade programada para os barcos é de 9 km/h.
Recentemente, a organização fez um mini-ensaio, onde a frota total era composta por 57 barcos, dos quais 39 representavam as delegações, um pouco menos da metade dos que estarão na cerimônia, e outros 18 da organização (assistência, primeiros socorros), além da Olympic Broadcasting Services (OBS), geradora oficial da transmissão dos Jogos Olímpicos.
E a tocha olímpica?
Como parte das comemorações pela data marcada por essa quarta (26), o Comitê Organizador de Paris divulgou o design da tocha olímpica dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2024 que vão acontecer na capital francesa. Na apresentação, o designer Mathieu Lehanneur, responsável pela criação da tocha, destacou que ela foi criada baseada em três pilares: Paris, igualdade e paz.
No mês passado, já foi anunciado o percurso que a tocha olímpica fará no tradicional revezamento pelo país-sede, marcado para começar em 8 de maio, em Marseille, sul da França. A chama olímpica também vai passar por 65 territórios até chegar à Paris, em 26 de julho. Seguindo a tradição, a tocha será acesa em Olímpia, na Grécia, passará por Atenas e seguirá para a França.
Além das 400 cidades francesas por onde vai passar, a tocha olímpica também vai atravessar os Oceanos Atlântico, Índico e Pacífico, para chegar aos territórios ultramarinos que pertencem à França. São eles: Martinica, Guadalupe, Polinésia Francesa, Reunião e Guiana Francesa — que faz fronteira com o Brasil.
Mobilidade
Desde que o projeto olímpico de Paris foi divulgado, uma das questões fundamentais para os organizadores era a mobilidade. Segundo informações do COI, 100% dos atletas treinarão a menos de 20 minutos da Vila Olímpica, e 60% deles trabalharão dentro do principal local em que residirão os atletas. Além disso, 85% deles serão acomodados a menos de 30 minutos do local da competição. Precisando entregar as obras até junho de 2024, a cidade terá menos de um ano para finalizar as estruturas e melhorar as condições viárias e metroviárias.
— O primeiro dia em que cheguei à cidade percebi que o trânsito estava caótico. Perguntei para o taxista se era sempre assim e ele disse que, de uma maneira geral, sim. Mas está mais forte agora pela quantidade de obras na cidade para os eventos esportivos dos próximos meses. A cidade está meio caótica em alguns pontos e andar de carro em dia de semana é algo que não faço nem que seja de graça. No entanto, agora em agosto várias linhas vão fechar em alguns pontos em função das Olimpíadas — explica o brasileiro Matheus Bebber, professor na Université Paris-Nanterre, que reside em Paris.
Dividindo os principais centros esportivos em dois núcleos, o Paris Centre e o Grand Paris, os organizadores garantem que ao menos 22 dos esportes que compõem a competição estarão localizados em um raio de no máximo 10 km de distância.
Mais do que isso, o plano exalta a malha metroviária de Paris e prevê que, até 2024, 100% dos espectadores poderão chegar a qualquer um dos jogos usando transportes sustentáveis.
Atualmente há uma corrida contra o tempo para que a linha 14 do metrô chegue até a vila olímpica de Saint-Denis. O presidente da RATP (rede de transportes parisienses), o ex-primeiro-ministro Jean Castex, afirma que tudo estará "pronto" em junho de 2024.
Infraestrutura
Paris deseja ser a cidade olímpica da sustentabilidade. A ideia do Comitê Organizador Local e do Comitê Olímpico Internacional é aproveitar vários pontos turísticos da cidade como cenário para jogos e competições. De acordo com a organização do evento, 14 locais excepcionais compõem um conceito compacto, com 24 esportes olímpicos (de 32) localizados a 10 km da Vila. Dentre estes pontos estão o Grand Palais, a ponte Alexandre III e o Hôtel National des Invalides.
