A mulher que foi sequestrada com Marcelinho Carioca no início da semana se chama Tais Alcântara de Oliveira. Ela afirmou em entrevista ao portal G1 que foi obrigada a gravar um vídeo com o ex-jogador de futebol e apontar o ex-marido, Márcio Moreira, como mandante do crime.
Ela é funcionária da Secretaria de Esportes de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, da qual o ex-jogador foi secretário até janeiro de 2023. Ambos foram sequestrados no domingo (17) e encontrados pela polícia na segunda (18), após uma denúncia anônima que apontou a casa usada pelos criminosos.
— Eu não tenho nenhum relacionamento com o Marcelinho. Nunca tive. A nossa relação é de amizade mesmo. Eu estou separada do Márcio. A gente mora em casas separadas, não estamos convivendo, apesar de que ainda não saiu o divórcio. A gente continua ainda casados no papel — explicou Tais.
Ela contou sobre os momentos do sequestro na entrevista, na qual estava ao lado de Márcio, que detalhou sobre ter sido acusado pelo crime e ter o nome e fotos repercutidos na internet.
Entrega dos ingressos
Horas antes do sequestro, Marcelinho tinha ido ao show do cantor Thiaguinho, em Itaquera, zona leste de São Paulo. Tais viu a publicação do amigo nas redes sociais e mandou mensagens pedindo ingressos para o outro dia.
— (Queria ver) se ele conseguia uns convites para o domingo, e aí falou que só conseguia levar para mim se fosse à noite, porque no outro dia ele tinha outra coisa para fazer. Eu falei que não tinha problema. Ele me ligou quando estava chegando e desci para pegar os ingressos — lembra Tais.
A abordagem no sequestro
Ela entrou no carro de Marcelinho, um veículo de luxo, por causa do receio dele em ficar parado no bairro, de acordo com sua versão.
— Ele não queria ficar parado (no bairro). Ele ia passar as coordenadas do show, qual o portão eu poderia entrar, com quem eu iria falar. A gente deu uma volta de carro no quarteirão e, assim que a gente estava chegando, ele avistou três caras vindo em direção ao carro. Eu falei que eu ia sair (do carro) e ele disse para eu esperar, mas eu abri a porta e os caras já nos abordaram falando para colocar a mão na cabeça — disse.
Tais ainda contou que Marcelinho desceu do veículo e explicou que era ex-jogador de futebol.
— Os caras não acreditaram. Colocaram ele dentro do carro e deram uma coronhada nele. Me colocaram no banco de trás, apontando o revólver para a minha cabeça — complementou.
O cativeiro
Marcelinho e a amiga foram levados a uma casa e deixados olhando para uma parede. O grupo oferecia água, comida e acompanhava quando as vítimas queriam ir ao banheiro.
— O tempo todo eles pediam só para passar senha de PIX, essas coisas. Eles pegaram meu celular, provavelmente devem ter olhado o banco e vendo que não tinha saldo, e estavam mais pedindo para o Marcelo. Ele falou que era ex-jogador e eles começaram a investigar nas redes sociais — explicou.
A amiga ainda disse que vasculharam as redes sociais dela e do ex-marido, buscando entender quem eram e se havia alguma forma de tirar dinheiro deles.
— A todo momento falavam que iam nos libertar, que era pra gente aguardar um pouco — contou Tais.
Vídeo fake
Os sequestradores fizeram os dois gravarem um vídeo, segundo a vítima. Nele, Marcelinho diz que a conheceu em uma festa e seria uma mulher casada, e que o marido teria descoberto a suposta traição.
— O helicóptero começou a sobrevoar e eles começaram a se desesperar e falando que "moio para eles", que a casa caiu. Receberam um áudio de uma pessoa falando que era para fazer um vídeo fake, porque se a casa deles caiu, que a nossa tinha que cair também. Então, que era para inventar uma história do marido que sequestrou, que saiu com mulher casada. Uma pessoa ficou atrás segurando a coberta e outra ficou apontando a arma — afirmou a amiga.
Pagamento e resgate
Transferências bancárias foram feitas para contas de criminosos. Enquanto isso, um policial militar suspeitou de um carro de luxo parado no bairro e pesquisou sobre o dono, quando chegou ao sócio de Marcelinho.
Horas depois, denúncias anônimas apontaram à Polícia Militar o endereço do cativeiro. Os policiais entraram no local, onde existem várias casas, e encontraram Marcelinho e Tais em um dos cômodos.
— Quando o policial chegou, fiquei chorando eu estava em choque de ver que aquilo estava realmente acontecendo, porque não são todos que conseguem sair de uma situação dessa vivo — comentou.
Na terça-feira (19), a Polícia Civil indiciou seis pessoas por sequestro, extorsão, formação de quadrilha, roubo, lavagem de dinheiro e receptação. Quatro estão presas e duas sendo procuradas. A Divisão Antissequestro (DAS) de São Paulo investiga o caso.
— Estou evitando olhar as redes sociais. Já estou traumatizada com tudo que aconteceu, então não quero ficar mais traumatizada. As pessoas têm de começar a rever que existe uma família por trás, que existe uma vida por trás. Elas acabam te criticando, colocando você numa situação que você não é — desabafou Tais, sobre trauma após o sequestro.
Ex-marido falou sobre a situação
Márcio Moreira, autônomo e ex-marido de Tais, contou que foi avisado pelo filho sobre o desaparecimento dela na mesma noite do sequestro.
— Achei estranho, porque a Tais nunca fez um negócio desse (desaparecer). Eu estava me preparando para ir para São Paulo, porque eu faço vendas. Fui para a casa para ficar com eles e estava vendo que estava acontecendo uma coisa estranha. Comecei a ficar preocupado. Fiz algumas ligações e não tive êxito — lembrou.
Sem respostas da ex-mulher, Márcio decidiu divulgar uma foto dela nas redes sociais e comunicar sobre o desaparecimento.
— Quando eu publiquei a foto dela, mais ou menos umas 11h30min, começou a chover comentários. Parece que em questão de instantes minha vida virou do avesso. Foi quando descobri que ela estava no cativeiro e o pessoal começou a mandar mensagem, inclusive pessoas me xingando. Pessoas que eu nem conheço. Foi um transtorno pra mim total — contou Márcio.
Após o vídeo divulgado, no qual Marcelinho e Tais falam sobre o crime ter sido premeditado pelo ex-marido da mulher, Márcio passou a ser atacado pelas redes sociais.
— A gente sabe a minha índole. Aqui na cidade onde eu moro eu fui abraçado de uma forma inexplicável, porque ninguém apoia pessoas do mal, ninguém apoia bandido, e, sabendo da minha índole, fui super bem tratado nas delegacias. Já sabiam que eu não tinha nada a ver. Para você ter noção, eu estou há três dias sem trabalhar. A gente pode sair e vem um louco aí e confunde a gente: "olha o menino ali, o sequestrador. Pode fazer maldade" — destacou Márcio.