— Ao usar 95% de locais existentes ou temporários, optamos ativamente por minimizar nosso impacto ambiental. Reduzir o número de novos projetos de construção significa que somos capazes de restringir significativamente a pegada de carbono e dar o centro do palco à riqueza da arquitetura francesa, transformando os marcos mais impressionantes de Paris em arenas esportivas — argumentou o COI quando sugeriu tais utilizações.
Como exemplo, somente a região em volta da Torre Eiffel deve receber a maratona, a marcha atlética, o triatlo e o vôlei de praia, cuja quadra será montada provisoriamente no Champ de Mars, o "gramadão" logo atrás do monumento. Para não prejudicar as visitas turísticas, esses espaços devem ser construídos no início do verão de 2024.
As maiores estruturas que precisaram ser construídas do zero foram o Parque Aquático e a Vila Olímpica, na vizinha Saint-Dennis. A cidade já abriga o Estade de France, que recebeu a Copa do Mundo de 1998 e receberá as provas de atletismo. A estrutura dos esportes aquáticos, com a exceção da natação, deve ser entregue ainda este ano — segundo o representante do comitê, Jonathan Firpo, não há previsão de atraso na entrega das obras.
A vila, onde grande parte dos atletas estará hospedada, será localizada a cerca de 7 km ao norte do centro de Paris e a menos de 5 minutos do Stade de France. Lá será o epicentro do projeto Paris 2024. O local inclui três áreas principais: a Praça da Vila Olímpica, uma zona internacional aberta ao rio Sena, uma área residencial em torno da Cité du Cinéma e uma área operacional ligada às redes rodoviárias.
O presidente do COI, Thomas Bach, esteve nas instalações da Vila Olímpica e provocou uma cena engraçada, quando chegou a sentar em uma das camas dos quartos do local. Aproveitando a presença do mandatário, a imprensa o questionou sobre uma das maiores polêmicas da Vila: a questão do ar-condicionado.
A capital francesa, assim como muitas europeias, teve um verão bastante intenso, chegando a ter 43 graus celsius em julho do último ano. No entanto, os organizadores dos jogos decidiram não instalar aparelhos de ar-condicionados na Vila, pensando em diminuir a emissão de carbono dos Jogos.
— A comissão organizadora tem feito grandes esforços e tomado muitas medidas para que os quartos tenham uma temperatura mais amena, diminuindo seis ou mais graus em relação à temperatura externa — argumentou.
Como vai ser a participação russa?
Uma das grandes questões da Olimpíada é se russos e bielorussos estarão nas disputas das competições. Na última semana, Thomas Bach afirmou que a liberação da participação dos dois países nos Jogos de Paris dependerá do comportamento dos atletas em competições internacionais. Embora tenha recomendado a reintegração aos organizadores de campeonatos, o COI tem adiado a decisão sobre permissão para a Olimpíada.
— O momento é mais de monitorar a situação, de avaliar se as regras estão sendo respeitadas, se as condições estão sendo respeitadas por todos. É cedo para tirar conclusões, temos a responsabilidade de não punir os atletas pelos atos de seus governos — argumentou.
O COI, oficialmente, ainda não enviou um convite a Rússia e Belarus, mas prometeu se posicionar sobre o caso "no momento oportuno". Por enquanto, o COI recomendou às federações internacionais que reintegrem em suas competições os atletas russos e bielorrussos, desde que estes não tenham apoiado ativamente a guerra que acontece na Ucrânia desde fevereiro de 2022. Além da neutralidade, é exigido que os competidores não tenham vínculos com instituições militares, algo bastante frequente entre atletas russos.
A presença deles pode causar um outro problema para a organização dos Jogos. Existe, internamente, no Comitê Organizador Local, uma preocupação de boicote de países como Ucrânia e outras nações, em forma de protesto.
Diante de tal cenário, encontros de russos e bielorussos com ucranianos têm gerado desconforto no mundo do esporte. Em Wimbledon, a tenista ucraniana Elina Svitolina se recusou a apertar as mãos de adversárias da Rússia e de Belarus.